Philipp Plein abre loja no Brasil

Momentos antes de inaugurar seu primeiro ponto de venda no país, o designer alemão fala sobre sua trajetória e expectativas.


O designer Philipp Plein e sua nova loja no Rio de Janeiro.
Philipp Plein. Foto: Divulgação



Philipp Plein não se considera diferente de ninguém. As várias notícias que o enquadram como um outsider da moda, ele diz, são reproduções de um sistema elitista avesso a novatos e à quem mais julgar inapto ou impróprio para fazer parte daquele clubinho. “É uma percepção da indústria, os consumidores não me vêem dessa forma, me enxergam como qualquer outra marca de luxo”, diz ele.

O designer alemão de 44 anos está sentado num café no centro de um corredor do shopping Village Mall, no Rio de Janeiro, onde acaba de abrir sua primeira loja no Brasil. O ponto de venda em território nacional era uma ideia antiga e não exclusivamente ligada aos negócios. “Minha ex-mulher (Fernanda Rigon, atual diretora da Philipp Plein no Brasil) é brasileira e meu filho nasceu aqui”, diz ele.

Há 11 anos, pouco antes da chegada do menino, hoje com 9, Philipp veio para o Brasil para conhecer o país da futura mãe e estudar o mercado local. “Era um sonho, queria que meu filho pudesse ver de perto e se orgulhar do que o pai dele faz”, comenta. Porém, as taxas de importação mais todos os custos envolvidos na operação não valiam a pena. “Perderíamos dinheiro se abríssemos naquela época.”

Modelos com look da coleção resort de Philipp Plein, em sua primeira loja no Brasil.

Foto: Divulgação

Em 2021, uma série de novas parcerias e licenciamentos deram uma guinada nos negócios com a ampliação e potencialização dos canais de distribuição da marca. No ano seguinte, veio um investimento pesado nas plataformas digitais, com destaque para os NFTs e metaverso. A etiqueta foi uma das que adotou mais rapidamente pagamentos com criptomoedas em todas suas lojas – físicas e online. No Brasil, só falta a aprovação de uma lei sobre o assunto para que o modelo seja implementado.

Com fluxo de caixa consistente e bons retornos financeiros (a empresa não abre seus números), a conta para viabilizar os trabalhos por aqui deixou de ter resultado negativo. “Fernanda viu esse ponto disponível no shopping, começou a insistir, dizia que era um bom negócio até que me convenceu”, relata Philipp.

O resultado é um espaço de 70m2, no bairro carioca da Barra da Tijuca, que traduz os valores da marca por meio de uma paleta de cores cromáticas e materiais luxuosos. Por enquanto, estão disponíveis por lá só as peças da linha homônima do estilista. A ideia, dependendo da resposta dos consumidores, é trazer outras mais premium. E ao longo de 2023, a previsão é de mais três lojas no Brasil.

Modelos com look da coleção resort de Philipp Plein, em sua primeira loja no Brasil.

Foto: Divulgação

Com uma camiseta preta decorada com um zíper prateado na lateral, calça justa da mesma cor, com recortes e bolsos também marcados pelos mesmos tipos de zíperes, Philipp é criador e musa ao mesmo tempo. A empresa que fundou em 2004 e administra bem de perto, evitando qualquer tipo de interferência externa ou opiniões dissonantes, é fruto de um estilo de vida sonhado e conquistado pelo próprio.

“Não tem como ser diferente, somos os resultados das nossas experiências, das novas vivências”, opina. No seu caso, essa história inclui o crescimento numa família de classe média, a partir do segundo casamento de sua mãe. Seu pai biológico era alcoólatra e a agredia com frequência até que a matriarca decidiu colocar uma basta na situação e se mudar com os filhos.

Quando tinha uns 16 ou 17 anos, começou a trabalhar ilegalmente em um bar, conheceu uma garota mais velha que logo virou sua namorada e passou a se interessar bem mais pela noite, pelas festas do que pelos estudos. Não durou muito. Quando a mãe percebeu que Philipp não dava as caras na escola há dias, decidiu transferi-lo para um colégio interno. “Lá, era tudo bem rígido, disciplinado. Todo mundo de uniforme, bem arrumado, cabelos penteados. E eu tinha cabelo longo, fazia alguns trabalhos como modelo… Mas ainda não tinha nenhuma tatuagem”, diz, mostrando os braços quase todos desenhados.

Modelo com look da coleção resort de Philipp Plein, em sua primeira loja no Brasil.

Foto: Divulgação

Já que estava lá, tentou se encaixar. Pediu dinheiro para mãe, foi a uma barbearia e voltou com os cabelos curtos, igual aos dos demais colegas. Deixou as roupas dos bares, clubes e festas de lado, e adotou a combinação sóbria de blazer, camisa, gravata e calça de alfaiataria. Tudo em tons meio apagados. “Surtei. Me olhava no espelho e não me reconhecia, fiquei perdido, sem saber quem eu era. Foi naquele momento que percebi a importância de ser quem você é. Por mais difícil que seja, vale mais a pena do que tentar se moldar ao que esperam de você.”

O designer usa sua história para explicar por que sempre diz não às ofertas que recebe de grupos e investidores interessados em comprar sua empresa. “Não quero perder minha liberdade para um executivo que não sabe nada sobre mim, sobre minha marca, só pensa em números e vê o criador como uma ferramenta de marketing.”

Ele ainda aproveita o que contou para fazer uma analogia sobre como boa parte da indústria da moda o enxerga. Para Philipp, há uma grande resistência e rejeição do meio, da mídia e “dos fashionistas”, em suas palavras, devido a sua origem e estilo. De fato, não é um visual dos mais criativos ou inovadores. Mas é um que vende e tem apelo para muita gente com experiências ou sentimentos similares. Ou simplesmente que não ligam para o que há de mais novo ou comentando pelo métier.

Celebridades e o estilista Philipp Plein na inauguração de sua loja no Brasil.

Foto: Divulgação

Os vestidos curtos estampados ou cobertos por brilhos, os justos recortados e com ombros marcados, as calças skinny masculinas e as jaquetas de couro com cara de motoqueiro bad boy de luxo, são peças no topo da lista de desejo de muita gente. E, por ora, tudo uns 30 ou 40% mais barato do que as outras grifes internacionais. É que Philipp decidiu absorver alguns custos para tornar seus produtos mais atrativos e ganhar tração localmente. Afinal, seu nome é bem menos conhecido do que outros que já estão aí por mais de décadas.

Ainda assim, sua capacidade de engajamento é notável, vide os desfiles espetaculosos e associação com celebridades e influenciadores. Quem quiser tirar a prova, é só olhar os comentários nas fotos postadas nas redes sociais durante a festa de lançamento, na noite de sexta-feira (16.12), com presença de Jade Picon, Leo Picon, Ludmilla, Luciana Gimenez, Rafa Kalimann e Suzana Gullo, e shows dos cantores Buchecha e Xamã.

Como diz o ditado, em time que está ganhando não se mexe. Gostem ou não. Philipp, ao que parece, não se importa.

O editor Luigi Torre viajou para o Rio de Janeiro a convite da marca Philipp Plein.

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