Por dentro do camarote da moda: projeto exalta ancestralidade

Camarote do Grupo SOMA, com a participação da ELLE, tem concepção visual de Gringo Cardia e obras dos artistas J. Cunha e Moara Tupinambá.


ambiente azulado com luminarias redondas e flores na parede do projeto do camarote do grupo soma
Entrada no térreo do camarote.



Um convite para uma viagem visual e um mergulho cultural: esse é um pequeno spoiler do artista e arquiteto Gringo Cardia sobre o que o público vai encontrar no camarote do Grupo SOMA, que vai agitar o carnaval do Rio de Janeiro, com a participação da ELLE. Nos dias 19, 20 e 25 de fevereiro, os convidados vão poder curtir os desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí e as atrações exclusivas do camarote da moda, que promete ser o espaço mais fervido da folia.

Responsável pelo projeto do espaço, Gringo Cardia seguiu um ritmo diferente dos tradicionais camarotes do sambódromo: as marcas aparecem pontual e elegantemente abrindo alas para uma experiência imersiva nas obras dos artistas convidados – o baiano J. Cunha e a paraense Moara Tupinambá.

“Os dois foram escolhidos porque revelam de maneira intrínseca em suas obras a ancestralidade afro-brasileira e as raízes indígenas, mas sob um viés contemporâneo”, explica o arquiteto. Gringo fez uma seleção entre os trabalhos já existentes dos dois artistas, que foram reproduzidos em painéis de escalas ampliadas e em repetições.

fahcada do camarote do grupo soma colorido e iluminado

Fachada do camarote do Grupo SOMA.

“Do J. Cunha trouxemos essa intersecção plural entre a raiz africana, o sertão e o tropicalismo. O resultado é vibrante: um universo mítico, cultural e mágico. A Moara Tupinambá tem uma representação única, uma indígena ativista que traz essa reafirmação identitária em suas obras. Além disso, ela evoca o feminino, o pensamento anticolonial e coloca a mulher brasileira no foco.” Por meio das vivências dos dois artistas, as obras selecionadas exaltam a alegria, a beleza carnavalesca, a africanidade, os povos ancestrais e, ao mesmo tempo, a biodiversidade brasileira e toda sua infinita cartela de cores.

Os convidados farão essa imersão na exuberância estética e cultural do Brasil em todas as áreas espalhadas pelos três pavimentos do camarote. Desde a varanda, no térreo, onde poderão acompanhar de pertinho o desfile das escolas até as salas interativas, no segundo piso, onde também vão ficar os espaços exclusivos da ELLE: o primeiro para um shooting total glam com as peças das marcas do Grupo Soma e outro para a captação de um fashion film instagramável. A seguir, conheça um pouco mais sobre os artistas por trás da concepção visual do camarote da moda na Sapucaí

Quem é Gringo Cardia

Gaúcho, mas com formação carioca (na UFRJ), o artista sempre esteve conectado ao universo artístico e desenvolveu uma linguagem própria, que alcança desde o teatro e os espetáculos de dança e shows até as manifestações da cultura popular. Como cenógrafo, já assinou projetos de repercussão mundial, como a direção de arte do espetáculo OVO, do Cirque Du Soleil, além de produções visuais para grupos de cultura pop, como o Afroreggae, no Rio de Janeiro. Todo esse repertório, Gringo usou no projeto para do camarote do Grupo SOMA. 

“Eu considero o carnaval o maior espetáculo visual do planeta, além de uma expressão da cultura estética do Brasil e suas raízes africanas. Essa festa começa nas escolas de samba, uma das maiores representatividades da cultura afro-brasileira. Nesse âmbito, coexiste também a raiz indígena, baseada no homem e na natureza. É este recorte – ancestralidade e povos originais –, que está no radar de todas as esferas, no governo, na tecnologia, no desenvolvimento. Como sempre, a moda vem trazer a linguagem visual para a teoria. É isso que fizemos nesse projeto”, explica.

Quem é Moara Tupinambá

Indígena Tupinambá hoje radicada em Campinas (SP), Moara é uma artista multiplataforma e aplica colagem, desenho, pintura e fotografia em suas obras, que evocam a cultura e a resistência dos povos originários. Com uma verve poética, ela reforça identidade, ancestralidade e o feminino. Esse mix cultural vai ser visto por meio da série Mirasawá, que une memória e futurismo e foi a inspiração para os painéis do camarote da Sapucaí. “Acredito que, como artista indígena influenciando o modo de pensar a moda e o carnaval, posso gerar também uma transformação social e de novos pensamentos. Meu trabalho valoriza a cosmologia indígena, a luta travada por nós, povo originário, em defesa da Mãe Terra.

corredor do camarote do grupo soma com flores pintadas nas paredes

Entrada do segundo pavimento.

As colagens trazem a beleza dos nossos parentes do universo: as plantas, as flores, os peixes, os pássaros. Partem do antropoceno para a valorização do que eu chamo de pluriverso”, explica. Para além da força da natureza, Moara usa suas obras para provocar a reflexão sobre o respeito e o convívio entre a sociedade humana e a fauna e a flora. A artista já participou de exposições internacionais, como a Bienal de Sydney, e realizou em 2021 a mostra solo Resurgences of Amazonia!, na galeria Kunstraum, em Innsbruck, na Áustria. No Brasil, integrou mostras coletivas no Centro Cultural São Paulo, entre outras instituições. 

  1. Quem é J. Cunha

A relevância do artista baiano para os movimentos culturais do Brasil é inegável: por 25 anos, ele assinou a estética e a concepção visual do bloco Ilê Aiyê e também o conceito de várias edições do carnaval de rua de Salvador. “Por meio das obras, eu trago a cultura popular mixada ao imaginário brasileiro de modo a aflorar a ancestralidade e as raízes brasileiras”, diz. Os símbolos e signos do trabalho de J. Cunha despertam, instantaneamente, essa memória da cultura e da origem do Brasil. “Nosso país está reflorescendo e ganhando força, como a água numa nascente. Essa diáspora, seja a ancestral, seja a contemporânea, está refletida no meu trabalho”.

A parceria com Gringo Cardia vem de outros carnavais – não à toa, a dinâmica entre os dois para o design do camarote foi orgânica. “Eu enviei algumas obras e ele selecionou as que contavam a história sobre esse encontro com nossa própria identidade e origem. Em cima disso, ele criou a ‘arquitetura da imagem’ com os efeitos visuais, interativos e imersivos projetados.”

ambiente com pinturas coloridas nas paredes do camarote soma

Salão no primeiro pavimento.

Além de vestir as alas do camarote com a força do universo afro-brasileiro, as obras de J. Cunha também viraram estampas para os abadás mais cobiçados da temporada carnavalesca no Rio de Janeiro. “A moda, a arte e o design estão em todo movimento cultural. Não há como desassociá-los”, arremata.

Atualmente, J Cunha é representado pelas galerias Nara Roesler (RJ, SP e NY) e Paulo Darzé (Salvador).

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