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Segundo a consultoria McKinsey & Company, 2020 foi um ano de bastante prejuízo para empresas de moda. Foram três trimestres de queda vertiginosa no faturamento, o que deve gerar uma perda de 90% de lucro em comparação ao ano passado (que viu um crescimento de 4%). Os efeitos, contudo, foram sentidos de maneiras bem distintas pelo mercado. É sabido que uma das piores consequências da pandemia da Covid-19 é o aumento da desigualdade – e em todos os sentidos. Enquanto algumas centenas de pequenos negócios (na sua maioria empreendimentos independentes) tiveram de fechar suas portas, outros, mais no topo da pirâmide do mercado e do consumo, conseguiram minimizar danos e ainda investir. É o caso do segmento de luxo.
Ainda que bem inferiores às vendas de 2019, roupas, acessórios, joias, cosméticos e perfumes de alto padrão são os setores com melhor índice de recuperação no varejo. O que explica porque sete entre dez fundos de investimento pretendem manter o compromisso e fluxo de dinheiro em empresas atuantes neste nicho, segundo o estudo da Global Fashion & Luxury Private Equity and Investors Survey, da consultoria Deloitte.
Fato é que o consumidor de luxo não deixou de comprar durante a pandemia – ou mais especificamente, durante os meses de quarentena mais severa. O que mudou foi o comportamento, ambiente e experiência de compra.
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O fechamento temporário do comércio acelerou processos já em andamento. O mais evidente e expressivo deles é a digitalização. Alguns e-commerces viram seu número de vendas crescer até 30 vezes mais só no primeiro semestre. A plataforma de compras online do Shopping Cidade Jardim, o CJ Fashion, por exemplo, cresceu 271,5% só neste período. O Iguatemi 365, marketplace digital do Shopping Iguatemi, adicionou 250 marcas a seu portfólio em 2020. Entre elas Mansur Gavriel, Christian Louboutin, Le Nine, Montblanc, Salvatore Ferragamo e Tod's.
A seleção de grifes internacionais não é à toa. Com fronteiras fechadas, muito consumidor de luxo se viu obrigado a realizar as compras em real, ou seja, consumir internamente (ainda que raramente de marcas nacionais). E, até o meio do ano, dentro de suas próprias casas. A antiga relação entre vendedor e cliente, então, migrou para o Whatsapp e foi responsável por grande parte das compras feitas durante aquele tempo. Pelo menos até o afrouxamento do distanciamento social.
CJ Fashion Store, no CJ Shops, em São PauloFoto: Divulgação
Vale notar aqui uma tendência bastante comum no varejo de luxo nacional. Uma prática recorrente no mercado é o envio de malas com algumas sugestões e lançamentos para a casa de clientes. As peças são selecionadas de acordo com o gosto e estilo daquela pessoa para a prova e possível compra, sem precisar sair de casa. Com a pandemia e recomendações de distanciamento social, o que era uma comodidade reservada apenas àqueles consumidores realmente fiéis, começou a ganhar ares oficiais. Foi o que garantiu fluxo de caixa para muita empresa. A diferença, agora, é que essas operações passaram a ser mediadas pelos canais e-commerces das grifes.
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Desdobramento dessa evolução se viu nas aberturas de pequenos pontos de venda ou variações de guide-shops em condomínios de luxo fora das grandes cidades, como o ponto do Iguatemi, dentro da Quinta da Baroneza, e o Boa Vista Market, na Fazenda Boa Vista, da JHSF. A ideia é oferecer conforto e privacidade para um nicho de mercado cada vez mais interessado em comprar fora de shopping centers e próximo da comodidade de suas casas.
Em seguida, veio a mais recente leva de inaugurações. Em novembro, o CJ Shops abriu suas portas no bairro do Jardins, em São Paulo. Por lá, encontram-se as primeiras lojas na América Latina de Isabel Marant, Ines de La Fressange, além da única loja masculina da Balmain no mundo. Para o ano que vem, a primeira Dior Homme no Brasil é aguardada no espaço. O e-commerce do grupo JHSF, o CJ Fashion, também tem ali um ponto físico com promessa de uma maior interação entre real e virtual.
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Do outro lado do rio Pinheiros, a Celine inaugurou seu primeiro ponto de venda nacional, no Shopping Cidade Jardim. A Zimmermann, que já era vendida na multimarcas CJ Mares, no mesmo shopping, agora tem espaço próprio, em esquema shop in shop. E, em março de 2021, a Balenciaga também iniciará suas operações no Brasil, com uma loja no JK Iguatemi.
A quarentena acelerou a implementação de novas formas de compra: mais high-tech e mais devagar (ainda bem).
Ao mostrar as suas coleções, durante a nova alta de Covid-19, Dior foi para Pequim, Chanel desfilou para uma convidada e Balenciaga criou um game.
Ao longo de quase dois meses, ELLE Brasil conversou com mais de 40 profissionais diretamente afetados pela crise da covid-19. O resultado é uma série de reportagens com relatos profundos de uma indústria desesperada por esforços coletivos.
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