Um verão diferente

O que pensam cinco criadores e donas de marcas independentes de moda praia sobre as tendências do setor em uma estação tão atípica.


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Este é um verão diferente de qualquer outro. Com os índices de contaminação pela Covid-19 aumentando na mesma proporção que as temperaturas (se não mais), há de se ter cuidado dobrado. Não vai ser um verão de aglomerações na praia, na piscina ou nas festinhas com vista para o pôr-do-sol em viagens para cenários paradisíacos – ou pelo menos não deveria ser. O que não impede aqueles momentos de relaxamento sob o sol, tranquilinha na piscina ou até mesmo na janela da sua casa. Pensando nisso, conversamos com cinco marcas independentes de moda praia sobre as tendências mais importantes desta estação.


Modelagens pequenas & tule

Tr\u00eas modelos posam ao lado de um t\u00e1xi no Rio de Janeiro.

Cosmo Rio.Foto: Kenny Hsu

Para Lúcia Hsu, da Cosmo Rio, esse verão será o das pessoas se bronzeando ainda mais. A marca, especialista em biquínis e maiôs básicos, mas com modelagens confortáveis e que abraçam o corpo, nasceu em 2017, quando o ainda não havia tantos nomes dedicados a uma moda praia minimalista. “O mercado nacional ainda era muito contaminado pela moda-praia-exportação que a gente já conhece e que não é nada confortável ou democrática. Aliás, dizem que a praia é um lugar democrático, mas no Rio de Janeiro isso não é verdade – sempre tive amigas tamanho G e lembro de como elas se sentiam inadequadas, preocupadas e, ao mesmo tempo, normalizaram esse sentimento”, explica a estilista.

Para o verão 2021, a empreendedora aposta em modelagens menores, principalmente por conta desse sentimento de autoconfiança estar se tornando cada vez mais forte. “Quem sabe até um fio dental!”, arrisca. Nas roupas que vão da praia ao asfalto, Lúcia vê no tule uma alternativa fresca e confortável para relaxar em casa e também para passar o dia inteiro na rua, de um evento a outro – quando a situação permitir, claro.

Clima retrô

Modelos na praia de Ipanema.

Loja Caê.Foto: Mariana Coropos

Uma das tendência mais importantes deste verão é toque vintage presente em muitas das coleções de beachwear. Essa é a maior aposta da Loja Caê, da carioca Ana Carolina Leandro, que aplica esse tipo de decote tanto em biquínis como em maiôs. A marca, que nasceu ano passado com vendas pelo Instagram, combina a parte de cima com uma calcinha asa delta super cavada e shape confortável.

“As marcas jovens me representam muito melhor”, explica Leandro, que também abriu o negócio próprio pela dificuldade em achar biquínis lisos e fora do padrão da moda praia brasileira. Com modelagens maiores do que suas concorrentes, a Caê tem uma grade que vai do P ao GG e é focada em um estilo mais calmo e modo de trabalho igualmente ao seu tempo – a estilista conhece todas suas costureiras e aposta em uma mão de obra mais humanizada. “A força feminina é o que rege minha grife.”

Cavadíssima

Modelo com mai\u00f4 colorido.

Thaissa Becho.Foto: @vidafodona

Quando Thaissa Becho abriu sua marca homônima, em 2016, as cavas ainda não eram assunto recorrente no beachwear – hoje, elas são a maior tendência da estação. Durante um bom tempo, a silhueta foi deixada de lado para dar espaço a modelos mais comportados, uma espécie de porto seguro para quem queria ir à praia sem receber olhares tortos. As ideias foram evoluindo e, hoje, vemos corpos dissidentes apostando em biquínis sensuais, com pele à mostra.

Desde o ano de seu nascimento apostando nessa modelagem, Becho conta que muitas pessoas a procuram falando que não se sentiam representadas em nenhum contexto da moda praia. “Sinto que o mercado ainda é muito padrão, tanto no que se deve usar e fazer quanto no comportamento de consumo”, comenta.

Os biquínis e maiôs inusitados da sua etiqueta se inspiram nos anos 1980, o que levou a estilista a fazer uma extensa pesquisa em brechós para entender essas modelagens. “Naquela década, via essa liberdade que eu procuro”, diz. Para este verão especificamente, Becho focou em tons sóbrios por conta das incertezas da época, mas sem deixar de lado detalhes em neon, que são sua marca registrada.

O vichy e o artesanato do verão

Modelos posam com biqu\u00ednis azuis.

Vou de Pipa.Foto: Pedro da Matta

“Faço um mix do que quero usar e das tendências. Neste verão, colocamos muito [xadrez] vichy, que está em alta no mundo inteiro, mas buscando nosso caminho dentro dele”, explica Maria Eduarda Rodrigues, dona da Vou de Pipa, marca de Niterói (RJ), focada em modelagens confortáveis e estampas ousadas. “Talvez por conta de tudo que a gente está passando, acredito que as pessoas vão ousar um pouco mais. Por isso, investimos bastante nos detalhes, como uma alça diferente, um tererê. Detalhes bem artesanais”, acrescenta.

A grade de tamanho estendida, um dos grandes diferenciais dos nomes independentes, veio de forma natural para a Vou de Pipa. “Existe uma carência de tamanhos maiores. Comecei com o básico P,M e G, até chegar no GG, 2G e, na próxima coleção, já teremos 3G.”

Diversidade de tamanhos como maior tendência do verão

Modelo com calcinha rosa e top vermelho.

Ernestine.Foto: Isabela Yu

“Não quero ser muito clichê, mas realmente acho que a maior tendência de moda praia é mais comportamental. Abraçar corpos diferentes tem sido uma constante entre as marcas pequena”, explica Marcela Saravy, dona da Ernestine, etiqueta baseada em São Paulo. Apesar de existir desde 2015, quando a estilista concluiu a faculdade de Desenho de Moda, foi só em 2018 que a grife ganhou sua independência – até então, era uma linha dentro da Recco, marca de lingeries do sul do país.

Apaixonada por modelagem, Marcela trabalhou com lingerie e moda fitness antes de entrar no beachwear. Na criação, a estilista pensa primeiro no que gostaria de usar, mas também consulta suas amigas, sua irmã e mulheres a sua volta para entender o que estão procurando. Com uma nova coleção de biquínis lisos e formas confortáveis, a Ernestine veste de 34 a 48 – e pretende aumentar sua grade nos próximos drops.

Neste verão tão incomum, faz sentido que a maior tendência de moda não seja sobre roupas, mas sobre aumentar o leque de quem as vestem. “As marcas precisam se preocupar cada vez mais com quem elas estão vestindo e como elas estão vestindo essas pessoas”, conclui a estilista.

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