Literatura, moda e semiótica: a santíssima trindade de Renata Buzzo
Em sua segunda participação na SPFW, a estilista continua investigando a ligação entre a palavra e a moda.
“Essa coleção nasceu a partir de um texto escrito por mim no dia daquele evento astronômico do ano passado, sabe?”, pergunta Renata Buzzo, durante conversa com a ELLE. Ela se refere à conjunção entre Júpiter e Saturno. O ponto de partida em questão não é bem uma novidade quando se trata da estilista. Entusiasta da literatura, Renata tem a escrita como parte essencial de seu processo criativo. “Tem uma frase da Frida Kahlo, que é ‘pinto a mim mesma porque sou o assunto que conheço melhor’. Acredito muito nisso. Na minha criação, falo sobre mim e sobre as minhas vivências e ideias”, comenta.
O seu processo é íntimo e, às vezes, um tanto dolorido. Nesse caso, por exemplo, o texto em questão pensa nos dois planetas como figura de linguagem para descrever um relacionamento de matérias distintas. Pode parecer complicado, mas Júpiter e Saturno, embora estejam lado a lado, têm evoluções quase opostas e, quando finalmente se alinham, acabam protagonizando um evento raro. São justamente esses encontros e desencontros que Renata decidiu explorar.
“Usei os quatro elementos da natureza para descrever as características dos indivíduos”, explica ela. Ou seja, terra, água, ar e fogo têm suas devidas importâncias nessa conversa. Inspirada por vistas aéreas, a paulista desenvolveu superfícies têxteis semelhantes à quadrados de terra, enquanto os demais elementos podem ser vistos na cartela de cores. As silhuetas mais parecem com espantalhos, o que também não é mero acaso. A ideia de uma figura oca, sem órgãos e estático inspira as mangas exageradas e as formas propositalmente desajeitadas das peças.
Há ainda referências à era de aquário. Muito relacionada às conjunções astronômicas, o conceito é o responsável pelo perfume setentista observado. Nesse ponto, a mistura de simbologias da coleção já está clara e Renata, como uma fissurada por semiótica, parece gostar disto. “A minha roupa não é de fácil leitura. Se eu não explicar, pode ficar confuso. Mas, talvez, essa confusão já seja uma identidade e eu quero isso”, afirma. Entretanto, se antes aparentavam ser quase impossíveis, agora, esteticamente, as suas peças escolhem um caminho mais real, sem abandonar o minucioso trabalho manual da marca.
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