Seis marcas independentes para ficar de olho

De roupas repletas de brilho a acessórios e alfaiataria, apresentamos algumas grifes autorais para conhecer já.


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Carneiro Studio Foto e styling: @carneirogs | Beleza: @ohmygadstyles | Modelo: @matheuscampoz



O ano pode estar acabando, mas as novidades não param, muito menos a criatividade da nova safra de estilistas e designers independentes que vêm surgindo na moda nacional. Aqui, você conhece mais seis nomes para ter no seu radar fashion em 2021. Confira a seguir:

HK Hana Khalil

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HK Hana Khalil.

Foto: @luiza_ananias | Beleza: @barbarafigueiredo | Modelos: @jamile__lima e @annanunes

Nascida em Belo Horizonte, Hana Khalil descobriu a moda de uma forma despretensiosa, por meio de sua avó materna. “Ela me ensinou muito sobre arte e, como também amava artesanato, me transmitiu técnicas de crochê e tricô, além de me motivar a abrir minha marca”, conta a designer de 26 anos. Sua formação, contudo, é em direito. Ao longo da vida, porém, fez alguns cursos voltados para criação em escolas renomadas, como a Central Saint Martins, em Londres.

Do desejo de expressar essas paixões criativas surgiu sua marca homônima, em 2016. “Da música a uma tela, todas as inspirações vêm a partir da arte. Essa é a essência de tudo”, explica. As fibras naturais, como a seda, linho e algodão, são alguns dos principais materiais que compõem as peças. Os lenços e panneaux são os hits da grife e funcionam como telas em branco para Hana, que aproveita sua nova coleção para lançar um sapato em parceria com a Nuu Shoes, o primeiro de uma nova série que está por vir. “Acredito muito nas colaborações, é como conseguimos nos conectar, unir forças e princípios com outras marcas e pessoas”, diz Khalil.

Carneiro Studio

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Carneiro Studio.

Foto e styling: @carneirogs | Beleza: @ohmygadstyles | Modelo: @matheuscampoz

“A Carneiro foi uma forma de criar uma ruptura nessa parede racista tão imensa que o mercado de moda levantou para nós, junto de tantos outros negros que também estão no corre”, conta Gabriel Carneiro, sobre sua etiqueta, lançada em abril de 2020. “Quero ser uma marca de mudança, que usa o vestuário para fazer transformações efetivas de forma intelectual e comercial, sem deixar de fazer roupas fodas”, completa.

Nascido e criado em São Paulo, o estilista de 25 anos se apaixonou cedo por moda, também ao observar sua avó. “Ela era a mulher mais chique do mundo, mesmo morando na periferia, sem todos os acessos luxuosos”, relembra. “A partir daí, comecei a fazer vestidos para as minhas primas e tias, testemunhas de Jeová, irem às reuniões e, consequentemente, para todos os eventos especiais delas. Foi uma boa escola.” Quando terminou a faculdade de publicidade na PUC-SP, em 2015, trabalhou como stylist e assinou trabalhos para artistas como Linn da Quebrada, Rincon Sapiência e Liniker, além de desfiles e editoriais de moda.

Na Carneiro Studio, Gabriel se inspira em sua própria vivência, nas memórias de família, nos amigos e em tudo o que acontece dentro e fora da comunidade negra. Nas coleções e drops individuais, destacam-se shapes que se adaptam ao corpo e materiais como malha, sarja, linho e courino. Com preço médio de R$ 250, ele está trabalhando em duas collabs e uma linha para casa, previstas para os primeiros meses de 2021.

Otília

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Otília.

Foto: Divulgação

Otília Mafre sempre foi louca por acessórios, especialmente aqueles mais diferentões e com design autoral. O desenho também é uma paixão antiga e cultivada desde a infância, em Manaus, sua cidade natal. “Eu era doida por Barbies, mas sempre queria trocar a roupa delas”, conta. “Aí, minha mãe me ensinou umas modelagens básicas para fazer com retalhos de tecidos e acabei me interessando por isso. Inventei um modelo base de vestido que eu conseguia fazer sem guia e o vendia nas escola por 1 real.”

A vontade de aprimorar o desenho a aproximou da moda, e a ideia de se profissionalizar veio aos 16, quando entrou na faculdade de moda em São Paulo. “Logo que me formei trabalhei em várias áreas como freelancer, para decidir o que queria”, fala. Enquanto experimentava, começou a criar alguns brincos e inscrevê-los em concursos de design. “Já tinha recebido várias mensagens pedindo que eu os vendesse, mas nunca levei para frente, pois trabalhava em outro lugar.” Com a pandemia, mudou de ideia. “Sabia que esse ano seria difícil de fazer roupas, então resolvi produzir esses brincos que já tinham sido vistos”. O sucesso foi tanto que ela fez diversas reposições e partiu para a criação de novos modelos, passando a se dedicar exclusivamente a isso.

“Gosto de criar com volume, com linhas orgânicas e sempre em camadas”, explica. “No meu processo criativo junto imagens, conceitos, frases e texturas que criem um mood único e, a partir dele, vou testando formas e combinações.” Variando o metal em diferentes banhos, Otília segue um mesmo processo de lançamento: “a cada 45 dias lanço um modelo ou dois. Quem sabe, com o crescimento da marca esse período encurte, mas, por enquanto, é o tempo que preciso para o processo criativo, testes, pilotos, produção, etc.”

Estúdio Nuda

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Estúdio Nuda.

Foto: Gustavo Delgado | Beleza: Pedro Calderaro e Gabriel Nunes | Modelo: Tati Ang

Uma marca de roupas exclusivamente em branco. Essa é a proposta do Estúdio Nuda, de Bruno Sales. “Além do olhar para a sustentabilidade, uma vez que o tecido branco requer menos processos químicos de tingimento, é atemporal e pode durar mais, também há uma questão sentimental com o tom”, explica o mineiro radicado em São Paulo. “Isso começou quando descobri o livro The White Book, da autora coreana Hang Kang. A partir dessa autobiografia em que ela filosofa sobre todas as coisas brancas, comecei a ter outro entendimento da cor e incorporei isso à minha produção.”

Sua jornada na moda começou quando se mudou para a capital paulista, em meados de 2016, para estudar artes plásticas. “Conforme fui entrando nesse meio, me aproximei de pessoas que já estavam na área e acabei me interessando.” Após realizar um projeto de iniciação científica que relacionava os processos criativos de Hélio Oiticia e de Yoji Yamamoto, Sales passou a produzir alguns figurinos em caráter experimental. “Foi quando me encontrei e fui buscar maneiras de levar minha produção artística para esse lado da vestimenta”.

O aprimoramento técnico veio através de um curso de moda na faculdade das Américas e numa passagem pela Amapô, em 2019. “Tinha contato direto com as costureiras e modelistas, então aprendi muito com elas”, conta. “Acho que aproveitei bastante a experiência para entender melhor o fazer da roupa, assim como o lado comercial da marca.”

Cada coleção – até o momento já foram três – tem cerca de 10 peças, quase sempre inspiradas em pessoas que o tocam de alguma forma, seja por observação nas ruas da cidade e viagens pelo mundo, ou que já conheceu em algum momento da vida. “A Björk é outra grande referência, pois além de ser minha cantora favorita, ela tem vários universos que gosto de explorar.”

Todo o desenvolvimento das roupas é feito por Sales, ao lado de duas costureiras, e os tecidos planos de camisaria arrematam a maior parte das peças. Por enquanto, as vendas são feitas online, mas há planos de abrir um espaço físico no futuro. “Gostaria de iniciar uma produção totalmente sob medida”, revela.

Cassius

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Cassius.

Foto: Anthenor Neto | Intervenções gráficas: Marcelo Stockler

Após 10 anos à frente da multimarcas paulistana Choix, Rubens Gomes e Marcio Ribas lançam a Cassius, primeira marca própria da dupla. “O nome é uma homenagem ao nosso mascote, um cachorro da raça whippet”, explica Gomes. “Cassius era um desses animais que mudam o ambiente e o transformam em um lugar mais acolhedor, então achamos que ele merecia uma homenagem assim”, completa.

A vontade de ter uma marca jovem surgiu conforme o público da Choix foi se transformando ao longo dos anos. “Sentimos que era hora de dialogar com esse novo perfil e a Cassius nasce dessa vontade”, conta Gomes. O projeto também tem colaboração do estilista Tom Martins, da Martins. “Queríamos alguém com um olhar novo e fora da zona de conforto para entrar nesse novo desafio conosco”.

A label também tem um lado social e parte das vendas será sempre destinada a ONGs que cuidam de animais, começando pelo MOVE Institute.

A primeira coleção é composta por polos, camisas, calças, shorts e acessórios. como bonés e lenços. Moletom, tricoline, seda e algodão são os tecidos mais utilizados, mas o jeans também estará sempre presente, ao lado de materiais sustentáveis e tecnológicos. Já os shapes, partem do conceito easy to wear, com modelagens amplas e confortáveis, com atenção especial à alfaiataria. “Queremos ser uma marca bem dinâmica e acompanhar o novo momento”, diz Gomes. “A ideia é lançar duas coleções por ano, mais alguns drops e collabs no intervalo delas, além de edições especiais de peças com 100% dos lucros revertidos para ONGs”.

Paeteh

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Paeteh.

Foto: Guilherme Nabhan| Beleza: Cabral |nModelo: Natasha Princess

Resultado da paixão pelo brilho das pistas de dança e pela exuberância do Carnaval, a Paeteh surgiu em 2017 pelas mãos dos sócios Estéfano Hornhardt e Gustavo Pinhal. “Sempre fomos muito ligados às épocas festivas do ano e, como nossas fantasias e looks faziam muito sucesso, percebi que esse poderia ser um grande nicho de mercado a ser explorado”, explica Hornhardt, que cuida da direção criativa e desenvolvimento de produtos. Pinhal coordena o marketing e as vendas da loja online e física, apelidada carinhosamente de ´POC´ up store.

As principais inspirações para as criações são os excessos dos anos 1980, especialmente a explosão de cores, shapes e volumes. “Mergulho a fundo nos estilistas que dominaram essa década, como Claude Montana, Thierry Mugler, além de Yves Saint Laurent e Fiorucci”, diz Hornhardt, que já teve passagem pela Iódice, Daslu, Animale e Le lis Blanc, antes de abrir a própria label. “Sempre trabalhei um lado bem comercial, seguindo calendários, tendências e resultados de vendas. Acho que isso me ajudou a moldar todas as áreas do negócio, enquanto a Paeteh foi uma válvula de escape para conquistar minha liberdade criativa.”

O paetê, claro, é o carro-chefe da marca, presente em 70% das coleções. “Além disso, busco matérias primas especiais como malhas metalizadas, tecidos metálicos e lâmes”, diz o estilista. Atualmente a marca faz coleções anuais com lançamento em novembro, para aproveitar a chegada do verão. “Dentro delas vamos fazendo drops mensais inserindo novos produtos e/ou variantes”. A grife também acaba de estrear uma linha de upcycling, a Paeteh Baileh, feita com peças vintages garimpadas e retrabalhadas em diferentes materiais.

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