SPFW N59: Herchcovitch;Alexandre inverno/primavera 2025
Alexandre Herchcovitch mistura referências, vontades e técnicas variadas em desfile poderoso na SPFW N59.

Não era a ideia inicial, mas Alexandre Herchcovitch acabou escolhendo a Blue Space para apresentar a nova coleção da sua marca a Herchcovitch;Alexandre. Fundada em 1996, o espaço se tornou uma das principais casas de shows de drag queen de São Paulo. As matinês, aos domingos, eram um acontecimento – quase um compromisso religioso para muita gente. Ontem (07.04) foi segunda-feira, mas teve boate mesmo assim.
A passarela foi construída com cerca de um metro de altura, como uma extensão do palco sobre a pista. Não tinha cadeira, nem lugar marcado. Só uma separação dos convidados, todos de pé, entre os lados direito e esquerdo da sala.
Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi
Leia mais: Confira o line-up completo da SPFW N59
Na boca de cena, a iluminação ultravioleta fazia brilhar os cristais Swarovski nas joias, desenvolvidas pelo designer Hector Albertazzi, e nos bordados das roupas. Muitas delas têm cartela de cores em tons fluorescentes intensos – mais fechados sob luz natural, amarela ou branca, e brilhantes na luz negra.
A apresentação é dividida em blocos. Primeiro, vem uma série de looks inspirados em camisas de rúgbi. As proporções são ampliadas, a modelagem é baseada em silhuetas geométricas dos anos 1960, mas com as mangas volumosas.
Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi
Na sequência, entram três vestidos de veludo cotelê cortado no viés, com recortes de tecidos vintage no busto. Eles são excepcionais. São a síntese perfeita dos processos criativos e técnicos que sempre nortearam Alexandre, só que agora adaptados e aperfeiçoados a um novo tempo e realidade.
Alexandre gosta de tirar as coisas do lugar, de inverter, transformar. O que não gosta é da expressão look ou roupa de festa. Para ele, cada um usa o que quer. Aqueles três vestidos traduzem bem essa ideia.
A apresentação segue com ternos e casacos meio anos 1970, alguns deles com padronagem xadrez, outros com textura felpuda. Tem ainda peças listradas bem década de 1960, camisolas plissadas de organza branca sobre bodies neon e vestidos inspirados em roupas dos séculos 17 e 18.
Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi
Essa última parte é um exercício ao qual Alexandre tem se dedicado bastante nas últimas coleções. Durante um preview, dias antes do desfile, ele contou que ainda não está satisfeito com essas experimentações. “Ainda não fiz tudo que quero fazer.”
O que lhe interessa é entender a construção daquelas peças e explorar maneiras de mostrar o corpo sem necessariamente deixar a pele à mostra ou grudar o tecido nela. Os looks finais do desfile de segunda-feira, todos feitos de látex, são bons exemplos dessa ideia.
Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi

Herchcovitch;Alexandre, inverno/primavera 2025. Foto: Zé Takahashi
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O estilista falou também que nada disso é novidade. E pode não ser mesmo. Seus primeiros desfiles foram em boates, com todo mundo de pé. Dois outros já tiveram roupas que brilhavam no escuro ou mudavam de cor. Quem quiser e tiver tempo para pesquisar vai encontrar um monte de referências e repetições em coleções passadas.
Ainda assim, o que a gente viu é extremamente atual (além de desejável). Há uma mistura e harmonia mais acertadas entre seus desejos e interesses recentes, comercialmente inclusive. Mas não acaba aí. Alexandre conta que não consegue mais criar dentro de uma temática específica. Na minha opinião, nunca conseguiu. Ainda bem.
Agora os tempos são outros. Não há mais a necessidade de maquiar ou esconder tal característica. Foco e atenção são conceitos complicados, escassos. Para o bem e para o mal, não tem mais samba de uma nota só. Olhar e aceitar vontades variadas, com consistência e identidade, faz mais sentido, é mais verdadeiro do que qualquer narrativa fechada.
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