Paris Fashion Week: Valentino, verão 2025 

Com estilo inconfundível, Alessandro Michele defende opulência, em estreia nas passarelas como diretor criativo da Valentino.


Modelo desfila com smoking de poá na estreia da Valentino com Alessandro Michele na direção criativa em coleção de verão 2025.
Valentino, verão 2025 Divulgação



Não é exatamente a estreia de Alessandro Michele na Valentino. Desde que foi anunciado como diretor criativo da grife da casa italiana, em março deste ano, o estilista apresentou, em junho e de surpresa, uma coleção de resort em formato de lookbook. Ali, já dava para ter uma ideia de sua visão de estilo para a maison fundada por Valentino Garavani e Giancarlo Giammetti, em 1960. Ainda assim, o desfile de verão 2025 deste domingo (29.09) foi um dos momentos mais aguardados da semana de moda de Paris, senão da temporada.

Modelo desfila com vestido roxo de poá e babados na estreia da Valentino com Alessandro Michele na direção criativa em coleção de verão 2025.

Valentino, verão 2025. Divulgação

Modelo desfila com visual andrógino na estreia da Valentino com Alessandro Michele na direção criativa em coleção de verão 2025.

Valentino, verão 2025. Divulgação

Leia mais: O resort 2025 da Valentino, com direção criativa de Alessandro Michele. 

O cenário tinha jeito de mansão abandonada. Móveis estavam cobertos por lençois brancos, mas via-se aqui e ali a silhueta de uma escada, uma estátua, um abajur. O piso era de vidro quebrado. Trata-se de uma obra do artista italiano Alfredo Pirri, chamada Passi. Nela, o chão trincado cria uma tensão sobre se sentir frágil ou realmente sustentado. 

E aí, vamos para as roupas. Assim como se viu no resort, há uma boa variedade de peças formando 85 looks no total. São desde roupas de baixo, visuais mais urbanos com calça jeans até produções de gala. Existe, no entanto, aquela unidade característica de Alessandro Michele, cheia de memórias, objetos vintage, silhuetas retrô e muitas referências ao passado. 

De antemão, é importante dizer: certamente muita gente vai afirmar que Michele replica a fórmula de design com a qual ganhou fama na Gucci, entre 2015 e 2022. Vale salientar, porém, que a Gucci não é uma das casas de moda com estilo dos mais marcantes. Ou seja, muito do que se tem de lembrança de Michele na Gucci é basicamente Michele em si. É o estilista em sua essência. Ninguém pode afirmar que ele não é dono de um estilo. Nesse estilo, aliás, já afirmou em algumas entrevistas, ele tem Valentino como uma de suas grandes referências – inclusive em sua era Gucci –, principalmente no que diz respeito a uma certa extravagância. 

Modelo desfila com vestido vermelho de camadas na estreia da Valentino com Alessandro Michele na direção criativa em coleção de verão 2025.

Valentino, verão 2025. Divulgação

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Mas dá para notar alguma diferença agora, com a mudança de marca? Sim, mas ela está nos detalhes. Existe uma sensualidade ali na luva e na meia-calça de renda escura. É possível ver uma Itália retrô. E dá para catar um espírito latino, com babadinhos flamboyant e muito poá.  

Esses códigos, então, são assimilados ao que Michele é conhecido por admirar e reproduzir. Estão ali vestidos de mangas longas e comprimento médio, muitas camadas e plissados, assim como bordados, brocados, frufrus, laços e lacinhos. 

A androginia habitual do estilista dá as caras novamente – ainda que de maneira mais suave. Aqui, aparece no smoking de lapela acetinada usado por elas e por eles. Dá para apontar também uma pitada de especiarias orientais, como os motivos de folhas e flores estilizados em túnicas, além de batas, calças harém e alguns turbantes.

E as assinaturas de Valentino? Destaque para a coloração marfim, uma referência a icônica coleção Bianca, apresentada em 1968. Outro ponto é o tom provocante de v ermelho, tão experimentado pelo couturier em vestidos de noite. E alguns looks são claras interpretações de arquivo, como o vestido tipo de debuta nte azul com bolinhas. A variação mais moderna dessa ideia é interessante e está no look com busto anos 1950 usado com calça jeans.  

Modelo desfila com paletó e calça jeans na estreia da Valentino com Alessandro Michele na direção criativa em coleção de verão 2025.

Valentino, verão 2025. Divulgação

Modelo desfila com vestido debutante azul de bolinhas na estreia da Valentino com Alessandro Michele na direção criativa em coleção de verão 2025.

Valentino, verão 2025. Divulgação

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Tem ainda alguns olhares para tendências do agora, como um officecore oversized. Os toques contemporâneos estão nas lingeries e produções com denim. Mas, apesar de vários modelos aparecerem com uma espécie  de joia-piercing na boca, a impressão que se tem é a de que Alessandro Michele olha mais para dentro das salas de arquivos do que para as ruas de hoje em dia. 

Figuras que fazem referência a aristocratas e burgueses do passado podem em alguma medida criar uma relação escapista e fantasiosa com a roupa, mas não deixam de ser muito distantes da realidade. Moda não precisa sempre ter um compromisso com o real, mas algumas montações afetadas com colares de pérola e chapéus com pena de faisão acabam em caricaturas antigas demais. 

Em termos comerciais, vale apontar a investida em bolsas de várias opções, como crossbodies médias com um bom V de Valentino visível e hobo bags maiores, com detalhes de franjas e metais – prometem ser um hit e afastam a marca do ranço que se criou em cima dos acessórios com studs. 

Por fim, o texto de explicação do desfile, uma carta do próprio Michele, afirma que vivemos em constante fragilidade e vulnerabilidade e que a beleza é o remédio para a angústia. Ele compara o toque das dobras de organza com o milagre das bibliotecas, as delicadas camadas de uma aquarela com a magnificência de um vestido delicadamente bordado. 

O interesse de Alessandro Michele é realmente em coisas duráveis. A sua insistência em si está mais atrelada à defesa de um estilo próprio e quem pode se encaixar nisso do que simplesmente atender ao efeito roleta do desejo do mercado. 

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