Paris Fashion Week: Miu Miu, verão 2025

Foi-se o tempo em que a Miu Miu era considerada apenas a irmã mais nova da Prada. A garota da marca cresceu, virou mulher, lançou tendência e hoje colhe os frutos do seu trabalho. Nomeada a partir do apelido de infância de Miuccia Prada, a etiqueta funciona como uma espécie de escape da estilista italiana. É ali onde ela cria até onde os seus sonhos mais extraordinários a permitem ir.

Desde sempre, Miuccia gosta de investigar como as mulheres vêem a si mesmas em vários meios artísticos. Para isso, usa o cinema, como no projeto Miu Miu Women’s Tales, e a sua colaboração com artistas em cenários de desfiles e campanhas.

Na temporada de verão 2025, no desfile que rolou nesta terça-feira (01.10), o cenário imitava uma gráfica que imprime jornais. No caso, o folhetim impresso é o The Truthless Times, criado pela artista visual Goshka Macuga. Na sua obra, ela explora a verdade, a desinformação e a manipulação na era das redes sociais, em um momento em que somos bombardeados de fake news o tempo inteiro. A mesma questão já havia sido tema do verão da Prada, apresentada em Milão alguns dias atrás, e parece estar bem latente na cabeça de Miuccia.

Miu Miu, verão 2025. Foto: Getty Images

E é pensando nesses conceitos que a designer constrói a sua coleção. O ponto de partida são as camisas. Em comunicado sobre o desfile, ela explica que “as chemises são puxadas para baixo e enroladas no corpo, suas formas são alteradas, indo de versões utilitárias a vestidos com bustiês, com um glamour desonesto”.

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Essa frase me lembrou uma entrevista antiga de Miuccia, no backstage do primeiro desfile da Miu Miu, em Nova York, em 1995, em que ela dizia que a menina da marca era inocente, fingia ser elegante, mas falhava. Na mesma frase, ela completa: “Não ter ideia do que é certo é algo muito sexy para mim”

No geral, o verão 2025 reflete bem essa ideia. Os códigos clássicos da etiqueta estão todos lá: as saias na altura do joelho, os bordados, os sapatos esquisitões, as estampas geométricas, a transparência suave e a pele à mostra já estavam presentes naquele primeiro desfile da marca. Há novidades também: os maiôs ultrarecortados combinados a saias envelope, os cintos e colares de correntes usados de forma displicente e os slides nos pés.

Miu Miu, verão 2025. Foto: Getty Images

A real aqui é que a “verdade” das roupas não significa nada. Ou seja, elas não são usadas de maneira convencional. Cuecas larguinhas são sobrepostas, perneiras esportivas aparecem combinadas a peep toes dos anos 1940 e o que parece um suéter amarrado pelas mangas na altura do torso é, na verdade, um top.

Enquanto isso, braceletes de metal ou de couro prendem as mangas de minijaquetas no topo do braço. O styling de Lotta Volkova é essencial para criar essa imagem de garota que não está nem aí para as convenções, como no caso das sobreposições de regatas de alcinha e camisas e das pólos uma em cima da outra.

Miu Miu, verão 2025. Foto: Getty Images

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Aqui, não há tantos elementos facilmente viralizáveis como nas últimas temporadas. Embora com o tom mais contido, ela continua sendo uma mulher essencialmente Miu Miu, que gosta de experimentar e brincar com o styling combinando peças de uma maneira só dela, antes que o mundo defina o que é certo e errado.

Ah, e destaque também para parte do casting formado por não-modelos, como a atriz Hilary Swank, a fashionista Alexa Chung, a rapper Little Simz e a filha de Nicole Kidman, Sunday Rose, que abriu o desfile. Estrela dos comentadíssimos longas Pobres Criaturas (2023) e Nosferatu (2024), Willem Dafoe, que já desfilou para a Prada no inverno 2012, fechou a apresentação, mostrando que a Miu Miu não é só para novinhos – mas também para quem adora ousar com a moda, independentemente da idade.