Em livro, Vincent Van Duysen abre as portas das casas onde vive

Casas na Bélgica e em Portugal do arquiteto belga Vincent Van Duysen revelam um pouco sua forma de pensar a arquitetura.


Vincent Van Duysen abre a sua casa em livro.
Ambiente da VVD II Residence, base do arquiteto em Antuérpia, na Bélgica. Foto: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024



Engana-se quem pensa que Vincent Van Duysen é um minimalista. Ainda que sua arquitetura privilegie espaços amplos e o contraste seco entre diferentes texturas, ele nega a alcunha. “Acredito que o meu trabalho vai na contramão dessa escola estadunidense que se popularizou nas artes visuais a partir dos anos 1960. Ainda que minha atenção se volte para certa pureza estética, meu intuito é desfazer a desordem e chegar ao cerne de um projeto. Encontrar a sua alma. É isso que você vai ver no meu livro”, diz o belga à ELLE Decoration Brasil. O livro, no caso, é o Private – de capa dura, com 180 páginas, publicado pela editora Rizzoli. Nele Van Duysen abre as portas de suas duas casas pessoais (uma na Bélgica e outra em Portugal) para o fotógrafo François Halard.

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Vincent Van Duysen abre casas em novo livro.

Retrato do Vincent Van Duysen Fotos: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024

“Além de ser um fotógrafo incrível, ele é um grande amigo”, revela o arquiteto. “Por isso, dei a ele liberdade para clicar minhas casas de uma maneira diferente, inovadora. As fotos são menos arquitetônicas, mais abstratas, quase oníricas”, descreve. A ideia era homenagear seus templos pessoais e, segundo Van Duysen, Halard cumpriu a missão ao capturar “o espírito das construções”, mais do que o seu desenho. “Sou um modernista de coração: sempre gostei de arquitetos que têm ou tiveram uma abordagem calorosa perante o uso de materiais e as adaptações necessárias para a vida contemporânea. Ou seja, quero sempre estabelecer um diálogo entre a pessoa e o espaço”, declara antes de citar Ludwig Mies van der Rohe, Louis Kahn, Luis Barragan, Carlo Scarpa e o brasileiro Paulo Mendes da Rocha como algumas de suas principais referências.

Vincent Van Duysen lança livro e mostra interiores de suas casas.

Capa do livro Private, com 180 páginas, da Rizzoli Fotos: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024

“Na verdade, conheci Mendes da Rocha pessoalmente em seu estúdio, em São Paulo, e foi um dos encontros mais impressionantes que já tive com um arquiteto em toda a minha vida. Admiro muito as formas que caracterizam seu trabalho e seu respeito pelo ambiente: sempre em simbiose com a sua obra”, elogia.

Vincent Van Duysen abre casa em novo livro.

Ambiente da VVD II Residence, base do arquiteto em Antuérpia, na Bélgica. Fotos: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024

Esse jeito de olhar para a paisagem que envolve uma construção, por exemplo, fica nítido na Casa M, sua casa de férias, no Alentejo, Portugal. “Senti vontade de criar uma inserção mais radical na natureza. É uma casa de férias que não precisa de muitas ‘coisas’ porque os arredores se impõem.”

Vincent Van Duysen abre suas casas em novo livro.

VV II Residence, na Antuérpia, na Bélgica. Fotos: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024

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Sua afinidade com o ar livre, por sinal, garantiu a ele o prêmio da categoria Outdoor, na última edição do ELLE Deco International Design Awards, o EDIDA, pela poltrona Palinfrasca, desenhada para a Molteni&C, marca icônica que tem direção criativa de Van Duysen. “Ela é uma homenagem ao design do italiano Luca Meda. São estacas e ramos – ou pali e fresche, daí o nome –, que compõem uma espécie de cestaria, uma trama que dá estrutura a esse objeto seguro e íntimo”, conta sobre o projeto. A técnica, vale dizer, retoma habilidades artesanais tradicionais do Mediterrâneo. “Sou apaixonado por pessoas que trabalham com as mãos, por artesãos de modo geral.”

Vincent Van Duysen abre suas casas em novo livro.

Fotos: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024

Em um cenário em que esse tipo de riqueza manual vem desaparecendo na esteira de uma industrialização cada vez mais esmagadora, Van Duysen lembra a importância de criar objetos atemporais. “A arquitetura do futuro tem que se focar na humanidade e deve atendê-la de maneira orgânica. Eu espero que a gente não cruze a linha da produção desenfreada – afinal, o mundo precisa da nossa ajuda, do nosso cuidado.” Não à toa, entre seus desejos para projetos futuros estão construções dedicadas ao coletivo.

Vincent Van Duysen abre suas casas em novo livro.

Livro mostra interiores de casas de Van Duysen Fotos: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024

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“Quero expandir meu portfólio com mais prédios públicos, em especial com os que são dedicados a abrigar a arte, como museus e galerias. Algo sagrado, como uma capela ou uma igreja, também seria bem especial”, diz.

“Estou constantemente projetando em minha mente, então a oportunidade de inovar e desenvolver ainda mais os diferentes fios condutores que percorrem meu trabalho é sempre um desafio bem-vindo”, arremata.

Vincent Van Duysen abre suas casas em novo livro.

Parte externa da Casa M, residência de Vicent Van Duysen no Alentejo, em Portugal. Fotos: © Vincent Van Duysen: Private, Rizzoli, 2024. Images © Francois Halard, Rizzoli, 2024

    • Esta reportagem foi publicada originalmente na edição impressa do volume 3 da ELLE Decoration. 

 

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