Dez relatos sinceros de casais que passaram (ou não) o Dia dos Namorados juntos

Diretamente do nosso Grupo no Facebook, depoimentos de como diferentes casais estão lidando com o distanciamento social ou a hiperconvivência neste Dia dos Namorados.


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Logo no início do isolamento social, um tweet feito pela jornalista Marina Rossi, que pedia dicas sobre como manter o casamento durante a quarentena, recebeu mais de 4 mil compartilhamentos e centenas de respostas. Boa parte dos comentários questionava o pedido alegando que “se alguém não conseguisse passar alguns dias com a esposa/marido, provavelmente não havia começado bem”. Mas meses se passaram e a pergunta se provou relevante. Por mais que possa haver muito amor envolvido, a hiperconvivência muitas vezes não é uma tarefa tão simples para quem pode praticar o isolamento social.

No momento em que precisamos ficar isolados por meses, e sem data certa para poder voltar à rotina, vários casais precisaram repensar suas relações. Quem já vivia na mesma casa passou a lidar com a hiperconvivência. Alguns casais que moravam separados resolveram viver juntos para manter o contato durante a quarentena. Outros continuam mantendo a distância e estão tentando driblar a saudade. E tem ainda quem estava solteiro no começo desse período e passou a se relacionar com outras pessoas que conheceu via internet (o famoso webnamorado/webnamorada).

Hoje é um Dia dos Namorados bem diferente no Brasil, e resolvemos nos voltar ao nosso grupo do Facebook, essa fonte incrível de conversas com vocês, para ouvir como a nossa comunidade está lidando com a data – e com seus relacionamento no geral. Será que as coisas mudaram nas relações? Há mais proximidade ou distância? O que se pode fazer para manter a conexão com tanta mudança?

Leia abaixo dez relatos e, caso você ainda não participe, conheça nosso grupo!

“O PIOR É NÃO TER NEM IDEIA DE QUANDO VOU VÊ-LA DE NOVO”

“A gente se conheceu pelo Tinder em novembro do ano passado. Ela é argentina, mora em Córdoba, mas quando demos match ela estava em São Paulo, a trabalho.

Só fomos nos conhecer pessoalmente em janeiro deste ano, quando eu fui pra lá. E deu tudo certo, foi ótimo, e ela veio pra São Paulo no Carnaval. Mas em março veio a pandemia com força. Eu tinha uma passagem comprada para passar meu aniversário com ela, no fim de abril, e não deu certo. A passagem foi cancelada. Fiquei frustrada porque no fim de abril já fazia dois meses que a gente não se encontrava.

Mês passado eu entrei em alguns sites de viagem e vi uma matéria falando que a previsão de abertura das fronteiras da Argentina é só em setembro. Nós duas ficamos muito mal, mas ela é mais racional do que eu, então me disse que não importaria, que era só um tempo a mais sem nos vermos. Agora eu já estou numa fase mais conformada. O pior dessa situação é não ter nem ideia de quando vou vê-la de novo. A previsão é setembro, mas eu tenho medo de contar com isso e me frustrar mais uma vez.

Lá pro meio de maio, a gente ficou um pouco mais distante. Ela é médica e pegou corona, não teve muitos sintomas, mas ficou deprimida, se afastou um pouco, quis ficar mais na dela. Eu respeitei. A gente se fala por chamada de vídeo do WhatsApp e por mensagem, basicamente.

O fato de não ter esse “controle” e poder de decisão é muito ruim. Se alguém falasse ‘olha, você vai poder viajar com certeza daqui seis meses e reencontrá-la’, seria ruim, claro, mas pelo menos eu teria noção de quanto a espera ia durar. Agora, a impressão é que estou num limbo.”

Nome omitido a pedido da autora

“ÉRAMOS MEIO CRUS DE CONVIVÊNCIA”

“Resolvemos passar a quarentena juntos e estamos com quase três meses de isolamento. No começo foi difícil, convivência 24 horas pra mim foi complicado. Eu sou muito fechada e meu namorado gosta de entender o que está acontecendo comigo pra poder me ajudar. Aos poucos fui me soltando e conseguindo conversar sobre o que eu estava sentindo.

Nós estamos lidando bem, fazemos mais coisas juntos e isso nos deixou mais próximos. Antes, nossa convivência era de poucos dias na semana, e por termos pouco tempo de relacionamento (completamos um ano na quarentena), éramos meio “crus” de convivência. Mas agora fazemos mais coisas juntos, jogamos rpg, aprendemos a fazer fermentação natural, o que nos gera uma aventura toda semana fazendo pão e pizza, ouvimos podcast, às vezes conseguimos meditar, sem contar séries e documentários.

Nos dias ruins, aprendemos a dar colo e passar segurança e tranquilidade ao outro. O mais surpreendente é que conseguimos nos abrir melhor, conversar mais, entender e aprender sobre o outro, quando ele está trabalhando/estudando, eu faço meus projetos/leio, pra poder aproveitar nosso tempo livre.

Confesso que no começo eu estava com medo de como tudo isso seria, mas agora tenho certeza que foi a melhor decisão que tomamos. Ter alguém pra me fazer companhia, acalmar e ajudar nos dias difíceis tem ajudado a aliviar o peso da quarentena. Acredito que nosso relacionamento vai só melhorar quando tudo isso acabar. Vamos sair mais unidos e companheiros.”

Depoimento de Vitoria Brandt

“EU ME COBRO PARA TENTAR INOVAR”

“Eu sinto que meu namorado não está sofrendo em relação ao isolamento da mesma maneira que eu. Eu adoro ficar em casa, mas sinto muita falta de pessoas para que eu tenha mais assuntos no meu dia a dia. Está mais difícil, por exemplo, ter uma conversa com uma amiga na qual ela te indica um filme porque aí eu vejo esse filme com meu namorado.

A velocidade das coisas está diferente, sinto que às vezes eu não tenho assunto, não tenho o que conversar, não tenho o que inventar. Como casal, estamos bem, de verdade, mas eu me cobro para tentar inovar, para tentar tirar toda essa pressão e mal estar que o mundo traz e nem sempre eu consigo. Nossa rotina não teve grandes mudanças, mas sentimos MUITA falta de ir ao cinema, de passear, de fazer um bate volta para o interior, de jantar. O curioso é que antes eu achava essas coisas triviais, coisas que qualquer casal faz, e agora vejo essas mesmas atividades como algo que é nosso, do meu relacionamento, e que eu não vejo a hora de retomar. De diferente, compramos novos jogos de tabuleiro, jogamos videogame. Enquanto ele faz algo que é pra ele, às vezes, um jogo de videogame, eu fico ao lado lendo.

Conseguimos cozinhar muito mais do que antes (não era algo que tínhamos o hábito e agora somos fãs da Rita Lobo). Tenho dado muita importância também pros nossos momentos individuais, vejo que é assim que consigo trazer algo novo para dentro do relacionamento.

Outra coisa que está difícil é de não me cobrar de estar fazendo algo sempre, de estar vendo um filme, ou fazer algo juntos, estou entendendo que estar um ao lado do outro já é muito e o suficiente para tentar sobreviver a uma pandemia. A minha maior animação recente é que compramos ingressos para o cinema Drive-In do Belas Artes, vamos assistir A vida é Bela e será a nossa primeira vez em um cinema drive-in. Estamos muito animados, rs.”

Depoimento de Beatriz Falcão

Casal se beijando em editorial da ELLE, Just Kiss, de junho de 2016
Editorial Just Kiss, ELLE BrasilJosefina Bietti

“OS OUTROS PARCEIROS? COMO NÃO MORAMOS TODOS NA MESMA CASA ESTÃO TENDO QUE ESPERAR”

“Sou casado e tenho um relacionamento aberto. É muito doido porque a hiperconvivência com meu marido trouxe desafios para nossa relação, mas desde quando namorávamos fizemos um exercício de limites: limites financeiros, morais, de tempo. Nada radical, mas para nos conhecermos mesmo. Então, mesmo dentro de casa sempre juntos, isolados, temos o nosso tempo pessoal que podemos fazer o que a gente quiser, quietos na nossa. Normalmente é o dia do outro cozinhar, por exemplo.

Já combinamos que “depois que isso tudo passar”, vamos precisar de umas férias um do outro, haha. Algum fim de semana com amigos, ou até sozinhos mesmo. Os outros parceiros? Como não moramos todos na mesma casa estão tendo que esperar, haha!

A gente aproveitou a ocasião para criar um “calendário coronavírus” que se sobrepõe aos nossos calendários individuais. E nisso dedicamos tempo pessoal pra cada um de nós, para podermos fazer o que quisermos mesmo que dentro de casa. Jogar boardgame, ler, testar receitas, falar com amigos, família, dormir…

O Daniel, meu marido, ama jardinagem e adora DIY. A gente fez muita coisa em casa como pintura, pão de levain e, para brincar no dia a dia, eu criei uma série de fotos no meu Instagram, a “I’m stalking my own gaysband”, haha. Tiro fotos aleatórias dele dentro de casa ou no quintal.”

Depoimento de Walter Jacinto Júnior

“NO MOMENTO, ESTOU PERDENDO PARA A NETFLIX”

“Meu marido e eu éramos melhores amigos antes do romance aparecer. Março deste ano foi nosso aniversário de casamento, nove anos! O que eu notei é que voltamos a ser melhores amigos. Nós falamos besteira, nos encontramos no sofá no final do dia e o romance, esquecido. Temos nos comunicado como sempre: muita conversa, muito ouvir e sem julgar. Nos apoiamos um no outro em momentos mais difíceis e delicados, mas a intimidade romântica se esvaiu.

Realmente pensei que aproveitaríamos muito mais essa quarentena. No final, estou agora tentando lembrá-lo do quão bom e prazerosa a intimidade é. No momento, IRL, estou perdendo pra Netflix.

Sendo artista visual, trabalho sozinha em alguns momentos, ouço minha própria música no Spotify ou um curso online. Mas se quiser curtir um silêncio calmante também está tudo bem. Ambos somos filhos únicos, acho que isso ajuda a compreender tudo isso e não achar que seja um ataque pessoal, é só para dar uma relaxada ou para focar em algo que esteja sendo criado.

Não tivemos nenhuma briga, nenhuma discussão e isso não nos surpreende nem um pouco. Toda vez que começamos a falar sobre algo e nos exaltamos, paramos e passamos para uma voz mais baixa, mais calma e vem a famosa “ok, o que está acontecendo? O que tu estás sentindo?”. A resposta nunca é aquilo que estava sendo discutido antes. Nunca é o que realmente está precisando vir à tona. São sentimentos e vontades.

Tomamos cuidado para não “roubar o momento” do outro. Se sentirmos que isso está acontecendo, avisamos e respiramos fundo para continuar. É muito fácil ficar olhando pra dentro e esquecer a pessoa que está ao nosso lado. O exercício de comunicação entre nós se tornou sagrado. Nosso amor só cresce e nos jogamos no meio das nossas filhas e curtimos nossos momentos de pé descalço na grama, tomando sol, comendo açaí e aproveitando os sons ao nosso redor.”

Depoimento de Tatiana Goldberg

“EU O AMO MUITO MAIS AGORA PORQUE O CONHEÇO DE VERDADE”

“Graças a Deus meu namorado tomou a iniciativa de morarmos juntos. Nunca passei por uma experiência tão maravilhosa quanto essa. Tem sido lindo estar com quem se ama todos os dias e aprendendo mais ainda sobre essa pessoa.

A quarentena pra mim tem sido leve e serena ao lado dele. A gente se abre e conversa bem mais que antes, sem tempo para brigas e discussões desnecessárias. Então, estamos muito mais próximos do que já éramos. A empatia cresceu muito nesses últimos meses. Eu o amo muito mais agora porque o conheço de verdade. Ficar dias e mais dias em casa nos fez bem, nos conhecemos e nos aproximamos mais.”

Depoimento de Tata Cavalcante

“MORRO DE MEDO DE FURAR A QUARENTENA E ARRISCAR NOSSA SAÚDE”

“A gente não está lidando tão bem com esse afastamento. No começo até que foi tranquilo, mas depois que deu um mês de “separação” começou a doer mais.

Estamos os dois tristes e apreensivos com isso, já choramos várias vezes, mas seguimos firmes com esperança da situação melhorar logo. Não sei quanto tempo mais vamos aguentar segurar a saudade. Agora estamos combinando de fazer um date virtual no dia 12: nos arrumar, jantar e assistir um filme ao mesmo tempo porque é o que dá pra fazer nessa situação, né? Furar a quarentena está fora de questão.

Eu moro com meus pais que são do grupo de risco, então morro de medo de furar a quarentena e arriscar nossa saúde. O que está sendo mais surpreendente é o tempo que a gente está conseguindo ficar afastado.

Depois que a quarentena acabar vai ser só alegria. Vamos colocar em prática vários planos que acabaram ficando pra trás, vamos passar mais tempo juntos sempre que possível e recuperar todo tempo perdido. O date do Dia dos Namorados ainda não sei como vai ser, nunca fizemos algo assim, mas vai ser uma experiência pra contar pros nossos filhos e netos!”

Depoimento de Juliana Navarro

“COMEÇAMOS A NOS MONITORAR PARA O DIA DOS NAMORADOS”

“Eu e meu namorado estamos juntos há mais de três anos, nos conhecemos por causa da faculdade e acabamos nos acostumando a nos vermos todos os dias, somos da mesma turma.

No início da pandemia foi até tranquilo de levar, mas depois de tanto tempo, com mais excesso de informação, fez a sanidade mental ficar levemente comprometida.

Então, para tentarmos ter um ar de normalidade, escolhemos a data [Dia dos Namorados] para programar um encontro e, para isso, começamos as nos monitorar e tomar cuidado triplicado. Meu estágio entrou em home office, eu fiquei em total isolamento, já o Pedro deixou de usar o transporte público e segue todas as recomendações da OMS. Mesmo com o isolamento, a preocupação e cuidado um com o outro não muda.

Depois que tudo acabar, vai ser bom saber que se passamos por uma pandemia, podemos passar por qualquer coisa. (ok, isso foi um pouquinho brega, haha).”

Camila Araújo

Casal de garotos se beijando em editorial da ELLE, Just Kiss, de junho de 2016
Editorial Just Kiss, ELLE BrasilJosefina Bietti

“AGORA A GENTE SÓ PENSA EM CASAR”

“Eu namoro há seis anos. Eu sou de São Paulo, Gabriel, meu namorado, é de Cubatão. Sempre namoramos à distância e nos vimos aos finais de semana. Quando começou a quarentena, me mantive em casa e ficamos um mês sem nos ver, eu tinha receio de ir encontrá-lo e meu chefe me chamar para trabalhar.

O Gabriel mora sozinho tem alguns anos, então, me chamou para ficar até o fim da quarentena aqui, e eu vim.
A convivência está sendo muito tranquila, a gente respeita muito o espaço um do outro, tanto que, durante o dia, trabalho bem sossegada aqui e ele faz as coisas deles. As tarefas domésticas também são todas divididas. Como ele mora há muito tempo sozinho, ele limpa a casa sem problema nenhum (a gente sabe que tem homem que não sabe pegar em uma vassoura).

A convivência está sendo muito boa, e agora a gente só pensa em casar porque está dando certo. Não casamos antes porque eu estava na faculdade (terminei ano passado) e ele estuda em Santos. Pretendemos morar em São Paulo quando ele terminar a faculdade. Mas estou amando. Aqui eu tenho mais paz do que em casa com os meus pais, a minha casa é muito barulhenta.”

Depoimento de Viviann Waltrick

“VI QUE NÃO ERA O MOMENTO PARA ESTAR ALI”

“Nós estamos há dois anos juntos. Éramos amigos antes de começarmos a sair e namorar. Nos falamos todos os dias desde que voltamos a ficar e nos víamos todos os finais de semana. Os finais de semana sempre eram muito esperados já que, mesmo morando na mesma cidade, moramos longe.

No início da quarentena, eu estava me sentindo muito segura comigo, com o nosso relacionamento. Naquela uma semana que passei na casa dele, vi que não era o momento para estar ali e conversei com ele. No fundo, eu sabia o que poderia acontecer e pedi que ele fosse forte. Voltei para minha casa e achei que ali poderia ter sido o fim de nosso namoro, mas não, passei uma noite péssima e o dia seguinte idem. Queria ele comigo, mas sabia que não era o momento.

O pai dele acabou falecendo no final de maio e eu sabia que por mais que o momento não fosse propício a visitas, iam questioná-lo sobre mim. Dito e feito. No primeiro fim de semana após o ocorrido, tivemos um desentendimento e choramos muito. Ele sempre falou que entendia eu não querer sair. O desentendimento era porque tinham falado no ouvido dele. Depois dessa conversa, ficamos ainda mais unidos, nos falamos todos os dias, toda hora e até estamos inovando. Esses dias brinquei que não podemos mais dizer que nunca fizemos sexo virtual, haha. Falei também que ia mandar uma nude por dia, mas como eu tenho tido crise de ansiedade, não estou conseguido cumprir a promessa, haha.”

Nome omitido a pedido da autora

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