10 sugestões de livros para os fãs de Elena Ferrante
Especialistas na escritora italiana sugerem 10 livros para aliviar o vazio de quem já terminou até o recém-lançado A Vida Mentirosa dos Adultos.
Os livros escritos pela misteriosa escritora italiana Elena Ferrante despertam paixões tão intensas que ganharam até apelido: “Ferrante fever”, ou “febre Ferrante”, em português. O mais recente lançamento, A vida mentirosa dos adultos (Intrínseca), que chegou às livrarias no último 1º de setembro, rapidamente atingiu o topo das listas de mais vendidos.
“Quando terminei de ler A amiga genial (Biblioteca Azul) estava tão envolvida com Lila e Lenu que fui devorando os outros três livros”, diz a gerente de marketing Juliana Silveira, se referindo à chamada tetralogia napolitana, quatro livros que são o maior sucesso de Elena Ferrante até o momento. “Depois da tetralogia fui atrás dos outros livros dela, e já li todos. Estou terminando A vida mentirosa dos adultos e sei que vou sentir um vazio”, diverte-se.
O “vício” em Elena Ferrante pode, atualmente, ser alimentado com dez livros já traduzidos para o português e publicados no Brasil. São eles: Um amor incômodo (Intrínseca), Dias de abandono (Biblioteca Azul), A filha perdida (Intrínseca), Uma noite na praia (Intrínseca), A amiga genial, História do novo sobrenome (Biblioteca Azul), História de quem foge e de quem fica (Biblioteca Azul), História da menina perdida (Biblioteca Azul), Frantumaglia – Os caminhos de uma escritora (Intrínseca) e, finalmente, A vida mentirosa dos adultos.
E depois de “zerar” Elena Ferrante, como já fez Juliana, o que ler? Pensando nisso, conversamos com três especialistas na obra da autora italiana, e pedimos para que elas sugerissem livros que vão agradar aos acometidos pela febre Ferrante.
A ilha de Arturo – Elsa Morante
Divulgação
“Elsa Morante foi uma grande autora italiana do século 20, que pavimentou o caminho para Elena Ferrante e sua obra”, conta a psicanalista, crítica literária e professora de literatura Fabiane Secches, autora do livro Elena Ferrante: uma longa experiência de ausência (Calaraboia).
A ilha de Arturo (Carambaia) é o único livro de Morante traduzido para o português, e se passa às vésperas da Segunda Guerra Mundial em uma ilha na região de Nápoles. Arturo é uma criança que vive livre, em um cenário rico em natureza e com espaço para a imaginação. A trama acompanha a transformação de Arturo em adolescente e aborda temas como misoginia e homossexualidade.
“No livro de ensaios Frantumaglia, Elena Ferrante cita Elsa Morante como uma de suas influências”, diz Milena Vargas, tradutora, editora e Mestre em Literatura Italiana pela UFRJ. Milena ainda chama a atenção para a possibilidade do pseudônimo da autora de A Amiga Genial ser uma referência à Elsa Morante – a sonoridade, pelo menos, é a mesma.
Léxico familiar – Natalia Ginzburg
Considerada a maior autora italiana do século 20, Natalia Ginzburg também consta da lista de indicações de Fabiane Secches. Em Léxico familiar (Companhia das Letras), ela conta a história da própria família, um clã judeu na Itália de Mussolini durante as décadas de 1920 e 1950, ou seja, durante a Segunda Guerra Mundial.
“Embora essa autora tenha um estilo completamente diferente do de Ferrante, um texto mais enxuto, com frases curtas, ela trata de algumas temáticas semelhantes: a escrita que corre entre o ficcional e o biográfico, a memória como fator de resistência, as relações em família, uma história que foca na banalidade do cotidiano, no detalhe das sensações. É muito provável que Ferrante também tenha sido influenciada por ela”, endossa Milena Vargas.
Insubmissas Lágrimas de Mulheres – Conceição Evaristo
“Essa é uma coletânea de contos escritos a partir de conversas com mulheres reais em que Conceição Evaristo constrói histórias de “escrevivências”. Trata-se do termo que ela criou para nomear esse misto de memória, vivência e escrita literária que faz parte de suas obras”, descreve Giuliana Bergamo, jornalista e mestra em literatura e crítica literária pela PUC-SP.
Em Insubmissas Lágrimas de Mulheres (Malê), Conceição conta todas as histórias, até mesmo as mais brutais, com beleza e delicadeza, sem fazer concessões para temas espinhosos. Entre experiências de identificação e empatia, vai se conhecendo um universo recheado de dor, desigualdade e resistência.
A paixão segundo G.H. – Clarice Lispector
Um dia G.H. resolve despedir a empregada doméstica e fazer uma limpeza no quarto de serviço. Ao encontrar uma barata na porta do armário, esmaga o inseto e decide experimentar o interior branco do animal. O que acontece a partir daí é a história de A paixão segundo G.H. (Rocco), assinado por Clarice Lispector, uma das maiores escritoras do século passado.
“Embora a escrita das duas autoras seja bastante diferente, Elena Ferrante já disse ser uma grande fã de Clarice. Neste romance, é possível encontrar muitas semelhanças entre a ‘demarginação’ vivida por Lila (na tetralogia napolitana) e o processo de perda de si de G.H.. É leitura para quem gosta dos lugares mais obscuros da alma feminina para onde as escritoras nos levam”, recomenda Giuliana Bergamo.
Minha casa é onde estou – Igiaba Scego
“Autora italiana de origem somali, Igiaba Scego discute muito a questão do pertencimento, do preconceito, do sentir-se estrangeira no próprio país. Embora da perspectiva de uma mulher branca, a Ferrante também trata da temática de não pertencer, estar deslocada, em especial no que diz respeito aos preconceitos, dentro da Itália, com os napolitanos. Igiaba Scego é uma voz importante que vem crescendo nos últimos anos, uma leitura forte e contemporânea”, sugere Milena Vargas.
Em Minha casa é onde estou (Nós), Igiaba passeia entre Mogadíscio, capital da Somália, e Roma, capital da Itália, criando um mapa afetivo e autobiográfico baseado nas suas memórias e ausências de memórias. Um livro muito contemporâneo, que fala sobre a vida do imigrante no mundo em que vivemos.
Aguapés – Jhumpa Lahiri
“Quem se emociona com a forma densa como as personagens de Ferrante vivem a maternidade, sobretudo em A filha perdida, deve gostar deste romance da autora inglesa naturalizada americana. A história narra a saga de dois irmãos indianos ligados a uma mulher, Guari, que deixa marido e filha na Índia para dar aulas em uma universidade americana”, recomenda Giuliana Bergamo.
Aguapés (Biblioteca Azul) foi finalista do Man Booker Prize, prêmio importante de literatura no Reino Unido, e do National Book Award, premiação norte-americana, em 2013. A história dos irmãos Subhash e Udayan se passa entre os Estados Unidos e a Índia, abordando temas políticos e históricos, exílio, retorno e destino.
Razão e sensibilidade – Jane Austen
Uma das maiores escritoras de todos os tempos, Jane Austen é uma grande referência para Elena Ferrante, aponta Fabiane Secches. Assim como a italiana faz hoje em dia, Jane Austen manteve sua verdadeira identidade em segredo enquanto publicava seus livros, e os assinava apenas como “Uma dama”.
Em artigo para o jornal britânico The Guardian, Elena conta que, quando foi apresentada à Jane Austen, aos 15 anos, ficou fascinada pela condição de anonimato da autora, mas não gostou do livro que leu. O encantamento só veio depois dos 20 anos, quando releu as obras e entendeu tudo mais profundamente.
Em Razão e sensibilidade (Penguin-Companhia), Jane conta a história das irmãs Elinor e Marianne no interior da Inglaterra. Com personalidades contrastantes, as irmãs vivem suas vidas enquanto conhecemos mais sobre a sociedade e os costumes do país no final do século 18. É uma obra recheada de crítica social e ironia, travestida de romance leve e água com açúcar. Um livro para ser lido e relido.
Um teto todo seu, Virginia Woolf
“O livro é um ensaio ficcional que a escritora escreveu ao ser convidada para palestrar em duas universidades inglesas sobre o tema ‘As mulheres e a ficção’. O resultado é uma reflexão sobre as dificuldades femininas para se dedicar à vida intelectual, sobretudo à escrita. ‘Uma mulher precisa de dinheiro e um teto todo seu’, é o que escreve Woolf'”, explica Giuliana Bergamo.
Vale lembrar que essa temática tem tudo a ver com as histórias de Lila e Lenu na Tetralogia Napolitana, e ler a obra de Virginia Woolf pode enriquecer a compreensão a respeito da intenção de Ferrante ao escrever a trama das duas amigas.
A vida invisível de Eurídice Gusmão, Martha Batalha
“O enredo deste romance tem muitas semelhanças com as narrativas de Ferrante. Conta a história de duas irmãs criadas para casar no Rio de Janeiro do início do século 20. Uma cumpre o destino esperado, a outra desaparece sem deixar pistas”, descreve Giuliana Bergamo.
O livro, que é o romance de estreia da escritora Martha Batalha, teve os direitos vendidos para mais de 10 editoras estrangeiras antes mesmo de ser publicado no Brasil, e deu origem ao filme “A Vida Invisível”, do diretor Karim Aïnouz, que tem Carol Duarte e Julia Stockler nos papéis principais.
Bisa Bia, Bisa Bel, Ana Maria Machado
A protagonista desse premiado livro foi, ao lado de Leda de “A Filha Perdida”, de Elena Ferrante, objeto do estudo de Giuliana Bergamo em sua dissertação de mestrado.
“Ele é considerado infanto-juvenil, mas eu leio até hoje. É uma indicação que vale especialmente para quem gosta de compartilhar leituras com as crianças”, explica Giuliana, que resume a trama assim: “A narradora Bel é uma pré-adolescente que se encanta com a fotografia da bisavó menina. Perde a foto, mas passa a conversar com a bisa sobre heranças femininas, o lugar da mulher e o que esperamos para elas no futuro”.
Boa leitura para adultos e crianças, pode ser o primeiro passo para criar uma nova geração de leitores e até, quem sabe, de novos acometidos pela febre Ferrante.
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