Viagem em palavras

A convite da Montblanc, a escritora Michelli Provensi e o ator Jullio Reis contam como a escrita os levou a conhecer outros mundos.


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CONTEÚDO APRESENTADO POR MONTBLANC

O mote da nova campanha da Montblanc é “Let’s Write”. Trata-se de um convite para enxergar as viagens de um ponto de vista criativo e inspirador. Um bom exemplo está no segundo filme criado por Wes Anderson para a marca alemã. Nele, o cineasta cria um vagão de trem, chamado Montblanc Voyage of Panorama. O ponto de partida é a biblioteca fictícia que serviu de cenário para o primeiro curta do diretor em parceria com a marca. Os destinos são aqueles que a imaginação permitir. Como explica o diretor e roteirista: “É a ideia de uma jornada literal, metafórica e poética”. Para ilustrar essa ideia convidamos dois nomes e viajantes bastante acostumados a rodar o planeta física ou imaginariamente.

Antes de cruzar oceanos como modelo, a escritora Michelli Provensi, 40 anos, viajou à universos fantásticos com publicações infantis da biblioteca pública de sua cidade natal, Maravilha, em Santa Catarina. Hoje, ela é autora de dois livros, Preciso rodar  o mundo e Marinheira de açude. O ator e também modelo Jullio Reis, 28 anos, tem uma história parecida. Anos antes de desfilar em passarelas internacionais, era transportado a outras realidades quando ia ao cinema quando criança. Agora, ele saiu da plateia para estrela na grande tela – ele interpretou o cantor Cazuza na cinebiografia de Ney Matogrosso, Homem com H – e não viaja sem papel e caneta na bagagem de mão. 

A convite da Montblanc Michelli e Jullio relatam suas experiências com a palavra escrita e apresentam as novidades da nova coleção da maison nas fotos que acompanham esta matéria.

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Bolsa, Montblanc. Blazer, Bottega Veneta. Blusa, Intimissimi. Saia, Hist. Sapatos, Ferragamo.

 

Michelli Provensi

Michelli Provensi fez suas primeiras viagens na biblioteca pública de sua cidade natal, Maravilha, no interior de Santa Catarina. “Gostava de recortar as imagens dos livros infantis para criar minhas próprias histórias. Depois colava tudo de volta com fita adesiva”, fala. “Cresci na roça, num mundo sem internet, sem parabólica, então tinha de usar a imaginação para inventar brincadeiras.”

Eventualmente, descobriram a autora das customizações naquele acervo bibliográfico e ela foi proibida de frequentar o local. Ainda bem que existiam os gibis. “Aprendi a ler com a Turma da Mônica”, diz. “Quando cheguei a São Paulo, só queria saber se o apartamento das modelos era perto do bairro do Limão.” No universo criado pelo cartunista Mauricio de Sousa, os personagens vivem no bairro do Limoeiro.

Michelli tinha 16 anos quando mudou para a capital paulista. “Até então, minhas referências vinham dos quadrinhos e das revistas Manchete, que meu pai assinava.” Aos 17, seguiu o roteiro de quem fazia sucesso na área e foi para o Japão. Aprendeu logo que a vida de modelo é um constante vaivém e que deslocamentos demais implicam alguma dose de solidão. Nessas horas, a leitura ajuda bastante.

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Pasta, relógio e caneta, Montblanc. Cardigã e calça, Louis Vuitton. Camisa, Carol Bassi.

 

“Não à toa, sempre tinha alguém que deixava um livro para trás”, conta. “Brinco que comecei a ler com Zíbia Gasparetto não por escolha, mas por ser o que tinha na casa em que eu morava.” Seu título preferido também foi um achado. Em Londres, encontrou um exemplar de O mestre e a a margarida, de Mikhail Bulgákov, no último vagão do metrô. “Peguei porque tinha um gato preto na capa, e eu adoro gatos. Me apaixonei.” Tempos depois, descobriu que era o livro de cabeceira das modelos russas. “Elas se dividiam entre Bulgákov e Paulo Coelho. Aliás, viviam perguntando se eu o conhecia.”

Ao longo de dez anos viajando pela profissão, Michelli morou com mais de 127 pessoas. Foram tantos encontros, tantas experiências, que ela decidiu escrever tudo em diários. “Anotava as minhas histórias e as das outras modelos.” Seu primeiro livro, Preciso rodar o mundo (2013), nasceu desses registros. “É sobre uma menina que sai de casa para viajar sozinha e conta como é cair na vida.”

Enquanto sua estreia literária é autobiográfica, a segunda publicação, Marinheira de açude (2022), é uma coletânea de contos inspirados em sua infância. “Quando comecei a escrever, percebi que a melhor maneira de aprender seria falando de mim e só depois partir para a ficção.” De certa forma, os dois livros são sobre jornadas. Uma de partida, outra de volta. Uma real, outra imaginada. Ambas são transformadoras, no sentido de acessar universos e sentimentos desconhecidos.

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Relógio e pasta, Montblanc. Jaqueta, camisa e calça, tudo Fendi.

 

Jullio Reis

Jullio Reis não viaja sem um caderno de anotações. Nele, escreve pequenos textos, poemas e registros de cenas e personagens que prenderam seu olhar. “Não precisa ir longe. Pode ser na praça do lado da rua em que você mora ou do outro lado do planeta”, fala. É um exercício de livre observação e atenção. “Quando você está disponível e aberto, os estímulos vêm de toda parte, o tempo todo. É como o olhar curioso de uma criança.” 

Durante a infância, quando ia ao cinema, sentia que era transportado para outros universos. “No começo, a magia era a tela grande, as animações.” Aos poucos, as histórias, as atuações, os contextos, os roteiros e até o que não era explícito serviam de locomotivas para o levar a mundos desconhecidos. “A gente sente coisas que nem sabe explicar”, comenta.

Na adolescência, sentiu algo parecido ao ingressar numa companhia de teatro musical a convite de um amigo da família. “Topei só pela música, mas acabei me apaixonando pela atuação.” Jullio já tocava violão e outros instrumentos, então eram as aulas de improvisação e texto que o jogavam para fora de sua zona de conforto, abrindo toda uma nova perspectiva de visão e criatividade.

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Bolsa, Montblanc. Blazer, Ricardo Almeida. Camiseta, Ferragamo.

 

Na época, Jullio estava no ensino médio e no início de uma carreira de modelo com ascensão acelerada. Ao concluir os estudos, a companhia encerrou as atividades e ele foi para Milão no ano seguinte, com um pensamento na cabeça: “Na hora em que voltar para o Brasil, vou me dedicar a ser ator”. Enquanto rodava pelas capitais da moda, quase sempre sozinho, tinha a literatura como porto seguro e ferramenta para entender o entorno e a si mesmo.

A leitura é um hábito antigo. “Quando eu era mais novo, dava uma folheada no que tinha em casa, lia uns livros de fantasia. Conforme fiquei mais velho, meus interesses mudaram.” Na verdade, foram descobertos, burilados. Podia ser uma capa ou um nome conhecido que chamava sua atenção. Mas eram o conteúdo, a forma e a linguagem que o prendiam. “Os textos podem te afetar de várias maneiras. Tem os mais diretos e tem os que te afogam.”

De volta ao país natal, Jullio seguiu à risca os planos de retomar a carreira de ator. Em 2015, fez uma figuração em S.O.S. – Mulheres ao mar 2, em 2019, protagonizou o curta Homem-peixe e, este ano, participou de seu primeiro longa-metragem, Homem com H. Na adaptação da biografia de Ney Matogrosso, ele interpreta o cantor e poeta Cazuza, que, de certa forma, nunca deixou de ver o mundo com paixão e intensidade, mesmo nos piores momentos.

“Fui descobrir o Cazuza poeta durante as gravações do filme”, diz o ator. “Teve o lançamento de um livro de poemas dele (Meu lance é poesia), e fiquei impressionado com o jeito como ele escrevia. Era visceral e muito bonito, fosse falando de amor, fosse de raiva, da vida, de como ele se apaixonou por alguém cruzando uma esquina.” Para Jullio, a beleza da literatura é a sensação de conhecer alguém, suas emoções, seus mundos. “E, com isso, viajar e explorar coisas dentro da gente que nem sabíamos que existiam.”

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Caneta e pasta, Montblanc.

Fotos: Gleeson Paulino
Direção de moda: Lucas Boccalão
Beleza: Angel Moraes
Direção de arte e cenográfica: Anderson Rodriguez
Produção de moda: Laitânia Gomes
Produção de arte: Cássio Onohara
Produção executiva: Izabela Ribeiro
Tratamento de imagem: Thiago Auge
Assistentes de foto: Edson Luciano e Lucas Morato
Assistente de produção executiva: Bruna Campi
Contrarregra: Ronaldo Junge
Manicure: Thayna Dandara
Camareira: Marisa Hiodo

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