Thebe Magugu revisita álbum de família em seu verão 2022
Em vídeo-desfile, o estilista sul-africano se reúne com a família para contar de onde veio cada look da nova coleção.
Um dos poucos estilistas baseados em países africanos do line-up da semana de moda de Paris – e o primeiro negro a vencer o LVMH Prize, em 2019–, Thebe Magugu cria uma moda baseada nas suas vivências e ancestralidade. Para sua coleção de verão 2022, chamada Genealogy e apresentada em forma de vídeo, ele, sua mãe, Iris Magugu, e sua tia, Esther Magugu, abrem uma caixa de fotos de família para mostrar como cada elemento e memória se desdobraram em novas peças.
Uma foto de sua mãe vestida em um trench coat caramelo serve de inspiração para um vestido com decote ombro a ombro. Uma imagem de suas tias em uma festa de pijama se transforma em vestidos com corte quadrado e gola polo, combinados a lenços nos cabelos. O uniforme de trabalho de um de seus tios serve de base para um conjunto de calça de alfaiataria, camisa e gravata presa no ombro. Já a peça vermelha de quando Iris modelava em concursos de beleza é interpretada num modelo de tricô canelado de gola alta.
As estampas são um show à parte: frescas, coloridas, cheias de vida e história. Às vezes literalmente até. Algumas são versões geométricas de fotos de familiares combinadas à florais e aplicadas sobre saias plissadas despontadas e turbantes gigantes. Os brincos, as fivelas do cinto e dos scarpins pontudos mostram duas crianças brincando, um desenho que já apareceu em outras coleções, também vindo de lembranças, vivências e do respeito ao passado.
Em cada detalhe, há uma parte de sua história. E essa é uma história que não estamos acostumados a ouvir – ainda mais na semana de moda mais tradicional e prestigiada do mundo. E isso é de suma importância num momento de retomada e ressurgimentos, após um período em que tanto se falou sobre transformações, reparações e mudanças rumo a um futuro, no mínimo, mais dignos.
Em uma de suas colunas nesta ELLE, Hanayrá Negreiros, mestre em ciência da religião pela PUC SP e curadora adjunta de moda do MASP, fala sobre isso: “Foi a partir desses conhecimentos compartilhados pelos povos Akan de Gana, que percebi Sankofa como uma filosofia condutora de caminhos para se pensar futuros possíveis, uma alternativa para pensar o que teremos pela frente. Sankofa nos conta que só podemos avançar para o futuro se pararmos no presente para rememorar o passado. Conjuga-se aqui uma outra concepção de tempo, alterando os entendimentos cartesianos por ideias cíclicas e simultâneas.”
Ainda que bastante pessoal, a roupa de Magugu, com sua alfaiataria precisa, modelagens primorosas e estampas quase vivas, conquista um mercado que vem se mostrando cada vez mais cansado das mesmas referências europeizadas de sempre.
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