Thom Browne retorna à NYFW encenando renascimento
Depois de quase 4 anos desfilando em Paris, estilista voltou a desdobrar a sua alfaiataria clássica em construções sonhadoras na NYFW.
O estadunidense Thom Browne desfila em Paris desde 2017. Nesta temporada, porém, ele retornou ao país natal, com a sua primeira apresentação física desde o início da pandemia, em suporte à moda norte-americana (tema da exposição do Costume Institute, do Metropolitan Museum of Art neste ano, que tem curadoria de seu companheiro, Andrew Bolton).
Uma atmosfera onírica é algo que já se espera de um desfile de Browne, que tem uma queda pelo teatral e pela caricatura. Os seus modelos parecem retirados de um cartoon agênero. O surrealismo, no entanto, pareceu ter tomado as ideias do designer, nesta temporada, provavelmente porque o movimento artístico completa cem anos nesta década de 2020, e olhar para os anos 1920 foi algo comum entre muitos criadores nesses últimos meses.
E foi um espetáculo surrealista grandioso, com direito a 200 looks apresentados, em meio a um cenário ostensivo, além de toda uma narrativa. Algo bem raro numa temporada ainda convalescida pelos impactos financeiros causados pela pandemia de Covid-19.
Ao centro da passarela, a estrutura de uma casa de madeira foi montada. Dentro dela, duas personagens de silhueta em formato de ampola, com busto e culotes avantajados, interpretavam algum tipo de casal, ainda que não se tocassem.
Não dava para saber ao certo se era um homem e uma mulher, duas mulheres, dois homens. Não que isso importasse, afinal a marca assimila elementos entendidos como masculinos e femininos para construções que não se limitam a um gênero ou outro.
Em seguida, num monociclo, um rapaz com cabeça de cavalo e um conjunto de terno típico da grife (de modelagem próxima ao corpo e bermuda usada no lugar de calça) circula o casarão. Quando é possível ver as suas costas, asas bordadas se revelam na parte de trás do blazer, e dá para entender que se trata de uma referência a Pégasus, figura da mitologia grega, símbolo da imortalidade. Ao mesmo tempo, cenário e looks (principalmente o do casal dentro da casa) são referências diretas à Nova York do século 19.
Começa a tocar uma música que lembra um canto de ninar ou uma melodia de história de princesa e o jardim ao redor da casa se movimenta, se revela formado por humanos. Os modelos são os arbustos que montam o jardim. Eles usam capas cobertas por flores, se despem delas e partem para a passarela com os vestidos que usavam por baixo, quase sempre baseados na alfaiataria precisa de Browne.
Dentre esses looks se destacam os que criam um efeito visual do tipo que engana os olhos, aquilo que a gente chama de trompe-l’œil. As peças (que são vestidos retos aparentemente simples) recuperam os desenhos do corpo nu, além de plissados à la Grécia Antiga. Essas imagens parecem estampas à primeira vista, mas na verdade são camadas e camadas de tule sobrepostos — um trabalho de ateliê que beira o chocante, ainda mais quando se leva em consideração o número de reproduções feitas.
Já a segunda metade da coleção é formada por experimentações em cima da alfaiataria e do tecido plano e cinza, que Browne tem como assinatura há tempos. Essas experimentações são conjuntos de mangas assimétricas, paletós ou sobretudos em cima de um vestido, que, por sua vez, é usado por cima de uma calça. Sobreposições e mais sobreposições. Depois, desdobramentos mais inesperados, como o vestido tomara que caia, as túnicas e as capas geométricas.
Por fim, os modelos voltam para o jardim e no lugar de monolitos cobertos por grama, viram estátuas coloridas e majestosas. O casal de dentro se despe e revelam um vestido interno branco, usado por baixo, que é todo bordado. Dá para sentir o aceno para algum renascimento no ar.
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