7 vezes em que a política falou por meio da moda

No último domingo, Dilma Rousseff usou a mesma roupa do dia de seu impeachment para comemorar a vitória de Lula. Mas em que outras ocasiões as roupas contaram histórias políticas?


politica moda destaque



Quando Dilma Rousseff foi afastada do seu cargo por meio do impeachment, em 2016, ela usou uma blusa vermelha ao deixar o Palácio da Alvorada. Quase seis anos depois, a ex-presidente utilizou a mesma peça para participar do discurso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, eleito no último domingo (30.10). 

A escolha de Dilma revela o óbvio: moda e política se misturam, passando pela escolha do que vestir até chegar nas políticas públicas para o setor. Mas a verdade é que nem sempre essa relação é evidente, ou sequer defendida pelos protagonistas do mercado, sejam estilistas, influenciadores, comunicadores ou marcas. 

1716494364 dilma russef 1 1

Dilma Rousseff deixando o Palácio da Alvorada, em 2016. Foto: Getty Images

GettyImages 1437805544

Dilma Rousseff na comemoração da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 30.10. Foto: Getty Images

A seguir, listamos outras vezes em que a escolha do que vestir defendeu uma posição, ideia ou simplesmente reforçou um alinhamento ideológico. 

De democratas à republicanos

Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, usou roxo na cerimônia de posse do cargo, em janeiro de 2021. A cor não foi escolhida ao acaso: era uma referência a Shirley Chisholm, a primeira mulher negra a se candidatar à presidência norte-americana, que normalmente estava vestida de roxo.   

Ainda na ocasião, Kamala usou um colar de pérolas em homenagem a Alpha Kappha Alpha, a primeira irmandade afro-americana com letras gregas, fundada pelas chamadas Vinte Pérolas, em 1908.

llT4VQNi origin 890 scaled 1

Kamala Harris na cerimônia de sua posse como vice-presidente dos EUA. Foto: Getty Images

Em meados daquela mesma década, Emmeline Pethick-Lawrence, uma das lideranças do sufrágio feminino e do Votes for Women, passou a usar as cores roxo, branco e verde como símbolo do movimento. Elas significam, respectivamente, fraternidade, pureza e esperança.

Por isso, é comum roupas brancas vestirem democratas nos EUA. Um exemplo é o look de Alexandria Ocasio-Cortez no dia de sua posse como congressista, em janeiro de 2019. Em seu Twitter, ela disse: “Vesti branco hoje para homenagear as mulheres que abriram o caminho antes de mim e para todas as mulheres que ainda estão por vir. De sufragistas a Shirley Chisholm, eu não estaria aqui se não fossem as mães do movimento.”

GettyImages 1076634910

Alexandria Ocasio-Cortez em sua posse no congresso estadunidense, em 2019. Foto: Getty Images

Outro caso emblemático foi o terno cinza usado por Barack Obama em uma coletiva de imprensa sobre a situação do ISIS, na Síria, e a atuação dos militares dos EUA na região. A cor escolhida pelo então presidente causou polêmica e chegou aos sites de moda e páginas de jornais. Alguns consideraram o cinza muito casual para tratar de um tema tão sério, outros não viram nisso um problema ou uma escolha política. Fato é que a controvérsia rendeu até a página Obama tan suit controversy no Wikipedia.

3a9f1a4efd5dbeffc14dd96525afc21d7d melania jacket.rsquare.w700

A ex-primeira dama estadunidense Melania Trump. Foto: Getty Images

Não são apenas os democratas que usam as roupas como uma forma de comunicação. Os republicanos também. Um exemplo clássico é a forma como os bonés vermelhos de beisebol, esporte popular nos EUA, tornaram-se um símbolo de Trump e seus apoiadores. Além disso, Melania Trump, ex-primeira dama, escolheu reforçar seu preconceito ao usar uma jaqueta militar da Zara estampada com a frase “eu realmente não me importo, e você?”. Naquele dia, ela visitava um centro de detenção para crianças migrantes. 

Francia Márquez

A atual vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, busca realçar sua herança afro-colombiana por meio do que veste. Assim como ela, seu estilista, Esteban Sinisterra Paz, nasceu na costa do Pacifico colombiano, mas foi vítima da migração forçada por conta dos conflitos no território. 

 

Hoje, ele busca traduzir o ativismo de Márquez por meio das vestimentas. E a vice-presidente tem plena consciência disso. “Vemos pessoas usando roupas coloridas o tempo todo”, disse ela ao Washington Post. “Os desenhos nos tecidos têm vários significados. Então, para mim, representar isso em uma campanha política é também falar a respeito da linguagem da memória, que foi apagada de nós, nos foi negada. Me visto dessa maneira de propósito.”

Mandela e a Madiba Shirt

Nelson Mandela, icônico líder e revolucionário contra o apertheid africano, presidiu a África do Sul de 1994 a 1999. Durante essa época, ele criou um estilo próprio na hora de se vestir. Substituiu os ternos engessados e as roupas formais por camisetas largas e estampadas com batik, que ficaram conhecidas como Madiba Shirts. 

mandela

Nelson Mandela. Foto: Getty Images

 Quem desenhou os primeiros modelos para Mandela foi seu antigo alfaiate, Yusuf Surtee. “Ele queria se identificar com seu povo, e a maioria nunca usava terno”, explicou Surtee em uma entrevista à QG sul-africana. Além da escolha de usar as camisas, ele também negou o convite de Giorgio Armani, que se ofereceu para ser seu estilista à época. Mandela deixou claro que seu desejo era fortalecer e ressaltar os criadores do seu país e continente. 

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes