Quem é que pode ser uma #VanillaGirl?

A hashtag associada ao estilo de maquiagem e moda está bombando no TikTok, mas há algo de amargo na estética da garota baunilha. Investigamos!


vanilla destaque



Já não é mais novidade que o TikTok virou um grande celeiro de tendências – ou como os usuários da rede costumam chamar “cores” ou “sleazes”. Em 2023, portanto, uma nova obsessão já está dominando a plataforma: o estilo Vanilla Girl. A trend da vez que faz alusão à suavidade da baunilha acumula nada menos que 395,2 milhões na hashtag que leva seu nome. A #VanillaGirlAesthetic também não fica muito trás com 149,9 milhões. Parecida com a tão comentada “Clean Girl Aesthetic” e com as hiper-românticas “Coquettes”, a garota baunilha tem um lifestyle minimalista, luxuoso e aconchegante. Pense em malhas fofinhas em tons neutros e uma beleza do tipo effortless: um pouco de corretivo, bochechas coradas, sobrancelhas penteadas, uma camada leve de máscara de cílios, cabelos presos com presilhas, franjas onduladas… 

O problema é que, na maioria das vezes, a Vanilla Girl é uma menina branca e loira. “Tendências são muito interessantes para estimular a criatividade. Acho incrível ver como cada um é capaz de fazer uma interpretação diferente a partir de uma mesma estética. Mas, não é nada saudável existir uma tendência que exclui determinados corpos. Nesse caso, por exemplo, estamos mexendo diretamente com a autoestima e a saúde mental de meninas negras”, diz Luanda Vieira, jornalista e consultora de diversidade e inclusão com foco em raça. Ou seja, assim como o estilo “Model Off-duty” estava comprometido pela gordofobia que promovia e a “Clean Girl Aesthetic” foi altamente criticada por seus desdobramentos elitistas e higienistas, a Vanilla Girl também não passa incólume pelo hype. 

@olvijaoli this vibe>>>> #makeup #beauty #grwm #grwmmakeup #grwmroutine #makeuptutorial ♬ original sound – Oğulcan

“Sim, os números são impressionantes, mas há que se levar em consideração que – ao entrar na hashtag da tendência – eu só vi meninas brancas, em sua maioria loiras, e todas extremamente magras. Acho que isso não condiz com o mundo real, muitas dessas exigências são inalcançáveis”, diz a beauty artist Camila Anac que já trabalhou com celebridades como Taís Araújo, Urias, Camila Pitanga, Marvvila, entre outras.

“O problema também está na distribuição do conteúdo dentro das plataformas”, aponta Luanda. “Tendências que surgem em classes sociais menos favorecidas ou partem de minorias não furam suas respectivas bolhas. Isso fica evidente no documentário The Social Dilemma (2020) que comprova o comportamento dos algoritmos que privilegia as publicações geradas por usuários brancos e atrapalha a população negra. É o chamado racismo algorítmico”, explica. Neste link, falamos mais sobre o assunto. 

@valeriaveng у мене не такий типаж, але образ подобається 🍰✨️ib: @💓olvija💓 #українськийтікток #макіяж #makeupartist #makeup #makeuptutorial #vanillagirl #vanillagirlmakeup ♬ Melting by Kali Uchis – 😹🔫

Segundo a jornalista, ainda que o sucesso no exterior seja uma realidade, a desconexão com o contexto brasileiro não vai deixar a Vanilla Girl ganhar tantas adeptas por aqui. “Sempre vi a moda e a beleza como formas de expressão, como representações dos nossos comportamentos. Isso posto, não acho que a Vanilla Girl faz sentido para mim, ainda mais quando pensamos no momento político que vivemos no Brasil.” Para Luanda, com a volta dos eventos presenciais pós-isolamento social, o desejo é o de colorir, extravasar, “exagerar” e ir para muito além do sabor adocicado quase neutro da baunilha.

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