10 motivos para conhecer Lyon

Ponto estratégico para esquiadores, rota da seda, berço do cinema e de Paul Bocuse. Aliando gulodices e história, a capital gastronômica da França satisfaz mentes, corações e estômagos famintos.


Roteiro Lyon: Paul Bocuse
Mural homenageia o chef Paul Bocuse, em Lyon. Foto: Free Nomad / Unsplash



A duas horas de trem de Paris e com um aeroporto internacional a 20 km de distância, Lyon é um pit stop estratégico para esquiadores, que tem atraído cada vez mais brasileiros em busca de aventuras nos alpes franceses. A temporada de esqui só começa no fim do ano, mas, verdade seja dita, a terceira maior cidade da França merece uma parada em qualquer época – sobretudo para quem ama comer bem. Motivos não faltam. Aqui, listamos dez deles.

  1. O bouchon

Se não for para sair para além de satisfeito da capital gastronômica francesa, nem se dê ao trabalho de visitá-la! Aviso dado, anote a dica: para se provar a autêntica e substanciosa culinária lionesa é preciso ir a um bouchon. É um tipo de restaurantezinho intimista, aconchegante, muitas vezes familiar. Em outras palavras, a versão local do bistrot. Nessa categoria, provadíssimo é o Daniel et Denise, do premiado chef Joseph Viola. Em suas três unidades, mantém nas mesas as tradicionais toalhas quadriculadas em vermelho e branco e, sobre elas, receitas como quenelles (nuvens alongadas de “nhoques” de peixe), terrine de foie gras, brioche perdu e outras maravilhas nacionais. 

  1. Arte e comida

  2. Roteiro Lyon

    Restaurante L'Etage, do chef Guillaume Mallet. Foto: Divulgação

O Museu de Belas Artes tem um acervo riquíssimo, com direito a Picasso, Monet, Van Gogh, Rembrandt e Tarsila do Amaral. De tão rico, nem sempre as obras em exibição são as mesmas. Ou seja, mesmo se você já tiver ido uma vez, uma nova visita nunca é em vão. Ainda mais porque, na saída, do outro lado da rua, fica o L’Étage. O último restaurante dentro de um edifício antigo é comandado pelo chef Guillaume Mallet, que cuida da sala com esmero e da cozinha e com os melhores produtos de cada estação.

  1. A trilha de Paul Bocuse em Lyon

  2. Roteiro Lyon: Paul Bocuse

    Fachada do histórico restaurante Paul Bocuse. Foto: Divulgação

Lyon respira Paul Bocuse e, para quem considera gastronomia uma religião, a cidade do papa da culinária francesa é cheinha de locais de peregrinação. Dentre os templos sagrados, encontram-se quatro Brasseries (do Norte, Sul, Leste e Oeste), dois restaurantes (Fond Rose e Marguerite), o icônico Paul Bocuse, onde o chef reinou, e, bem pertinho da cidade, o instituto que leva seu nome e conta com mais três restaurantes, além de uma grade com cursos rápidos para cozinheiros amadores. 

  1. O mercadão mais gourmet do mundo

Quer mais Paul Bocuse? Pois Les Halles, o mercado em sua homenagem, reúne dezenas de produtores honrando o seu legado. Uma delas é Mère Richard, antiga mestre queijeira de M. Paul e criadora do queijo mais emblemático de Lyon, o ultracremoso Saint-Marcellin. A Maison Sibilia (charcutaria mais famosa da cidade) também está por ali, assim como a Maison Pignol (o catering lionês de maior prestígio) e a Maison Bouillet (confeitaria do chef Sébastien Bouillet e berço do maca’lyon, um macaron de caramelo salgado coberto com chocolate 70%).

  1. Doçuras éticas

  2. Roteiro Lyon: sorvete

    Sorvete do Unico. Foto: Divulgação

Depois de se formarem (e darem match) no Instituto Paul Bocuse, a corsa Julia Canu e o baiano Tiago Barbosa abriram a Unico, uma fábrica artesanal e ecologicamente responsável de sorvetes, sem estabilizantes, conservantes nem insumos industrializados, com menos açúcar que o gelato italiano e menos gordura que a glace francesa. Sucesso absoluto, abriram a Fresco e, há um ano, o acolhedor café Minnà. Com ajuda de mais uma brasileira, Renata Mazzoni, e da confeiteira paraguaia Marcela Acquarone, usam produtos orgânicos e locais para preparar tortas, bolos e o flan mais irresistível do universo. 

  1. Mâchon, o café dos campeões

  2. Roteiro Lyon: mâchon

    Mâchon: uma coisinha leve pra começar o dia em Lyon. Foto: Divulgação

Nos idos do século 17, os artesãos da seda despertavam cedo, bem cedo. De maneira que, às 8 h ou 9 h da manhã, estavam famintos por charcutaria e sedentos por vinho. Assim, os lioneses instituíram o mâchon, um café da manhã para lá de generoso. Até hoje, grupos de amigos e de executivos se reúnem em bouchons para mandar ver em saucissons, choriço com maçã, tripa empanada e patês, harmonizados com jarras de branco ou tinto – Mâcon ou Beaujolais. Para viver a experiência a fundo, o La Meunière, do especialista no assunto, Olivier Canal, é imbatível.

  1. Prazer, praluline

  2. Roteiro Lyon: praluline

    Muito antes da onda rosa da Barbie, a Maison Pralus já produzia a praluline. Foto: Divulgação

O praline rosa combina amêndoas, avelãs, açúcar e corante. Uma criação do século 19, sublimada em Lyon sob a forma de brioche. O mais célebre deles é a praluline: metade brioche e metade praline, na medida exata entre manteiga e obscenidade, ela é feita desde os anos 1950 pela Maison Pralus e achada – quentinha e perfumando a vizinhança – em cinco boutiques na região de Lyon.

  1. O fino do rústico

  2. Roteiro Lyon: ambiente de restaurante

    Salão do Rustique. Foto: Divulgação

O Rustique é a mais perfeita tradução do terroir regional. De segunda a sexta, o chef Maxime Laurenson, passa o dia todo lá nos preparativos para abrir a porta às 19h e servir menus de oito ou dez tempos, com a ajuda da esposa, a chef de sala Hélène. Nas degustações, brilham exclusivamente peixes de rios locais, ovos caipiras, cogumelos silvestres, miúdos e aves, como o pombo. Os ingredientes são tratados com tamanha delicadeza e precisão que, com poucos meses de trabalho, arremataram uma estrela Michelin. Para embalar a vivência, a carta de vinhos se restringe a rótulos feitos a no máximo 150 quilômetros dali.

Praça de alimentação com história

Roteiro Lyon: quenelles frites

Quenelles fritas com molho de lagosta: perdição. Foto: Divulgação

Por quase toda Vieux Lyon (a “Cidade Velha”) escondem-se passagens secretas. Construídas no século 4, as traboules serviam para que mercadores atravessassem a cidade sem serem vistos. Hoje, esses corredores estreitos de pedra são mais uma das atrações históricas e nomeiam uma charmosa e labiríntica “praça de alimentação”, o Food Traboule. Ali, a street food grifada dá o tom, mas a área abriga também um belo bar, café e confeitaria Dentre as bocadas incontornáveis, destaque para as quenelles fritas com maionese de lagosta, do Le Bouchon, e o paris-brest de avelãs, da Baraque à Sucre.

Saideira inesquecível

Tido como um dos melhores bares da França, L’Antiquaire guarda uma atmosfera sexy, perfeita para bebericar tanto drinques clássicos de respeito quanto  as criações autorais envolventes do bartender Valentin Disson. Entre elas, o Le Pandan, batizado com o nome da erva asiática que entra na forma de xarope nesse coquetel frisante, que ainda leva rum, água de coco, Chartreuse e suco de limão.

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