Cris Barros e Giuliana Romanno apresentam novas coleções em clima intimista

Com apresentações reduzidas, as duas marcas paulistanas lembram a importância de uma imagem consistente e identidade forte em constante evolução.


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Identidade é um conceito complicado na moda, ainda que essencial. Quem se apega demais pode parecer alienado, egocêntrico, parado no tempo. Quem se preocupa de menos pode se passar por inconsciente, genérico. A gente gosta de uma marca não só pelas roupas, pela badalação, pelo status. Quem curte moda de verdade costuma se fidelizar a um nome ou a uma etiqueta por uma proximidade ou afinidade de valores, ideais e, claro, estilo e estética. Mas ninguém quer vestir para sempre a mesma coisa.

Evoluir sem perder a essência não é pouca coisa, é tarefa difícil. As tentativas, mesmo que bem-vindas, nem sempre dão certo. Daí a importância de celebrar nomes que, apesar de altos e baixos em suas carreiras, conseguiram se manter relevantes e atuantes.

Na última quinta-feira, 07.04, Giuliana Romanno e Cris Barros apresentaram suas novas coleções após um longo hiato de eventos presenciais. Nenhuma das duas parou de produzir nesse meio tempo pandêmico. Contudo, a distância e limitação digital dificultaram uma melhor compreensão, apreciação e acompanhamento de seus trabalhos. Trabalhos, aliás, carregados de identidade.

Cris Barros e Giuliana Romanno lançaram suas marcas homônimas no início dos anos 2000 (a primeira em 2002 e a segunda em 2006), um período de intensa transformação no mercado de moda brasileiro. Desde o início, suas propostas eram bastante diferentes entre si: Cris com seus vestidos alongados, sensual e elegantemente afastados do corpo, Giu com uma alfaiataria de corte preciso e moldada ao corpo de forma contemporaneamente feminina. Ambas não tardaram a encontrar e cativar um nicho de consumidores bastante específico. O que tardou, na verdade, foi o reconhecimento do que as duas estilistas e empresárias estavam construindo.

As duas marcas representavam algo até então deixado de lado pelas principais plataformas de lançamento de moda, no caso a São Paulo Fashion Week e Fashion Rio. Suas propostas atendiam às demandas locais de uma clientela um tanto perdida e desamparada pelo que se via nas passarelas nacionais e o pouco que chegava da moda internacional no Brasil. Era um filão de mercado importante e com potencial de crescimento.

Não à toa as duas etiquetas prosperaram e evoluíram, cada uma à sua maneira. Cris Barros se associou ao grupo Soma (do qual fazem parte Animale, Farm, Hering entre outros), em 2016. Giuliana expandiu sua marca para os setores de lingerie, beachwear e activewear, integrou o line-up da SPFW até que, em 2018, encerrou as atividades de sua empresa para assumir a direção de estilo da Le Lis Blanc, marca do grupo Restoque (responsável também pela Rosa Chá, John John, Dudalina e Bo.Bô. A parceria durou pouco mais de um ano (por motivos de reestruturação interna da empresa de capital aberto, mais focada em números do que em valor criativo) e, em 2020, a estilista voltou à carreira solo com sua GIU, em pegada mais intimista (a loja e ateliê são em sua residência, no Jardim Paulistano, em São Paulo) e comprometida com formas mais responsáveis de produção e consumo.

Fiorella Matheis e Giuliana Romanno com looks da nova cole\u00e7\u00e3o da GIU.

Fiorella Mattheis e Giuliana Romanno com looks da nova coleção da GIU.Foto: Mo Almeida

Numa espécie de volta às origens, Giuliana, agora, recebe suas clientes em casa, como no início da carreira. Quer dizer, quase como no início da carreira, pois há um novo e importante fator nessa relação marca – consumidor: a internet. É por lá que acontece boa parte das vendas e da comunicação. O ateliê e showroom, a alguns metros da sala de estar, do outro lado do jardim, serve para encontros como o daquela quinta-feira.

Para a ocasião, Giuliana recebeu também a amiga Fiorella Mattheis e sua Gringa, e-commerce dedicado a peças de luxo de segunda mão. É que a estilista voltou bem mais comprometida com práticas e produções mais sustentáveis. Uma parcela considerável de sua coleção é feita a partir de tecidos de estoque morto e o restante produzido com impacto reduzido na natureza.

Como a marca foi concebida no auge da pandemia, o conforto é um pilar importante. Mas se as primeiras coleções eram compostas de camisetas, moletons e quimonos de caimento amplo, agora a alfaiataria que lhe deu fama começa a adentrar esse universo. “Acredito na casualização da alfaiataria, em construções leves, soltas e mais longe do corpo”, explica Giuliana. “É um design mais puro, mais simples (mas não menos autêntico) de acordo com a demanda dos dias atuais. Abandonei aquela roupa estruturada, mais rígida Me livrei até dos forros dos coletes, blazers e casacos.” A Giu de sempre, só que bem mais relaxada e sempre atual.

Exposi\u00e7\u00e3o dos 20 anos de Cris Barros.

Exposição dos 20 anos de Cris Barros.Foto: André Ligeiro.

Para comemorar os 20 anos da marca, Cris Barros convidou clientes, amigos e imprensa para uma exposição seguida de show no Casarão Higienópolis, em São Paulo. A ideia era criar uma espécie de túnel do tempo dos sonhos, onde os convidados podiam caminhar entre manequins vestindo peças de coleções passadas até se depararem com um tableaux vivants de modelos e amigas da grife com itens do inverno 2022.

“Fiquei pensando muito em como contar essa trajetória tão especial, tão cheia de desafios e, ao mesmo tempo, cheia de paixão”, diz Cris. “Achei que uma exposição composta de memórias afetivas do nosso acervo e a coleção vigente nas modelos, seria uma boa forma de comunicar essa história.” E de fato foi. Apesar da confusão inicial para acessar as salas, era ma amostra precisa e bem próxima da tal evolução de identidade que falamos no começo deste texto.

Dois exemplos de visão precisa, foco e muita persistência.

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