Depois da febre do Ozempic, Mounjaro é aprovado no Brasil: entenda os riscos do uso desmedido

Estudos apontam que a potência do Mounjaro é duplicada em comparação à estabilização do índice glicêmico e à perda de peso. Mas o público-alvo é bastante definido e o uso "off-label" tem riscos.


Mounjaro chega ao Brasil: descubra tudo sobre o remédio com efeitos superiores ao Ozempic no emagrecimento e controle da diabetes tipo 2
Ilustação: Mariana Baptista



Na última semana de setembro, exatamente na segunda-feira 25.9, a Anvisa aprovou um novo medicamento injetável semanal para o tratamento da diabetes tipo 2. Trata-se do Mounjaro, nome comercial para a tizerpatida do laboratório Eli Lilly.

A chegada do princípio ativo, já em uso nos Estados Unidos, é recebida com otimismo pela área médica: testes clínicos apontam para resultados superiores quando comparado aos oferecidos por medicações semelhantes, como a semaglutida (Wegovy, Rybelsus e o mais o popular Ozempic), independemente de sua dose – hoje, disponíveis em 5mg, 10mg e 15mg.

Como funciona o Mounjaro?

De acordo com especialista, a superioridade do Mounjaro é explicada por seu mecanismo de ação, que melhora o índice glicêmico – o nível de açúcar no sangue – e promove a perda de peso, a partir de dois receptores. “A tizerpatida age de maneira inédita ao mimetizar dois hormônios que produzimos em nosso organismo, que são o GLP-1 e o GIP”, disseca a médica endocrinologista Tassiane Alvarenga. 

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“Já existem análogos ao GLP-1, que é o caso do Ozempic. Mas este é a primeira medicação com essa composição”, explica Ísis Toledo, também endocrinologista, sobre a principal diferença da novidade e outros nomes já conhecidos. 

O estímulo destes dois hormônios em nosso organismo aumenta a secreção de insulina – processo que é crucial para o tratamento da diabetes –, melhora o funcionamento do pâncreas e induz à sensação de saciedade. “O paciente come um pouco e fica satisfeito. Alguns apontam para a perda do apetite, mas esta não é uma de suas ações primárias”, continua ela. 

Os resultados apresentados

“Hoje, sabemos que 60% das pessoas com esse tipo de diabetes estão sendo subtratadas. Por esse motivo, a medicina e a farmacologia buscam desenvolver uma medicação com melhores respostas. A diabetes, além de aumentar a mortalidade, diminui a qualidade de vida. Ela pode gerar insuficiência renal e a dependência de hemodiálise, problemas na visão e até o risco de amputações de membros inferiores”, comenta Tassiane sobre o otimismo acerca da aprovação do Mounjaro no Brasil.

“Além disso, sabemos que entre 80 e 90% dos pacientes com essa doença tem o diagnóstico de obesidade. Por isso, a perda de peso é um pilar recorrente nestas medicações.”

Estudos mostraram que a tizerpatida apresenta o dobro de potência no controle da glicemia quando comparada à semaglutida. Duplicação que pode ser repetida em relação à perda de peso, dependendo da dosagem atribuída ao paciente.

Mounjaro é indicado para o controle da diabetes tipo 2, mas também leva à perda de peso.

Mounjaro é indicado para o controle da diabetes tipo 2, mas também leva à perda de peso. Foto: Unsplash

Um estudo internacional acompanhou por 40 semanas 1.872 adultos, todos pacientes diabéticos do tipo 2 com níveis inadequados de glucose, que foram divididos em quatro grupos de avaliação. Semalmente, o primeiro grupo tomava 1mg de semaglutida. Também com doses semanais, o segundo grupo tomava 5mg de tizerpatida; o terceiro, 10mg; e o quarto, 15mg.

Nestas quarenta semanas, pacientes que usavam 1mg de semaglutina (Ozempic) perderam em média 5,7 kg cada, enquanto os que utilizaram 5mg de tizerpatida (Mounjaro) perderam em média 7,2kg. O uso de 10mg do mesmo princípio ativo levou à redução de 9,3kg e o uso de 15mg levou à perda de 11,2kg por paciente em média. 

São resultados como esses que levaram o medicamento a ser pesquisado para o tratamento da obesidade, ainda que sem o diagnóstico da diabetes. Resultados encorajadores também neste grupo levaram posteriormente à sua indicação off-label (fora da bula) para pessoas acima do peso.

Para quem é indicado?

Para pacientes portadores de diabetes tipo 2, pacientes com obesidade (ou seja, IMC igual ou maior à 30), ou pacientes com sobrepeso e dois fatores de risco. A contra-indicação é dada para pacientes diabéticos do tipo 1 e pessoas com histórico pessoal ou familiar de carcinoma modular de tireóide. 

Os riscos do emagrecimento a qualquer custo

É conhecido, por outro lado, o uso generalizado de medicamentos para o tratamento de diabetes por conta da promessa de emagrecimento. “Vivemos numa sociedade de culto ao corpo. As pessoas estão mais preocupadas com a estética do que com a saúde. Mas não existe caneta mágica”, diz Tassiane, fazendo referência ao formato das injeções aqui citadas.

Mounjaro oferece perda de peso mas há riscos.

Mounjaro oferece perda de peso, mas há riscos. Foto: Unsplash

“O desejo de perder dois, três quilos a qualquer custo, aliado ao fácil acesso às medicações que não precisam de receita médica, levam a medidas drásticas que tem seus riscos”, atenta a médica. 

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Entre os principais efeitos colaterais do Mounjaro estão náuseas, vômitos e diarreia. Usuários desinformados e desacompanhados de prescrição médica podem sofrer desidratação ou queda da pressão, por exemplo. 

“Os estudos foram específicos para um tipo de população. Não existem dados de segurança para uma população diferente desta. Outro ponto é que o benefício é proporcional ao peso. Quem mais se beneficia da medicação é quem tem o maior peso. Além de não constar em estudos comprovados, o benefício é bem mais simplório para pacientes sem diabetes ou sem obesidade”, salienta a endocrinologista Isis Toledo. 

“Quando falamos em perda de peso, o remédio é coadjuvante. O mais importante é uma dieta balanceada e acompanhada por um nutricionista, a introdução às práticas de atividade física e o gerenciamento do sono e do estresse”, finaliza Tassiane Alvarenga.

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