Jean Paul Gaultier por Simone Rocha, verão 2024 alta-costura

Talvez ultra-feminilidade não seja a primeira palavra que vem à cabeça quando você pensa no trabalho de Jean Paul Gaultier. Por isso, a escolha de Simone Rocha para interpretar os códigos mais clássicos do estilista francês sob seu ponto de vista ultra-feminino é tão certeira.

Caso você não se lembre, o estilista conhecido como enfant terrible da moda se aposentou em 2020, assim que completou 30 anos no comando da sua marca. Desde então, a cada temporada, ele escolhe um designer para criar seu desfile de alta-costura. Chitose Abe, da Sacai, Glenn Martens, da Diesel, Olivier Rousteing, da Balmain e Haider Ackermann foram os convidados anteriores. Já era hora de uma mulher voltar a ocupar esse posto. E ninguém melhor do que Simone Rocha para esse momento.

Jean Paul Gaultier por Simone Rocha, verão 2024 alta-costura. Foto: Getty Images

A gente vem falando aqui – e você já deve ter percebido – que a ultra-feminilidade está em alta. Laços, pérolas, rendas, tules e detalhes tidos como femininos estão por toda a parte. Chame de coquette, como quiser. Pode inclusive culpar o filme da Barbie, lançado em 2023, mas é fato que Simone Rocha fala do tema como ninguém. E há muito tempo.

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Como, então, o trabalho da última romântica da moda se conecta com a veia subversiva e dramática de Gaultier? Simples. É só pensar em como falar de sensibilidade e vulnerabilidade era visto até pouco tempo atrás como fraqueza.

Vamos ao desfile: os estilistas escolhidos para esse posto sempre reinterpretam os códigos da casa à sua maneira. As camisetas listradas, tipo marinheiro, tem fitas de laço no lugar da estampa, o famoso sutiã cônico aparece em formato de chifre e os caps ganham amarrações de corset. Essas são as versões mais óbvias das obras clássicas de Gaultier. Mas também tem versão nova da franja brilhante da alta-costura de 2001 do estilista, os cintos com saia rodada da apresentação de verão 2004 e os vestidos bege de cintura marcada da última coleção que ele desenhou.

Jean Paul Gaultier por Simone Rocha, verão 2024 alta-costura. Foto: Getty Images

Do trabalho de Rocha vem o volume nos quadris, o toque esportivo (ela adora essa justaposição) do vestido longo monástico azul marinho, as fitas que suavizam corsets super sensuais, as mangas bufantes, o tule e os toques de sereia em curtinhos bordados. A subversão vem no elemento inesperado, como nas costas nuas do conjunto de saia longa de tule, nos brincos e sapatos de cabelo, no tênis super esportivão e na plataforma transparente com anel no dedão que Kylie Jenner usou na primeira fila (e que também foi desfilado).

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Tradicionalmente, a coleção de alta-costura termina com uma noiva. Na versão de Rocha, apesar da imagem ser bastante clássica, com um vestido longo de renda e véu cobrindo todo o rosto, a barra do vestido foi deixada por fazer, em um bololô de tecido. A bem verdade é que precisa de uma dose de rebeldia para trabalhar com símbolos tão amplamente conhecidos e ainda criar uma coisa nova. Trabalhar com esses conceitos de forma nada banal é a especialidade de Simone. Inclusive, para ela, usar esses códigos subvertidos é uma forma de exaltar a mulher por tudo que ela foi ensinada a não ser, mas vestindo o que é esperado.

E isso tem tudo a ver com Gaultier.