Schiaparelli, verão 2024 alta-costura

Daniel Roseberry resgata diversos momentos do passado para criar a alta-costura de verão 2024 da Schiaparelli.


Desfile da Schiaparelli na semana de alta-costura de verão 2024.
Schiaparelli, alta-costura verão 2024 Foto: Getty Images



Existe uma forma mais simples de falar da coleção de alta-costura da Schiaparelli, que é linkar passado e presente. Porém, como as próprias roupas desfiladas nesta segunda-feira, em Paris, esse vaivém temporal é um pouco mais elaborado e cheio de camadas. Não é novidade que Daniel Roseberry, o estilista que transformou a casa fundada por Elsa Schiaparelli nos últimos anos, gosta de um look inacreditável, daqueles que param a internet. Lembra das cabeças de taxidermia do desfile de um ano atrás, de verão 2023 de alta-costura?

Desfile da Schiaparelli na semana de alta-costura de verão 2024.

Schiaparelli, alta-costura verão 2024. Foto: Getty Images

Desfile da Schiaparelli na semana de alta-costura de verão 2024.

Schiaparelli, alta-costura verão 2024. Foto: Getty Images

Os escolhidos da vez na verdade são dois: o vestido curtinho cheio de parafernálias tecnológicas obsoletas, de antes de 2007, o ano que o iPhone foi lançado, como calculadoras, chips, CDs, disquetes, teclados e Blackberrys. E o bebê de colo coberto desses mesmos elementos, que até se movimenta como uma criança real. É óbvio que esses looks são absurdos, tanto em técnica quanto em imagem, e viralizam por isso. Mas é nas outras entradas e detalhes que o estilista mostra a que essa coleção realmente veio.

Leia mais: A importância de Schiaparelli na moda

Começando pelo convite, um CD dourado que faz referência ao Voyager Golden Records, dois discos que foram enviados em uma nave para o espaço em 1977 com gravações da vida na terra para que os extraterrestres ouvissem.

Desfile da Schiaparelli na semana de alta-costura de verão 2024.

Schiaparelli, alta-costura verão 2024. Foto: Getty Images

Desfile da Schiaparelli na semana de alta-costura de verão 2024.

Schiaparelli, alta-costura verão 2024. Foto: Getty Images

Repare então nas datas: em 1977, Elsa já havia morrido. Seu auge foi nos anos 20, 30 e 40. Assim como na escolha dos objetos tecnológicos da era pré-smartphone, Daniel Roseberry brinca com a relação das casas de alta costura com o passado – mais especificamente, com o seu passado.

Se você assistiu a série de Cristóbal Balenciaga inteira neste final de semana, vai perceber: a alta costura mudou. E mudou muito. As imagens da passarela são divulgadas instantaneamente nas redes sociais, o que faz com que a casa perca o controle sobre sua repercussão. Vide, novamente, a história da taxidermia. Apesar disso, a tecnologia ampliou as possibilidades e a abrangência da alta costura. Muitos criadores pensam nisso quando estão desenhando suas coleções. É sobre viralizar, mas também sobre criar para o agora. Por isso as calças, um dos pontos altos do desfile, que eram impensáveis na alta costura daquela época.

Leia mais: Alta-costura: o que é, quem faz e tudo que você precisa saber 

A alta costura de Daniel mostra que ele soube se adaptar aos novos tempos sem perder a preciosidade das técnicas utilizadas, como na calça e jaqueta com aplicações de nózinhos de tecidos e na alfaiataria sempre impecável. Repare que nesta coleção não há tantos acessórios dourados que remetem à estética criada por Elsa – e que também marcam a história do estilista desde que assumiu a marca em 2019.

Desfile da Schiaparelli na semana de alta-costura de verão 2024.

Schiaparelli, alta-costura verão 2024. Foto: Getty Images

Desfile da Schiaparelli na semana de alta-costura de verão 2024.

Schiaparelli, alta-costura verão 2024. Foto: Getty Images

O foco fica na construção surrealista de jaquetas de ombros e cinturas arredondadas, de decotes que ultrapassam o corpo, das saias balonê, dos ombros e mangas agigantados, das plumas de madrepérola que cobrem todo o corpo e rosto. São formas quase não-humanas. Inclusive, Daniel diz, nas notas do show, que Elsa adora o espaço. Podemos falar também sobre o BDSM, como nos looks de látex ou naqueles com fivelas contornando calças, corsets, saias e botas. A fechadura, símbolo da casa, pode ganhar leituras voyeur. Mais novidade para a alta costura, antes bastante conservadora.

Muitos desses códigos vem da história da fundadora da marca, claro, mas eles vêm sido trabalhados de uma nova forma, com outras referências, criando um novo imaginário para a maison. Um imaginário mais real, pé no chão. Mesmo que ele olhe até para o espaço para fazer isso. Fato é que quando falamos de Schiaparelli, vale sempre ir além do look-viral.

Leia mais: Climão na alta-costura! A polêmica da Schiaparelli passada a limpo

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes