Alta-costura: o que é, quem faz e tudo que você precisa saber
Com duas apresentações anuais, a alta-costura gera barulho e desejo entre os amantes da moda. Mas o tópico ainda é mal-interpretado. Conheça o seu surgimento, funcionamento atual e membros participantes.
O termo alta-costura não é estranho para quem gosta de moda. Mas é muito provável que você já tenha se deparado com o seu uso incorreto por aí.
Utilizado para qualificar uma confecção primorosa e elaborada, por meio de técnicas manuais e, por vezes, de uma maior liberdade criativa, couture vira e mexe nomeia coleções especiais, feitas sob medida.
Mas a alta-costura, na verdade, só existe na França. O termo, aliás, é protegido por lei e designado pelo Ministro da Indústria francês.
Acontece que toda essa maneira específica de se fazer uma roupa, aprimorada por ateliês de costura ao longo dos anos, está diretamente relacionada ao legado histórico e cultural do país europeu. Não à toa a haute couture é considerada um símbolo do savoir-faire francês e uma instituição cultural.
Como começou?
Até certo período do século 19, a produção do vestuário acontecia sob encomenda, seguindo as medidas exatas de cada cliente, que, de certa forma, ditava como seria o produto final.
A criação de uma assinatura e de um conceito de moda é intrínseca à concepção da alta-costura.
É o inglês Charles Frederick Worth, residindo na França, que começa a apresentar peças criadas por ele ao público. Em vez de desenhar e costurar as roupas conforme as solicitações de sua clientela, ele passa a apresentar coleções finalizadas, com vestidos quase inteiramente prontos. Restava à compradora fazer algumas customizações, como escolher o tecido e a padronagem para ornamentar a silhueta já desenhada em sua coleção.
Essa lógica – similar à que estamos acostumados, apesar de atualmente funcionar em outra escala – inaugurou um novo paradigma no vestuário, no qual costureiras, modelistas e alfaiates deixam de simplesmente prestar um serviço, passando a ganhar status de artista, com estabelecimento de seus próprios ateliês.
Em 1858, Worth abre a primeira Maison de couture no número 7, da rua de la Paix, em Paris. Figuras importantes da aristocracia, como a Imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão III, e de outras classes privilegiadas da sociedade formavam a sua rede de clientes e visitas regulares.
Esse sistema de coleções e de ateliês homônimos, introduzido por Worth, logo é seguido por outros estilistas e, em 1868, nasce a Chambre Syndicale de la Couture des Confectionneurs et des Tailleurs pour Dame que, anos mais tarde, seria chamada apenas de a Chambre Syndicale de la Haute Couture, a associação de alta-costura francesa.
Como funciona hoje?
Hoje, a Chambre Syndicale de Haute Couture é parte da Fédération de la haute couture et de la mode, organização responsável por toda a indústria de moda francesa e, consecutivamente, as suas semanas de desfiles.
Com a evolução do setor e o seu desdobramento industrial, atualmente a federação também é composta pela Chambre Syndicale de La Mode Féminine e pela Chambre Syndicale de La Mode Masculine, que atuam especificamente no prêt-à-porter.
Em 1945, o termo alta-costura passa a ser legalmente protegido e concedido por uma comissão específica, que integra o Ministério da Indústria do país. É essa comissão que controla e classifica a criação da alta-costura.
Para que uma marca participe dessa classificação e, dessa forma, se torne uma casa-membro (maison), ela deve cumprir regras pré-estabelecidas. A mais primordial de todas é confeccionar à mão e sob medida roupas para clientes particulares, que devem passar por no mínimo uma prova. Cada peça deve ser única e elaborada em um ateliê composto por ao menos 20 artesãos trabalhando em tempo integral.
Além disso, o ateliê deve estar sediado na França e a maison deve apresentar, a cada temporada, uma coleção com 50 modelos originais. Os desfiles de verão acontecem em janeiro e, os de inverno, em julho.
Quem faz?
A avaliação e designação das casas-membros participantes da alta-costura acontece anualmente pela comissão. Entre as maisons mais tradicionais estão Chanel, Christian Dior e Givenchy.
Em 2024, a lista de membros totaliza 15 participantes. São eles: Adeline André, Alexandre Vauthier, Alexis Mabille, Bouchra Jarrar, Chanel, Christian Dior, Franck Sorbier, Giambattista Valli, Givenchy, Jean Paul Gaultier, Julien Fournié, Maison Margiela, Maison Rabih Kayrouz, Maurizio Galante, Schiaparelli, e Stéphane Rolland.
A semana de alta-costura conta também com membros correspondentes. Apesar de não estarem sediados na França, eles recebem aval para participarem do evento por terem compromissos e táticas similares às da maisons integrantes. A italiana Giorgio Armani Privé e a libanesa Ellie Saab são dois exemplos.
A importância da alta-costura
A manutenção da alta-costura e sua semana de moda, de certa forma, é uma forma de sustentar e prestigiar um jeito muito precioso de se fazer roupa. Apesar de seu enfraquecimento comercial diante do surgimento de formas mais rápidas, práticas e lucrativas de produção (a alta-costura representa uma porcentagem ínfima das vendas das maisons), o formato mantém vivas técnicas e métodos centenários, que continuam a serem desenvolvidos e aperfeiçoados com o trabalho dos ateliês especializados.
O título de maison também colabora para o aumento do prestígio recebido por uma casa integrante – e, no luxo, prestígio é fundamental. Assim como a exclusividade, essas características fortalecem o posicionamento das marcas participantes.
Além disso, a alta-costura apresenta capacidade criativa de uma marca. Em outras palavras: os desfiles de alta-costura são os que vão mais além. Existe o argumento de que se você não pode comprar, ao menos pode sonhar.
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