LFW: Simone Rocha inverno 2024

Se você está vendo laços por todos os lados, pode colocar a culpa em Simone Rocha. Mas não pense que sua moda se resume a elementos fofinhos. Para o inverno 2024, no desfile que rolou no sábado (17.02), durante a semana de moda de Londres, a estilista irlandesa conclui a trilogia de desfiles que começou com o verão 2024 da sua própria marca e passou pela colaboração com Jean Paul Gaultier na alta-costura. Mas não se desespere, não é o fim da era coquette.

Nessa série de três desfiles, o primeiro era o “The Dress Rehearsal”, ou “o ensaio do vestido”. O segundo, desfilado três semanas atrás na semana de alta-costura de Paris, foi chamado de “The Wedding”. Este último é o “The Wake”.

Simone Rocha, inverno 2024. Foto: Getty Images

Apesar do título significar despertar, a coleção de Simone Rocha fala sobre luto. No mesmo ano em que ela mergulhou nos arquivos de Jean Paul Gaultier, a designer teve a oportunidade de analisar de perto os vestidos usados pela Rainha Vitória, na época em que seu marido morreu, no ano de 1861. Por anos, a rainha permaneceu em luto, evitando aparições. O vestido preto com saia rodada e detalhes de renda usado por Vitória é um marco na história da moda, sendo chamado anos depois de mourning dress.

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Não por coincidência, o reinado da Rainha Vitória no Reino Unido, que durou de 1837 até 1901, ficou conhecido como a Era Vitoriana, de onde saem muitas das inspirações para a iconografia de Rocha. E é por isso também que, neste inverno 2024, a estilista segue trabalhando estes códigos mais clássicos, como os laços, a renda, o tule, as silhuetas afastadas do corpo, as golas vitorianas, a fofura com toque de subversão, a hiper feminilidade com um quê punk… No entanto, parece que algo mudou.

Simone Rocha, inverno 2024. Foto: Getty Images

Não dá para saber se foi a breve, mas profunda, incursão no universo de Jean Paul Gaultier, mas as roupas apresentadas mostram um pouco mais de pele, uma sensualidade que vem dos corsets que abraçam o peito, dos comprimentos supercurtos, das transparências e das formas mais contidas.

Esse lado mais sexy não significa que ela abriu mão de uma das características mais importantes da sua moda: o conforto. O corset, por exemplo, é usado mais solto para marcar sua silhueta usualmente oversized, mais do que para apertar e criar padrões irreais.

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Existe também um lado mais sombrio na apresentação, como os cabelos cacheados tampando as orelhas como se as modelos estivessem deitadas em seu leito de morte ou os vestidos-bata em tule que cobrem todo o corpo emulando mortalhas.

Simone Rocha, inverno 2024. Foto: Getty Images

Apesar de sempre ter apresentado uma moda coesa que brinca com signos tão caros à ela, Simone Rocha parece ter atingido um equilíbrio perfeito entre os elementos fofinhos e uma subversão, aqui quase fetichista, que mostra força e sensualidade.

Falando um pouco mais sobre a roupas, destaque para as golas polo em blusinhas de tricô, as balaclavas que cobrem os cabelos, tendência forte da temporada, e a adição da pelúcia em ombreiras, meias e peplums, novidade para este universo que ela vem criando nos últimos anos. Tudo isso ao som de uma versão meio angelical da música All Apologies, do Nirvana, e com a capela St. Bartholomew de plano de fundo.

É, não tem jeito: é a era da Simone Rocha mesmo.