LFW: JW Anderson inverno 2024
Sem grande espetáculo, Jonathan Anderson apresenta alternativas à mesmice dos tempos digitais por meio de elementos banais do cotidiano doméstico.
Se ainda havia dúvidas que tricô é uma grande tendência do inverno 2024, o desfile da JW Anderson, neste domingo (18.02), acabou com todas elas.
Desde o primeiro dia da temporada, na semana de moda de Nova York, estamos acompanhando várias interpretações da técnica. Tem os modelos mais conhecidos, como os tricôs de trança (ou cable knits) e os canelados – que vimos bastante nos desfiles masculinos. Tem os tecnológicos, a exemplo dos da Proenza Schouler. E tem os artsty, com um tipo de humor bem específico de Jonathan Anderson para sua própria marca.
O primeiro look já entrega a tendência de cara. Ele é composto de saia e blusa num tom de amarelo ácido e apagado. As duas peças são de tricô e trazem volumes que simulam a trama do material, porém como se vistas por uma lente de aumento, agigantadas.
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
Na sequência, vêm outras variações: as mais justas, tipo pijama e underwear, os vestidos estruturados com silhueta ampulheta, os suéteres com mangas extras enroladas na cintura, outros com dobraduras do tecido, coletes e camisas polo oversized que imitam a padronagem risca de giz.
As opções mais convencionais ficam por conta das blusas e jaquetas inspiradas em trench coats, as calças de alfaiataria, as bermudas de couro, as regatas e os agasalhos listrados e as botas com forro de shearling.
Mas essa não é a melhor parte do desfile – que nem é tão legal assim, embora tenha seu valor.
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
Em uma entrevista ao site Women’s Wear Daily (WWD), publicada no sábado (17.02), Jonathan Anderson fala que se inspirou em coisas banais, aquelas que ninguém nota, nem dá importância. Coisas do cotidiano doméstico.
Por exemplo, as cordas e tassels das cortinas (aplicadas em vestidos de seda), aquelas medalhas ou arranjos de prêmios ou condecorações estudantis (traduzidas em saias com faixas brilhantes e flores de tecido) e até o cabelo esquisito da vizinha (vide as perucas cinzentas).
De maneira mais sútil, a cartela de cores também transmite essa ideia. As tonalidades não são lá muito atraentes, sempre meio apagadas, chatas, tipo papel de parede. O styling, as silhuetas e proporções desajeitadas, como se a roupa fosse vestida sem cuidado ou preocupação com a aparência final, vão pelo mesmo caminho.
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
JW Anderson, inverno 2024. Foto: Getty Images
Faz um tempo que Jonathan Anderson está numas de reduzir tudo, cortar excessos, focar no que importa.O que não quer dizer que ele seja minimalista nem um adepto do quiet luxury. É só uma outra forma de pensar e ver a moda, as roupas e o mundo.
Lembra que no desfile masculino da Loewe, marca da qual o estilista também é diretor criativo? A coleção era uma resposta ao incômodo do designer com a homogeneização de tudo. No inverno 2024 da JW Anderson, o mood é exatamente o mesmo.
Na coletiva depois do desfile, Jonathan disse estar de saco cheio de tanta nostalgia, do pão e circo das mídias digitais e de tanta superexposição. Solução ele não oferece. Na verdade, pelas suas falas dá até para desconfiar de que ele acredita não haver saída nenhuma.
Num aceita que dói menos mais criativo, ele sugere encontrar refúgio no completo oposto das obsessões do momento. Bem como escreveu no release da coleção: “Em vez de nostalgia, coloquialismo. Em vez do sensacional, o não aparente. Em vez de notoriedade, o reservado”.
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