Tudo o que você queria saber sobre o peeling de fenol
Ainda vale a pena apostar no peeling de fenol? Dermatologistas respondem esta e outras dúvidas comuns acerca do polêmico procedimento.
Ainda que exista há décadas nos consultórios dermatológicos, vez ou outra o peeling de fenol volta a aparecer entre os tópicos mais comentados na mídia e nas redes sociais. Mais recentemente, o assunto veio à tona quando Henrique Silva Chagas, um empresário de 27 anos, veio a óbito após ser submetido ao procedimento realizado por uma influenciadora. Nesta semana, outro caso ganhou repercussão: uma mulher de 39 anos foi encontrada morta com suspeita de fazer a autoaplicação da substância comprada pela internet.
Tais fatalidades têm gerado uma série de questionamentos acerca do peeling de fenol. Mesmo entre a classe médica ele não é unanimidade e ainda é o centro de muitos debates, mesmo não sendo uma novidade. O procedimento é tão controverso que, nesta terça-feira (26), a Anvisa publicou uma resolução que proíbe a fabricação, importação, comercialização, manipulação e uso da substância – determinação que, de acordo com o órgão regulador, deve ficar vigente “enquanto são conduzidas as investigações sobre os potenciais danos associados ao uso desta substância química”. O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) já se manifestaram contra a medida.
Para investigar o tema e buscar respostas para algumas das principais dúvidas envolvendo o polêmico procedimento, conversamos com dermatologistas membros da SBD e nos debruçamos nas recomendações da própria organização.
O que é o peeling de fenol?
O fenol, ou ácido carbólico, como é conhecido cientificamente, é um agente químico proveniente de derivados do petróleo. Apesar de já ser conhecido desde o século XIX, ele entrou na dermatologia em meados da década de 1960 pelas mãos dos médicos estadunidenses Thomas Baker e Howard Gordon. Foram eles os responsáveis por formular um peeling com a substância diluída em óleo de cróton, sabão líquido e água. É essa a combinação, com uma ou outra modificação, que está na maior parte dos procedimentos realizados até os dias de hoje.
Quando aplicado sobre a pele, o peeling de fenol induz uma queimadura química que causa uma regeneração forçada. A diferença dele para outros peelings de ação superficial é que ele tem uma penetração mais alta, chegando até a derme – camada intermediária da pele.
LEIA MAIS: Guia de ácidos no skincare: para que serve cada um deles
Qual é a indicação?
O peeling de fenol é geralmente utilizado para tratar sinais e marcas significativas que são mais difíceis de serem resolvidas com procedimentos superficiais. “Ele é utilizado principalmente para casos de rugas profundas, cicatrizes de acne, manchas e hiperpigmentação”, explica a dermatologista Lilian Brasileiro.
De acordo com a também dermatologista Mônica Aribi, a maior procura vem de pessoas com mais de 50 anos com fotoenvelhecimento de grau bem elevado. “São pacientes que passaram a vida sem fazer o uso de proteção solar e, por isso, possuem muitas rugas transversais, horizontais e verticais”, adiciona.
Quais profissionais podem realizá-lo?
Em nota técnica, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) diz que é essencial que o peeling de fenol “seja conduzido por médicos habilitados, preferencialmente em ambiente hospitalar, com o paciente devidamente anestesiado e sob monitoramento cardíaco”.
Lilian reforça que esse acompanhamento médico é importante inclusive antes do procedimento – momento onde deve ser feita uma avaliação hepática, renal, cardíaca, nutricional e do estado geral de saúde do paciente, incluindo a existência de comorbidades. “A aplicação em si também requer habilidade técnica que só um médico possui. Complicações como alterações na cor da pele, infecções, sensibilidade cutânea e outras reações adversas necessitam de conhecimento médico para serem geridas adequadamente”, garante a dermatologista.
Neste ponto, vale o reforço: o peeling de fenol é um procedimento exclusivamente médico e não deve ser realizado por outros profissionais da área da estética. A autoaplicação também não deve ser realizada.
LEIA MAIS: Suplementos de beleza: o que funciona e o que é balela?
Quais são os riscos?
“Devido ao uso de um composto tóxico absorvido pela pele e, consequentemente, pela corrente sanguínea, o procedimento exige precauções rigorosas. É possível que ocorram complicações, como dor intensa, cicatrizes, alterações na coloração da pele, infecções e até mesmo problemas cardíacos imprevisíveis, independentemente da concentração, do método de aplicação e da profundidade atingida na pele”, alerta a SBD em nota oficial.
Mônica reforça que o procedimento é sim perigoso, especialmente por ser cardiotóxico e nefrotóxico – ou seja, pode atingir o coração e os rins. É justamente por esse motivo que muitos dermatologistas não o realizam, mesmo tendo autorização. “Problemas graves podem acontecer quando há qualquer erro mínimo na aplicação. Por exemplo, só de o médico apertar o aplicador um pouco mais do que deveria, a penetração da substância já se torna maior do que a esperada”, diz.
Como é a recuperação?
Segundo a SBD, a recuperação é prolongada e exige o afastamento das atividades habituais por um período estendido. “Por alguns dias, o paciente não consegue sair de casa porque o rosto incha e ganha um aspecto de queimadura – ele vai ficando cada vez mais avermelhado até ganhar um tom acastanhado, até que essas cascas começam a se soltar da pele”, descreve Mônica. Neste período, é preciso tomar cuidado com qualquer tipo de exposição solar e existe alto risco de infecção. De acordo com Lilian, o processo de descamação dura em torno de dez dias, mas a pele fica avermelhada por pelo menos quatro meses.
LEIA MAIS: ELLE Testa: Lavieen, também conhecido como BB laser
Existem alternativas para o peeling de fenol?
Para a maioria dos casos, sim. Existem hoje incontáveis tipos de tecnologias – entre lasers, ultrassons, microagulhamentos e bioestimuladores de colágeno – que entregam excelentes resultados com muito menos riscos. A indicação de dermatologistas é que estes devem ser considerados antes de que procedimentos mais arriscados entrem na equação.
Ainda assim, não dá para negar que, para pacientes com quadros de marcas mais profundas, o peeling de fenol ainda é o procedimento mais eficaz. “Quando criteriosamente indicado e executado, os resultados obtidos são incomparáveis a outros métodos esfoliativos, proporcionando uma renovação intensa da pele, estimulando a produção de colágeno e reduzindo significativamente rugas e manchas”, arremata a SBD ainda em seu comunicado oficial.
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes