A nova Boca Rosa de Bianca Andrade

Bianca Andrade fala à ELLE Brasil sobre a decisão de relançar a sua marca, Boca Rosa, de forma independente, responde às críticas das redes sociais e dá spoilers do novo portfólio da marca.


Boca Rosa
Foto: Divulgação



Bianca Andrade comemorava o faturamento milionário de sua marca de maquiagem, a Boca Rosa Beauty, lançada em 2018 em parceria com a Payot, quando decidiu relançá-la de forma independente. A decisão pode até ter surpreendido o mercado, mas não quem acompanha de perto o trabalho da empresária e influenciadora. É que Bianca não é do tipo que se contenta com o fácil: quando ela quer alguma coisa, ela faz acontecer. “Para ter controle da mensagem da marca, de que ela estaria verdadeiramente cumprindo sua missão, eu precisava ter o domínio de tudo. Senão, as coisas não aconteceriam do jeito que eu desejava”, conta. Para isso acontecer, ela investiu, do próprio bolso, cerca de 30 milhões de reais. 

A notícia da separação veio em outubro do ano passado e, este mês, Bianca se prepara para fazer no dia 25 o lançamento oficial da nova Boca Rosa – agora sem o Beauty. Os primeiros conteúdos divulgados, mostrando a nova identidade visual e o primeiro produto do portfólio (uma base em stick), mostram que a mudança feita na marca foi 360°. E como tudo o que a empresária faz vira assunto na internet, não é de se estranhar que essas transformações tenham viralizado e recebido críticas nas redes sociais. Bianca, que já está acostumada com as ondas de hate, se diverte e aproveita o burburinho para divulgar a marca. “Eu posso ser a mulher mais fofinha e legal do mundo, e elas ainda assim vão me criticar. Então, sim, usamos isso ao nosso favor e colocamos essa galera para trabalhar para a gente e dar mais visibilidade para a marca”, diz. 

No bate-papo a seguir, Bianca conta o que está por trás da nova identidade visual da nova Boca Rosa, responde às críticas e revela quais os primeiros lançamentos da marca. 

Boca Rosa

Foto: Reprodução/@bocarosabeauty

A última vez que nos falamos foi em julho do ano passado, para uma matéria na ELLE View, e muita coisa mudou desde essa conversa. Na época, você contou que estava focando na Bianca que existe fora do universo de Boca Rosa. Agora, está relançando a sua marca de forma independente. Como foi essa virada?

A marca Boca Rosa chegou para mim como um propósito de vida. E como todo projeto que tem uma missão ou um grande objetivo íntimo, eu precisava estar em sintonia com ela. Nesse sentido, o ano passado foi muito importante para mim. Se eu não tivesse tido a coragem de dar esses dois passos pra trás, não conseguiria estar onde estou hoje, com a visão que tenho agora do que eu desejo mostrar com Boca Rosa. Acho que a grande mudança do ano passado para este é que agora eu tenho muita certeza do que estou fazendo. 

Nessa entrevista, você também comentou que seu objetivo, durante a criação da Boca Rosa Beauty, era ser diretora criativa, enquanto a Payot assumiria a parte de fabricação e distribuição. O que te fez querer assumir o controle de todos os processos?

Para ter controle da mensagem da marca, de que ela estaria verdadeiramente cumprindo sua missão, eu precisava ter o domínio de tudo. Senão, as coisas não aconteceriam do jeito que eu desejava.  A Boca Rosa precisava mudar e eu já sabia que isso ia chocar as pessoas. Principalmente quando falamos do mercado de maquiagem, que, no Brasil, é muito tradicional e comandado por homens. Precisamos questionar: se a maquiagem é um produto consumido majoritariamente por mulheres, por que os donos das marcas são majoritariamente homens? Eu sei que isso é algo difícil da gente conseguir solucionar. Mas se a gente não falar, não cutucar, não trazer protagonismo para essa questão, a mudança não vai acontecer. Esses homens fazem o beabá, o que já sabem que dá certo, o que têm certeza de que vai vender. Eu não queria mais fazer isso. Eu recebi convite de empresas gigantescas que queriam relançar a Boca Rosa junto comigo, mas entendi que precisava ser verdadeiramente dona dessa marca para que eu pudesse contar a história do meu jeito.

Tem um vídeo no seu canal no YouTube em que você diz que a Boca Rosa é uma persona, mais colorida e maximalista, enquanto a Bianca era o oposto disso, bem mais prática e minimalista. Você acha que nessa nova fase da marca é a Bianca quem está falando mais alto?

Quando a marca nasceu, em 2018, ela era muito pequena. Eu precisei usar cores para chamar a atenção. E isso é parte da nossa história, mas passou. A Bianca tem CPF, tem vontades e quer colocar a personalidade, o lifestyle e os posicionamentos dela na marca dela. Antes eu precisava me vestir toda colorida porque senão diziam que eu não combinava com a minha marca. Eu só pensava: “Nossa, mas essa não é mais a Bianca”. Sim, eu era a menina que usava batom rosa todos os dias e, apesar disso fazer parte da minha história, eu mudei. E a minha comunidade tinha o desejo de ver características da Bianca na marca. Hoje me sinto muito mais livre e autêntica por respeitar quem eu sou como mulher, mãe e empresária. A marca, agora, é uma mistura entre a Bianca e a Boca Rosa. E acredito que dá para ser as duas coisas. Sinto que a marca tem uma identidade própria que corresponde ao propósito dela.

Como você viu as críticas à nova identidade visual nas redes sociais?

Honestamente, eu achei o máximo, porque traz foco para uma discussão importante. Afinal de contas, o que é fazer um rebranding? É sobre refazer uma identidade visual ou trazer um novo comportamento para a marca? O nosso rebranding transformou todo o conceito do que é a Boca Rosa. Também acho interessante avaliar a diferença entre a análise de profissionais do mercado, que geralmente lidam com marcas tradicionais, e a minha consumidora. A minha marca é para ela e precisa conversar somente com ela. As pessoas sempre vão criticar uma mulher que é corajosa e segura o suficiente para saber que faz diferença no mercado. Eu posso ser a mulher mais fofinha e legal do mundo, e elas ainda assim vão me criticar. Então, sim, usamos isso ao nosso favor e colocamos essa galera para trabalhar para a gente e dar mais visibilidade para a marca. No final das contas, nós sempre mostramos o que realmente somos e se o meu produto for bom, meu amor, não tem hate na internet que tire ele do nécessaire da consumidora. E acho que é justamente por isso que a volta da marca está fazendo tanto barulho na internet. Porque no meio de todo esse caos das redes sociais, alguém chegar firme e certo do que está fazendo, choca. Mas é justamente essa firmeza que me dá coragem para fazer o que precisa ser feito. 

Essas críticas afetam seu trabalho de alguma forma?

Tem hora que a galera na internet fica muito nervosa, né? (risos) Eu dou risada. A gente tem que levar a sério o que é sério: debates políticos, debates sobre os nossos direitos… Todas essas coisas que estão acontecendo e que precisam de um posicionamento. Mas estou falando de uma marca de maquiagem, de um produto, de uma cor. Acho que não precisa de tudo isso, sabe? Opiniões em relação a mim, honestamente, não me importam muito. Não dá para ficar agradando todo mundo. Isso é coisa de gente sonsa, acho chato! Comentário na internet é o menor dos meus problemas. Tem uma frase que é da minha mãe que eu uso muito: “Eu não tenho medo de ser cancelada. Eu tenho medo das pessoas terem razão”. Então, é por isso que eu trabalho tanto em tudo o que faço. Tenho muito respeito com quem consome os meus produtos. A única coisa que eu tenho medo é de que ela olhe um produto e fale: “Bianca, você me enganou” ou “Bianca, isso não está legal, você não pensou em mim”. Então, na hora que eu desenvolvo um produto, eu fico muito nervosa, porque não quero falhar. Eu sou uma microempreendedora, mas com uma exposição muito grande na internet. Sei que vou errar e isso acaba comigo! Mas isso eu trato na terapia duas vezes por semana. (risos) 

Qual foi a estratégia por trás da escolha da paleta de cores?

Claro que tem muito também do meu gosto – é só olhar a minha casa, as minhas roupas… mas dentro de Boca Rosa tem uma outra história. Estrategicamente, a gente escolheu tons neutros, não só o cinza, mas o off-white, o cinza, o preto e o branco, para destacar a cartela de cores dos produtos. Nas caixinhas da base, por exemplo, uma das laterais vem pintada com cada um dos 50 tons. Quando você junta todas as caixinhas, elas formam um gradiente lindo. O único ponto de cor fora isso é a boquinha rosa, que aparece em pontos estratégicos das embalagens e na comunicação da marca. A gente adora um bom design, mas Boca Rosa não é só sobre isso. É uma marca que tem um conceito, uma mensagem muito forte para passar. É para ser uma revolução mesmo. 

Por que você decidiu começar a nova era da marca com uma base?

A base é o produto que as marcas de beleza mais têm medo de lançar. Principalmente porque é o que as pessoas mais usam para fazer resenhas. Mas a base faz parte da história da Boca Rosa – até a Ivete Sangalo usava a nossa base! Eu estava no quarto à noite, sozinha, quando decidi pegar todas as bases que eu comprei aqui no Brasil e lá fora. Falei comigo mesma: “Bianca, e agora? De todas as possibilidades que você tem, você vai repetir o que já fez ou vai contar uma nova história?”. E foi aí que eu tive um senso de propósito. Mesmo que me critiquem, eu vou fazer acontecer, porque eu confio no que estou fazendo. Seria muito mais fácil eu fazer o que eu estava fazendo antes. Todo mundo ia falar: “Ah, que legal, agora ela tá tocando a marca sozinha”. Mas isso não ia revolucionar nada e eu tenho que ter um propósito por trás das coisas que eu faço. 

São 50 tons disponíveis, algo nunca visto no mercado brasileiro. Como foi o desenvolvimento deste produto?

Não é apenas a maior cartela de cores do Brasil, como é também a maior cartela para peles negras já desenvolvida por aqui. São 50 tons, sendo 28 deles para a pele negra, que foram desenvolvidos pelo Tássio Santos (influenciador conhecido nas redes sociais como Herdeira da Beleza). A base nasce com pluralidade na essência, e isso era inegociável para nós. Além disso, ela tem um acabamento lindo, tem FPS, é formulada com antioxidantes e é vegana.

Boca Rosa

Foto: Reprodução/@bocarosabeauty

Como é o resto do portfólio da marca? Todos os produtos são novos ou tem algum que você está trazendo de volta?

É tudo novo! É claro que a gente também tem um apego forte com a nossa história e com os maquiadores, que eram o principal público da marca antes, e provavelmente vamos trazer de volta alguns produtos, mas não agora. A gente fala que Boca Rosa nasceu para o maquiador com uma maleta e agora ela nasce para a mulher real com uma bolsa. A marca é simples, minimalista, prática e objetiva. É aquele feijão com arroz bem feito que faz toda a diferença. A vida é corrida e às vezes você precisa se maquiar no carro em 10 minutos. Nesses casos, a base líquida não é prática, não dá para conseguir um bom acabamento com ela usando as mãos, por exemplo. Com o pó solto é a mesma coisa. Eu fui uma das primeiras influenciadoras com marca a trazer o pó solto para o Brasil, mas olhando para a realidade das mulheres aqui, entendi que ele não funciona tão bem no dia a dia. E sabe como eu percebi isso? Com a minha mãe, a Mônica. O único produto que ela não usava de Boca Rosa era o pó, acredita? Porque dizia que achava difícil de manusear e que a versão compacta era muito mais simples. Depois disso, saí perguntando para mulheres de fora da bolha da maquiagem qual tipo de pó elas usavam, e a resposta era sempre compacto. Essas coisas influenciaram muito o portfólio da marca.

Quais os próximos lançamentos?

Teremos sticks que podem ser usados como blush e batom, seguindo o conceito de multifuncionalidade. O pó facial, claro, que deixo para você descobrir se vai ser solto ou compacto. (risos) Mas o que posso dizer é que ele tem acabamento translúcido. Também vamos ter máscara de cílios resistente à água com uma fórmula inédita no Brasil e outros produtinhos para olhos. E, claro, uma linha de boca, que tem muito foco em tratamento. Começamos com a boca rosa e agora queremos essa boca saudável e hidratada para ela poder se comunicar livremente! (risos) Tudo isso vem até o fim do ano. 

O que mudou na sua rotina na marca depois que ela se tornou independente?

Meu dia a dia mudou muito. A minha carga de estresse é muito maior agora. Minha rotina de CEO é reunião o dia inteiro! Por isso, acabo não estando tão ativa como influenciadora nas redes sociais. Tenho, inclusive, falado muito sobre isso, porque existe uma cobrança de a gente estar online full time por conta do algoritmo, mas isso adoece a gente. Eu ainda mantenho uma grade de conteúdo, mas não dá para ter a presença que eu tinha antes, e foi preciso muita maturidade para entender isso. Porque é uma jornada dupla, né? Tripla, se contarmos a maternidade. Como empresária, passo o dia resolvendo problemas e dando direcionamento para a minha equipe, ao mesmo tempo que a criadora de conteúdo precisa ter criatividade e engajar a comunidade – e tudo isso com qualidade! E ainda tem a vida pessoal que, neste ano, acabou. (risos) Talvez nos próximos anos eu consiga separar um pouco a Bianca da Boca Rosa, mas agora isso não existe. 

As tendências do mundinho da internet e a vida real das pessoas é muito diferente: o mundo da beleza, especialmente no Brasil, acontece fora do TikTok. Ainda assim, a gente sabe que muitas marcas, especialmente as com forte presença digital, acabam se baseando em trends para lançar produtos. Como é para você equilibrar esses dois universos?

Essa foi uma grande questão para a gente. É um ponto de evolução da Bia, nativa do digital, para uma Bianca empresária, dona de uma das maiores marcas de maquiagem do Brasil – que não é só da internet, é de todas as mulheres, em todos os lugares do país. Falamos que somos todas as vozes em uma só boca. Por isso, tiramos a lente do público nichado da internet e abrimos os olhos para a realidade brasileira. Quais são os produtos mais vendidos? O que está na bolsa da mulher brasileira? Como elas realmente fazem essa maquiagem no dia a dia? Será que elas ficam o dia inteiro com uma câmera gravando conteúdo? Ou elas estão ali no corre do dia a dia, às vezes fazendo a maquiagem com uma criança no colo? Ou correndo para o trabalho e se maquiando no carro? A gente entende que a internet tem sua importância e que ela é influente, mas ainda assim é uma bolha. E a Boca Rosa não vai ficar na bolha. Não são as tendências das redes sociais que vão influenciar a marca. Acho que esse foi um dos motivos que fizeram com que o relançamento gerasse tanta comoção. E vai gerar ainda mais, tá? A internet vai ficar chocada com o que vem por aí. (risos) 

No geral, nós somos muito influenciados pelas tendências do mercado internacional. Você olhou para isso ao estruturar o que seria a nova marca?

É essencial olhar o que está acontecendo no mundo para detectar o que não está acontecendo ainda. Por isso, no ano passado, em todas as viagens, fiz pesquisa de mercado. Fui a todas as lojas descobrir o que marcas como Fenty Beauty e Charlotte Tilbury estavam fazendo e também encontrar as lacunas onde o meu produto poderia fazer a diferença. Também contratei o WGSN (empresa nova-iorquina de previsão de tendências) para fazer uma pesquisa profunda para entender como eu poderia ajudar o meu público. Eu quero poder olhar para o que ninguém está olhando. Mas é importante dizer que o mercado brasileiro também me inspirou muito! Testei muitos produtos de marcas nacionais, porque queria que a Boca Rosa se diferenciasse. 

Também na nossa última conversa, você falou sobre a possibilidade de internacionalização da marca. Isso ainda é um plano? Quais novos sonhos você tem para a Boca Rosa?

Eu sempre digo que meu sonho de vida é que a minha marca esteja na mesma prateleira junto com Fenty Beauty e Kylie Cosmetics. (risos) E eu sei que isso vai acontecer! Eu acredito muito no que a gente produz de cosméticos e maquiagens aqui e acho que temos muito o que ensinar para as gringas. Quero chegar lá, mas quero que a Bruna Tavares, a Mari Saad e outras empreendedoras da beleza nacional também estejam lá para que a gente possa contar a nossa história para o mundo. 

 

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes