Conversamos com Norvina: a mente criativa por trás da Anastasia Beverly Hills

A presidente da marca de maquiagem revela à ELLE Brasil os bastidores do seu trabalho, do desenvolvimento de novos produtos à estratégia para as redes sociais.


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Ainda que a maquiagem caia em estereótipos ultrapassados relacionados à futilidade, vozes potentes do universo da beleza provam, todos os dias, que se maquiar é um ato de expressão e criatividade. Maquiagem pode também ser arte e ai de quem ouse dizer o contrário! Norvina, presidente e diretora criativa da Anastasia Beverly Hills Cosmetics, é definitivamente uma dessas pessoas. 

Filha de Anastasia Soare, fundadora da marca, Claudia (seu nome romeno) é dona de um olhar apurado para cores e uma sagacidade especial para lidar com as redes sociais. Foi ela a responsável pelo pioneirismo da ABH no Instagram e por tornar a antiga linha de sobrancelhas da mãe uma das maiores marcas de maquiagem da atualidade. 

Claudia celebra agora a chegada da Norvina Collection, sua linha de paletas de sombras dentro da Anastasia Beverly Hills, no Brasil em fevereiro. Aproveitamos este momento tão especial para conversar com ela em videoconferência – com direito até a uma espiadinha em seu belíssimo estúdio! No bate-papo, a empresária se abre sobre sua relação com a beleza, conta detalhes da sua rotina e revela os bastidores dos primeiros passos da marca nas redes sociais.  

Você cresceu muito próxima ao universo da beleza. Qual era sua relação com este assunto quando era mais jovem? 

Quando adolescente, eu era emo e até um pouco gótica – amava delineador e máscara de cílios. Mas meu pai era bem rígido e não deixava eu fazer quase nada. Eu tinha um armário na escola onde escondia todas as minhas maquiagens e perfumes. Chegava lá e usava o que queria, mas antes de ele me buscar, corria para o banheiro e tirava tudo. A beleza era meu grande segredo. (risos) 

Você é filha de uma imigrante que precisou trabalhar muito para chegar onde está agora. Como isso te moldou? 

Minha mãe sempre trabalhou muito e definitivamente passou isso para mim. Trabalho que nem doida! Ela me ensinou que é preciso fazer o trabalho pesado ao invés de ser uma executiva que só fica sentada mandando nos outros – ninguém me respeitaria se eu fizesse isso. Com certeza herdei a determinação e a dedicação dela.

Você sempre sonhou em trabalhar com beleza? 

Na verdade, não, nem um pouco. Quando era mais jovem, queria ser atriz. Eu fazia teatro no colégio e meu professor dizia que eu tinha que ir para Nova York estudar cinema para me especializar. Mas quando minha mãe abriu o salão e iniciou sua linha de maquiagem, que logo começou a ser vendida da Sephora, precisei ajudá-la. 

Como foi esse processo? 

No começo, minha mãe não me deixava eu desenvolver maquiagem, obviamente. Eu passei por várias posições em todas as áreas para de fato entender o que era o negócio: vendas, marketing, propaganda visual, etc. 

Hoje você é a presidente da Anastasia Beverly Hills, mas assume diversas funções na empresa – do desenvolvimento de produtos até marketing e mídias sociais. Como é a sua rotina de trabalho? 

Assim que acordo, respondo os e-mails que chegam durante a madrugada da Ásia e da Europa. Quando chego no escritório, sempre tem uma caixa de produtos para serem testados – tanto lançamentos quanto amostras de pré-produção para ter certeza de que estão perfeitos. Gosto de fazer isso antes de todo mundo começar a trabalhar. Eu fico no estúdio, então, depois disso, todo mundo começa a falar comigo: “É isso que vamos fotografar hoje”, “Você pode selecionar essas imagens?”, “Você consegue me mandar um moodboard para as campanhas de verão?”. No meio disso tudo, faço reuniões com o pessoal de produção para uma sessão de fotos que vai acontecer no dia seguinte, falo com o pessoal de vendas na Coréia, aprovo cores para produtos… Sou como um polvo, faço coisas o tempo todo. (risos)

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A paletta Pigment Vol.3 da Norvina Collection está na Sephora por R$ 499. Divulgação

Você consegue descansar? 

Até que sim, mas até mesmo à noite, quando estou em casa, fico no TikTok, tenho ideias para as redes sociais… Sou muito hiperativa, igual minha mãe. Somos péssimas nessa coisa de “descansar”, não está no nosso DNA. Há uns 10 anos, dei de presente a ela um final de semana em um resort com um spa famoso. Nós dirigimos até lá no sábado de manhã, fizemos massagens e ficamos totalmente entediadas. Voltamos para casa no jantar. (risos)

Você é conhecida como a rainha das cores. Estou curiosa para saber como é o seu processo de criação de novas paletas de sombras. 

Às vezes, só tenho uma ideia puramente criativa. Mas já fizemos tantas paletas que agora preciso ter um olhar um pouco mais técnico, porque não queremos nos repetir. Mas basicamente, quando tenho uma ideia, crio um moodboard com imagens aleatórias do Pinterest que não têm nada a ver com maquiagem, mas sim com um conceito – celestial, fantasia, etc. A partir disso, deixo a ideia marinar e vou pensando em cores que conversem com ela. É quase como sonhar acordada e pensar nesse sonho a partir de uma paleta de cores. 

Podemos dizer que as redes sociais tiveram um impacto enorme em transformar a Anastasia Beverly Hills no que é hoje? 

Com toda certeza! Antes disso, a marca precisava colocar muito esforço para fazer a divulgação dos produtos, porque nossa verba de mídia era pequena. Basicamente, se você não tivesse muito dinheiro, dificilmente sua marca se tornaria conhecida. As redes sociais nos deram uma plataforma. 

Vocês foram, provavelmente, a primeira marca de beleza a ter uma presença forte no Instagram. Como isso aconteceu? 

Sempre amei o Instagram, desde o começo. Gostava das imagens! Era como Tumblr, mas muito melhor… Em 2012, comecei a nossa conta falando sobre sobrancelhas e postando imagens que eu gostava, basicamente. Neste mesmo ano sugeri que a gente se tornasse uma marca de maquiagem – até então, vendíamos apenas produtos para sobrancelhas. Percebi que havia uma subcultura de maquiagem nas redes sociais, formada principalmente por maquiadores, o que era muito legal. Naquela época era muito mais fácil criar uma comunidade de pessoas que realmente eram apaixonadas pelo assunto. Logo também comecei a enviar kits para os primeiros influenciadores da rede. Era uma época bem divertida! 

Qual a influência dessa comunidade que vocês criaram no desenvolvimento de novos produtos? 

Era muito maior anos atrás porque, como eu disse, a comunidade era realmente muito focada em maquiagem. Agora existem pessoas que só falam por falar. Então, é preciso ter mais cuidado para não confundir o que os consumidores realmente querem e precisam com o que alguém fala de forma aleatória só porque pareceu legal naquele momento. Acredito que as pessoas são mais claras com relação ao que elas querem quando não falam diretamente, mas sim postando nas redes. Elas sempre deixam claro o que querem. 

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O roxo e o lilás são as cores preferidas que Norvina. A paleta de sombras Vol.1 é prova disso! Divulgação

Nossa ideia de beleza tem se transformado. Como você enxerga este processo? 

Sempre fui “diferentona”, nunca me encaixei, principalmente porque cresci em Los Angeles. Precisei lidar com o fato de que não era uma “loira californiana”, tinha traços romenos e sempre fui lida como uma “garota alternativa”. Mas acho incrível como agora todas as belezas são aceitas. Porque é impossível se encaixar naquele padrão de “nossa, essa é a pessoa mais maravilhosa do mundo e todos nós concordamos!”. Por isso é saudável que essa ideia seja cada vez mais ampla e que aceite mais pessoas do jeito que elas são. Imagina quão tedioso seria o mundo se só víssemos beleza nas mesmas coisas? Seria estranho demais!

 

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