Tem limite: uma reflexão sobre a diversidade a partir do Victoria's Secret Fashion Show

A música sempre foi (e continua sendo) um elemento muito importante para o Victoria’s Secret Fashion Show. O desfile de lingerie da marca estadunidense, durante seu período de glória, já trouxe à sua passarela – para além de suas antes exclusivamente esquálidas “angels” – nomes do pop que vão de Rihanna a Justin Timberlake passando por Lady Gaga, The Weeknd, Taylor Swift…

Cher no Victoria's Secret Fashion Show. Foto: Getty Images

No entanto, durante o comeback do evento que aconteceu hoje, 15 de outubro de 2024, nem o “Believe” – icônico hit de Cher cantando ao vivo pela própria – conseguiu superar o barulho que uma outra canção fazia na minha cabeça. No caso, a faixa “The Limit To Your Love”, lançado em 2007, da canadense Leslie Feist, que nunca deve ter ido a um VSFS.

Em seu disco, The Reminder, ela fala sobre a busca por um significado na vida, sobre perda, sobre solidão, mas acima de tudo, sobre amor. Nesta canção que ressoava em mim, ela canta: “Há um limite para o seu amor / Como uma cachoeira em “slow motion” / Como um mapa sem oceano / (…) Há um limite para o seu cuidado / (…) É verdade ou desafio?”

Carla Bruni. Foto: Getty Images

Quando você olha para Carla Bruni, aos 56 anos, na passarela da Victoria’s Secret, ou para o corpo cheio de curvas de Ashley Graham, ou de Paloma Elsesser, a impressão imediata é de que as coisas mudaram. Corpos como esses jamais chegariam perto das fantasias aladas da etiqueta. No entanto, parece que há um limite para essa diversidade.

“Eu estou juntando os pedaços desse quebra-cabeças / Tem algo fora do lugar”, continua Feist. Quando uma barriga não é exatamente negativa, a lingerie em questão a cobre. Quando é uma mulher mais velha que entra em cena, há algo mais “modesto” em sua fantasia. Quando um corpo gordo está sob os holofotes, que corpo gordo é esse? A cintura marcada continua lá, ainda que em uma nova proporção.

Paloma Elsesser. Foto: Getty Images

Por um lado a gente quer comemorar: é uma festa pop, são mulheres amadas pelo mundo inteiro fazendo o que mais amam – o sorriso vem a galope. Por outro, vi minhas amigas dizerem que talvez deveriam comer menos, entrar em uma dieta, depois de terem assistido ao espetáculo – afinal, mesmo que nem todas as meninas fossem exatamente magérrimas, a maioria esmagadora ainda era.

O VSFS deu um baile de diversidade nas Semanas de Moda de Paris, Londres, Milão e Nova York. A mudança existe. Mas para quais caminhos ela realmente aponta? Mais do que isso, o que essa diversidade diz sobre nós – sobre a nossa definição de beleza? Quão elástica, quão cômoda pode ser essa palavra. Tem lugar para todo mundo dentro dela? Ou será que a gente ainda topa se moldar pra caber ali? Para fechar, nada melhor do que um começo – a primeira frase de “The Limit To Your Love” diz assim: “As nuvens se afastam para nos deixar com só um pouquinho de sol”.