O que diz a pele de Madonna?

No aniversário da rainha do pop, refletimos sobre a obrigação da juventude na indústria do pop e a condenação incontornável à qual a cantora é submetida.


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Foto: Instagram/Reprodução @madonna



Na noite da entrega dos Grammy’s deste ano, Madonna foi fotografada de perto. Nas imagens – que posteriormente viralizaram no TikTok com uma surra de críticos violentos tão verbais quanto os defensores da cantora que, obviamente, não se calaram frente aos ataques –, Madonna aparece muito diferente da imagem cristalizada que, até não muito tempo atrás, tínhamos da cantora.

Na minha adolescência, Madonna já tinha seus 50 anos. E todo mundo dizia: “Como pode, né? Ela não envelhece?”, “Como aguenta dançar desse jeito com esse idade?”, “Será que ela nunca vai cansar?”, “Mas também, rica desse jeito…” – eu venho do interior conheço de perto (tão de perto quanto a foto de Madonna no Grammy) o que se diz no tricotar das senhorinhas, o destilar do veneno disfarçado de elogio.

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Madonna em seu arquivo, ao lado do corset desenhado por Jean Paul Gaultier para a tour Blonde Ambition, nos anos 1980. Foto: Reprodução/Instagram @madonna

Corta de novo para 2023 e, de repente, todo mundo descobriu que “Madonna está velha, né?”, que “Finalmente a conta chegou”, que “Nossa, como ela mexeu no rosto”… E, sim, Madonna não tem medo das agulhas, dos preenchimentos, dos liftings, de nada disso. Pode ser que ela tenha muito medo de parecer velha, de aparentar ser velha – e que, nessa corrida contra o tempo, ela tenha acabado por se perder em meio as próprias autocorreções de modo a conquistar um resultado oposto do desejado. Pode ser… Mas e se Madonna tivesse envelhecido de fato? Tivesse deixado as rugas à mostra, tivesse deixado o cabelo grisalho aparecer – será que ela ainda teria autorização social para continuar sendo Madonna?

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A verdade é que Madonna sabe muito bem o destino de quem se permite enrugar em uma indústria como a qual ela trabalha. E esse destino, esse futuro da diva misteriosa, que vai lentamente saindo dos palcos até se tornar uma lenda, não é para ela. Madonna quer continuar, quer gravar, quer dar show, quer falar, quer fazer. E, sendo mulher, sendo Madonna, para ter visibilidade, para manter-se no holofote, tudo aquilo que a luz toca precisa gritar jovialidade – as bases dessa violência vocês sabem bem o nome.

Mas e se Madonna tivesse envelhecido de fato? Tivesse deixado as rugas à mostra, tivesse deixado o cabelo grisalho aparecer – será que ela ainda teria autorização social para continuar sendo Madonna?

A questão é que, de fato, o tempo é uma força incontornável, Madonna vai perder essa luta, se é que já não perdeu, mas ela ganhou outras, te garanto. O que, ao observá-la, muitas vezes esquecemos é que essa luz que irradia sobre ela, que implora, que obriga, que oprime ao clamar por uma juventude que já se foi, brilha em Madonna como em ninguém mais no mundo.

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Isso porque ninguém vai marcar de novo a história do pop como Madonna – ela está no cerne de um gênero musical e de toda uma indústria que, hoje, está entre as coisas mais relevantes, mais observadas, mais obcecantes do mundo. Ninguém mais vai fazer qualquer coisa que ela já tenha feito porque, até aqui, tudo o que ela fez tem o peso e o sabor do pioneirismo. Madonna abre caminhos, abriu caminhos e continua abrindo.

O que eu quero dizer é que seja lá o caminho que ela escolher, seja lá o que ela fizer, seja lá o que ela escolher comer no café da manhã, seja lá o que ela decidir injetar no rosto: haja o que houver ela será sempre alvo inesgotável de críticas. Nas palavras de Jojo Toddynho – uma discípula de Madonna em termos de atitude de inconformidade: “quem te critica, vai te pagar um leite?” Madonna paga o dela sozinha – mais gente podia seguir o exemplo.

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