Por que o uso do protetor solar está sendo debatido nas redes sociais?

Ainda que seja a recomendação nº1 dos dermatologistas, os cremes com FPS estão gerando discórdia na internet. Aqui, ajudamos a separar a ciência das fake news ao redor do produto.


protetor solar, tiktok, cancer
Foto: Getty Images



O protetor solar é uma das primeiras e mais universais recomendações dos dermatologistas. Isso porque é ele que protege a nossa pele da ação das radiações ultravioletas – envelhecimento precoce, ressecamento, aspereza, perda da elasticidade cutânea e estímulo ao desenvolvimento do câncer de pele que, por sinal, corresponde a 30% dos tumores malignos diagnosticados no Brasil. “São mais de 175 mil novos casos por ano”, diz o dermatologista Guilherme Muzy, de São Paulo, citando dados divulgados pelo INCA (Instituto Nacional do Câncer) em 2020.

O que dizem sobre o protetor solar no Tiktok?

Apesar do respaldo médico, o produto não escapou às discussões acaloradas que, vez ou outra, explodem nas comunidades de “skinlovers” em diferentes redes sociais. Uma das principais polêmicas está associada ao resultado de uma pesquisa feita pela FDA (Food and Drugs Administration, organização estadunidense com papel semelhante ao da ANVISA no Brasil) em 2019. O estudo observou o plasma sanguíneo de 24 pessoas que fizeram uso constante dos quatro protetores solares mais vendidos nos EUA. Por quatro dias, 75% da superfície do corpo dos participantes era coberta por qualquer um desses protetores. 

No final do período de teste, foram detectados níveis maiores que os permitidos pela FDA de quatro substâncias orgânicas no organismos dos participantes: avobenzona, oxibenzona, ecamsule e octocrileno. Apesar disso, não houve uma conclusão sobre quais são ou se há qualquer efeito – benéfico ou maléfico – ligado a presença dessas substâncias no sangue. Mais recentemente, novos estudos tentam entender quais são as possíveis consequências disso, mas a organização deixa claro: absorção não significa risco.

O que dizem os dermatologistas sobre o protetor solar?

Ainda assim, na ausência de respostas mais diretas sobre o assunto, veio à tona uma série de fake news contraindicando o protetor solar. “Os próprios pesquisadores comentaram que esta é uma observação para ser discutida, mas que não é um motivo para deixar de usar protetor porque os seus benefícios já estão bem estabelecidos”, rebate Guilherme Muzy. “E o principal benefício é a prevenção do câncer, uma doença gravíssima.”

Skincare: testamos protetores solares com fps acima de 30

Foto: Bárbara Rossi

Priscila Bossardi, dermatologista de Curitiba, reforça: “É difícil declarar a toxicidade sistêmica de algum produto. Para isso, é preciso encontrar níveis extremamente altos dessas substâncias na corrente sanguínea“. Isso não acontece, inclusive, porque a absorção do protetor solar não é sequer um dos objetivos de sua formulação. “A ideia é que ele forme uma película sobre a pele. É exatamente essa película que nos protege dos raios UVB e UVA“, explica Danieli Marcato, química e mestre em ciências farmacêuticas com ênfase em cosmetologia pela UNESP.

Mais preocupações…

Outra preocupação que pipocou pela internet está relacionada à incorporação de ingredientes vinculados a alterações hormonais em cosméticos. “O disruptor endócrino é uma substância que poderia ter a mesma conformação de um hormônio do corpo e, por isso, gerar algum efeito indesejável no organismo”, define Guilherme pouco antes de dizer que os protetores solares não têm essa característica.

“Não há nenhum tipo de evidência que sustente o argumento de que o filtro solar leve a alterações dessa ordem”, continua. O site estadual paulista da Sociedade Brasileira de Dermatologia também esclarece que não existem estudos conclusivos que comprovem o aumento de câncer ou disrupções endócrinas causadas pelo cosmético.

Não deixe de usar protetor solar!

Fato é que a exposição solar continua sendo o principal fator de risco externo para o câncer de pele e medidas simples como o uso do protetor são fundamentais para melhorar as estatísticas. “Você não consegue vender um protetor solar com a aprovação da ANVISA sem apresentar um estudo de fator de proteção solar”, diz Danieli. Portanto, se o produto à venda exibe um FPS, ele foi aprovado e você deve encontrar em sua embalagem um número de processo. A partir dele, é possível confirmar a regularidade do produto no site da ANVISA. “Hoje, não existe nada que substitua o protetor solar tópico”, arremata Priscila. Proteja-se! Aqui, um guia completo para você escolher o seu!

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes