Uma tempestade chamada menopausa

No meio do caminho para a libertação da maturidade, há a prova de fogo (e calor!) da menopausa. Quebre tabus, fale sobre o assunto e atravesse a tormenta da melhor maneira possível.


ilustração sobre menopausa
Ilustração: Mariana Baptista



Lembra da pororoca? Então, entrar na menopausa é praticamente a mesma coisa: um fenômeno natural, mas que a gente nunca sabe no que vai dar. Pronto. Agora que a gente já preparou seu espírito para o que der e vier, vamos aos fatos.

Fato um: somos mulheres na peri e pós-menopausa e, se antes de entrarmos nessa fase já havia várias versões de nós mesmas dentro de cada uma, imagine o que acontece quando nossos hormônios começam a pirar. Viramos o plural de algo que já está no plural. Fato dois: algumas não vão sentir muita diferença, mas a maioria vai ter sua vida virada de cabeça para baixo. Fato três: informação é liberdade. Liberdade para escolher como queremos viver e de que forma queremos envelhecer. 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2030, seremos 1 bilhão de mulheres na menopausa no mundo. E, apesar de existirem cerca de 55 tipos de especializações médicas (segundo o Conselho Federal de Medicina), nenhuma delas é a menopausa. Não podemos deixar de falar sobre o assunto por puro preconceito contra o fato de estarmos envelhecendo. Naturalizar o tema é fundamental para que as mulheres possam ter mais qualidade de vida nessa fase.

A gente sabe que, muitas vezes, ao se olhar no espelho, o susto é tão grande que parece que a gente está vendo um reflexo distorcido no labirinto do Playcenter. Isso incomoda, mas a queda do estrogênio que acontece nessa fase da vida não prejudica só o colágeno, fazendo as rugas aparecerem e o rosto derreter. É do lado de dentro que mora o maior perigo!

Claro que nem todas gabaritam nos sintomas, mas até as mais sortudas precisam entender as mudanças que ocorrem para poder se cuidar da melhor forma possível. O corpo dá sinais que são verdadeiras sirenes, gritando por socorro, mostrando o caos metabólico que leva a desequilíbrios e doenças crônicas que poderiam ser PREVENIDAS. Isso mesmo, “prevenidas” com letra maiúscula! Como fazer isso? Basta ter informações. E, quanto mais, melhor. 

Já foi comprovado que a genética corresponde apenas a 30% das causas das doenças. Ou seja, 70% dos problemas de saúde aparecem por fatores que podem ser evitados ou, pelo menos, minimizados. Sedentarismo, obesidade, estresse, alimentação ruim, maus hábitos e até a poluição química desencadeiam processos que são invisíveis, mas muito perigosos. 

A menopausa e o coração

Você sabia, por exemplo, que existe uma relação entre as doenças cardíacas e a menopausa? Pois é. Isso acontece porque o estrogênio, que estimula a flexibilidade e a dilatação dos vasos, deixa de ser produzido na meno. Mas calma. Isso não significa que você vai enfartar quando parar de menstruar! Saber dessa informação é importante para você poder escolher entre não fazer nada a respeito (e seja o que Deus quiser!) ou encontrar outra maneira de fortalecer seu coração, como praticar exercícios físicos. 

Outros efeitos da queda dos níveis estrogênicos na perimenopausa (que se acentuam na menopausa) são a predisposição ao aumento de peso, do colesterol e da fadiga e também à queda do gasto energético, elevando o risco de pressão alta e acúmulo de gordura.

Além disso, com o tempo, ocorre a diminuição da fabricação de enzimas digestivas e ácido clorídrico, essenciais para a digestão, particularmente de proteínas. E infelizmente o efeito não se resume a gases, sensação de estufamento e refluxo. Quando a proteína mal digerida chega ao intestino, ela faz uma grande bagunça, que desequilibra a microbiota local e provoca a diminuição da absorção de nutrientes importantíssimos, além da queda de produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina – que, por sua vez, provoca alterações mais graves do humor e compromete o sistema imunológico. E aí, por falta de informação, a mulher é tratada com antidepressivos ou ansiolíticos, quando, na verdade, a “doença” em questão não é a depressão, mas a menopausa.

Outro sintoma pouco falado, apesar de comum nessa fase, é a neblina mental, um efeito da queda abrupta de estrogênio no hipocampo, a região cerebral ligada à memória. Na prática, é quando algumas mulheres começam a ter dificuldade para lembrar de palavras, do que estavam indo fazer ou de se concentrar. 

Já as famosas irritabilidade e mudanças de humor não são uma novidade para a maioria das mulheres (afinal, passamos a vida sofrendo de TPM). Mas agora há duas vantagens: você não fica mais menstruada nem corre o risco de engravidar. É, amiga, a sorte virou!

E, claro, há os famosos calorões causados por alterações hormonais. Também conhecidos como fogachos, eles ocorrem quando há uma dilatação muito rápida dos vasos, que gera um aporte maior de sangue para a região da cabeça, do peito e do pescoço. Resultado: acordamos no meio da noite com a cama encharcada e a certeza de que a vida só é possível com ajuda de aparelhos… ar-condicionado, ventilador ou geladeira.

Por último, mas não menos pior, vem a atrofia vaginal. Isso não quer dizer que a vagina e a vulva da mulher vão se fechar! O que acontece é que a falta do estrogênio prejudica a lubrificação e a elasticidade da vagina, dando a sensação de que ela está mais curta e apertada. Olhando pelo lado ruim, isso pode causar dor na hora do sexo, mas olhando pelo lado bom… Bem, desculpa, não tem lado bom. Ou melhor, tem sim! Sabendo disso, você não vai ser pega de surpresa e já pode fazer um estoque de lubrificante na sua casa antes de transar loucamente com quem quiser e como quiser. Porque, lógico, a liberdade de escolha vem com a informação. 

E, com informação, a menopausa pode ser tudo. Menos pausa!

Camila Faus e Fernanda Guerreiro são criadoras do @she____t. Uma plataforma de conteúdo feita para mulheres que acreditam que a idade dos “enta” rima com experimenta.

 

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