As revelações de “Harry & Meghan”
Os primeiros episódios da série em que o casal conta sua versão da história chegam à Netflix.
Se a Netflix tivesse lançado The crown um pouquinho antes, pelo menos Meghan Markle saberia fazer a reverência à rainha antes de conhecê-la. A Duquesa de Sussex e seu marido, o Príncipe Harry, contam a sua versão da história na série em Harry & Meghan, minissérie em seis episódios da Netflix, dirigida por Liz Garbus, indicada ao Oscar pelos documentários The farm: Angola, USA (1998) e What happened, Miss Simone? (2015).
Os três primeiros estrearam nesta quinta-feira (08.12) na plataforma e cobrem a vida de ambos antes de se conhecerem, o primeiro encontro e os desafios de manter um relacionamento à distância. Tratam também das primeiras dificuldades com os paparazzi, com os tabloides e o choque cultural de Meghan ao entrar na família real, com registros bastante íntimos, incluindo vídeos e mensagens de texto trocadas entre o casal e fotos da conta secreta de Harry no Instagram, além de imagens dos filhos dos dois. O compartilhamento não deve ajudar muito nas críticas de que o casal quis deixar os compromissos da realeza para proteger os filhos. Harry explica que, para ele, a palavra consentimento é chave.
A série também traz uma rara entrevista da mãe de Meghan, Doria, e de amigos da atriz, além de ex-funcionários e especialistas na realeza britânica, em história e relações raciais no Reino Unido. Ninguém da família real fala nos episódios.
Os três últimos episódios entram no ar na próxima quinta-feira (15.12) e devem abordar mais a fundo a decisão do casal de deixar a vida na realeza em fevereiro de 2020. A seguir, alguns pontos que descobrimos nos três primeiros episódios:
Por que fazer um documentário?
Meghan explica que a decisão não foi confortável. “Mas quando você acha que as pessoas não têm noção de quem você é por tanto tempo, é muito bom ter a oportunidade de deixá-las verem um pouco mais do que aconteceu e também de quem somos”, diz.
Como se conheceram?
A então atriz tinha acabado de terminar um namoro e resolveu fazer uma viagem pela Europa para aproveitar a solteirice. “Eu tinha uma carreira, uma vida, uma trajetória traçada. E aí veio o H…”, diz – ela chama o marido de H., e ele a chama de M. “Isso, sim, foi uma reviravolta.” Em seu Snapchat havia uma imagem com um filtro de orelhas de cão, e isso chamou a atenção do príncipe, que tinha um amigo (ou amiga) em comum com a atriz. Os dois começaram a trocar mensagens de texto depois de ela checar seu Instagram secreto e ver imagens de suas viagens à África. Eles se encontraram para um drinque no restaurante 76 Dean Street em Londres – ele chegou meia hora atrasado. No dia seguinte, ela o convidou para jantar. Foram ao mesmo lugar.
Divulgação/Netflix
O início do relacionamento
Eles trocavam mensagens, já que ela gravava a série Suits em Toronto, e ele tinha compromissos pelo mundo. O terceiro encontro aconteceu em agosto de 2016, quando ela aceitou encontrá-lo em Botsuana. Ficaram em uma tenda, sem espelho, sem banheiro. A partir dali, Meghan estabeleceu a regra de que se veriam a cada duas semanas, mais ou menos. Eles tiveram de manter o romance em segredo por alguns meses.
A presença de Diana
Em diversos momentos, Harry cita a mãe. Compara Meghan a Diana: “Muito do que a Meghan é e como ela é lembra a minha mãe. Ela tem a mesma compaixão, a mesma empatia, a mesma confiança. Ela tem esse calor humano”, diz ele, enquanto imagens de Diana com ele bebê e criança são alternadas com fotos de Meghan e Archie, o primeiro filho do casal. Mais tarde, ele afirma que sabe que muitos discordam do que ele fez e de como fez. “Mas eu tinha de proteger minha família, especialmente depois do que fizeram com minha mãe. Não queria que a história se repetisse.”
Os paparazzi e os tabloides
O principal alvo de Meghan e Harry nos três primeiros episódios são os paparazzi, que começaram a segui-la desde a descoberta do romance, e os tabloides que compram essas fotos. A série explica como funciona a troca de informações, com especialistas dizendo que há permissão para a família real existir desde que, em troca, detalhes de suas vidas possam ser divulgados pelos tabloides para a população. Em uma viagem a Nova York, a câmera mostra a tensão tanto dos motoristas e seguranças quanto a de Harry e Meghan para fazer um trajeto de 20 minutos. “Segurança em primeiro lugar”, diz ela. Diana morreu em um acidente de carro quando o motorista tentou escapar de paparazzi em motos em Paris.
Divulgação/Netflix
O contato com a família real
O primeiro membro sênior que Meghan conheceu foi a avó de Harry, a rainha Elizabeth 2ª. Foi meio de surpresa. “Você sabe fazer a reverência, certo?”, Harry perguntou. Meghan achou que era piada. E descreve o que fez como algo saído do Medieval Times, uma atração que mistura jantar e show baseado na Idade Média. Na primeira vez em que se encontrou com Kate, a Duquesa de Cambridge, ela estava de jeans rasgado e descalça e foi abraçá-la, sendo que os britânicos costumam ser reservados. “Eu percebi que a formalidade que eles tinham em público estava presente no privado também. Isso foi surpreendente”, diz Meghan.
O racismo
Harry tentou alertar a sua família de que era preciso proteger Meghan. Os homens disseram que suas namoradas e mulheres passaram pelo mesmo, que não havia razão para ser diferente. Ele insistiu que, por ela ser birracial, era necessária uma camada a mais de cuidado. Meghan menciona casos em que sua mãe era confundida com uma babá e se recorda de uma vez em que Doria foi xingada com uma expressão racista nos Estados Unidos. “Mas nós nunca falamos sobre o assunto”, diz ela. A mãe afirma que, se pudesse voltar atrás, teria tido uma conversa com a filha sobre como ela poderia ser alvo de racismo. O documentário defende a tese de que a entrada de Meghan no cenário da família real se deu em momento pouco propício, em meio às discussões anti-imigração que acabaram resultando no Brexit. Mas também mostra como ela foi bem recebida por grande parte dos britânicos, por ser inclusive muito parecida com vários deles, vindos das muitas ex-colônias.
Família, família
Os três primeiros episódios não contêm críticas à família real, especialmente aos avós, ao irmão e à cunhada. Menciona só o uso de um broche racista por um membro da realeza. Vai mais fundo nos dramas familiares de Meghan, como as entrevistas de sua meia-irmã Samantha aos tabloides, dizendo-se abandonada. Meghan afirma que nunca teve uma relação com ela. Por causa disso, a sobrinha da Duquesa de Sussex, filha de Samantha e de quem Meghan é próxima, não pôde ir ao casamento também. No fim, seu pai, Thomas, também não compareceu ao casamento depois de vender fotos para tabloides. “Ela tinha um pai e agora não tem, e é por minha causa”, diz Harry.
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