Beyoncé resgata raízes negras do country em “Cowboy Carter”

Com funk brasileiro, Miley Cyrus e Willie Nelson, novo disco faz um mergulho no gênero e ganha o mundo dois anos após "Renaissance".


A capa do disco novo de Beyoncé, Cowboy Carter
A capa do novo trabalho de Beyoncé Foto: Reprodução



Foi com uma propaganda bombástica em 11 de fevereiro, durante o concorridíssimo intervalo do Super Bowl, que Beyoncé anunciou o lançamento de seu novo disco, Cowboy Carter.

No mesmo dia, mostrou ao mundo as faixas Texas hold’em e 16 carriages, com pegada country e visualizers (vídeos que não são clipes, produzidos para que o público acompanhe o áudio de uma música em uma plataforma audiovisual) que a mostravam de chapéu de cowboy, dando todas pistas de que mergulharia no gênero em seu “act ii”, a segunda parte da trilogia iniciada com Renaissance (2022). Poucos dias depois, ela faria história ao se tornar a primeira negra a liderar a parada Hot Country Songs da Billboard.

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Eis que, em meio a todo esse barulho e à altíssima expectativa criada entre os fãs, Cowboy Carter finalmente está entre nós, lançado à meia-noite desta sexta-feira (29.03), após se materializar em etapas, por meio de anúncios da cantora em seu perfil no Instagram.

A cantora nascida em Houston, no Texas – estado que tem o country enraizado em sua tradição – se apropria com firmeza de um espaço que também é seu (vale lembrar que o banjo, instrumento típico do gênero, chegou à America por meio de escravizados africanos). Não sem resistências: de acordo com o jornal The New York Times, uma rádio de Oklahoma recusou o pedido de um ouvinte para tocar “Texas hold’em” alegando ser “uma rádio de música country”. A seguir, conheça mais sobre o disco:

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Beyoncé vem de novo a cavalo 

No último dia 19 de março, iniciando uma contagem regressiva para o lançamento, a cantora surgiu em seu perfil no Instagram para mostrar a capa de Cowboy Carter. Se em Renaissance, influenciada pela disco music e pelo house, ela surgiu em um cavalo brilhante, desta vez ele é branco. No mesmo post, Beyoncé agradeceu aos fãs pelo sucesso que a colocou na parada country da Billboard. “Minha esperança é que daqui a alguns anos a menção à raça de um artista, relacionada ao lançamento de gêneros musicais, seja irrelevante”, escreveu.

Daddy Lessons, do álbum Lemonade, a primeira investida de Beyoncé no country

Discussão sobre racismo nos bastidores do álbum

A cantora revelou pelo Instagram que trabalhou no álbum por mais de cinco anos e que ele nasceu de uma experiência em que não se sentiu acolhida, sem entrar em detalhes. Mas os fãs logo relacionaram a um episódio em 2016, quando ela se apresentou no CMA (Country Music Association) Awards, ao lado do trio country The Chicks. Bey havia lançado o álbum Lemonade, em que a faixa “Daddy lessons” era sua primeira investida no gênero. Sua participação na cerimônia dedicada ao gênero majoritariamente masculino, branco e repleto de histórias de racismo recebeu uma série de críticas de parte do público. “Mas, por causa daquela experiência, fiz um mergulho profundo na história da música country e estudei nosso rico arquivo musical. É bom ver como a música pode unir tantas pessoas ao redor do mundo, enquanto amplifica as vozes de algumas pessoas que dedicaram tanto de suas vidas a educar sobre a nossa história musical”, explicou em seu perfil no Instagram.

 

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Feats com Miley Cyrus e Post Malone 

O mergulho de Beyoncé no country rendeu um álbum extenso para os padrões atuais, com 27 faixas. Quando divulgou em seu Instagram a tracklist do álbum, os nomes de Willie Nelson, Dolly Parton e Linda Martell – primeira negra a fazer sucesso comercial na música country estadunidense – sugeriam que seriam essas as participações. Mas ela escondeu o jogo: os feats do disco são com Miley Cyrus, na balada “II most wanted”, e Post Malone, em “Leviis jeans”. Willie aparece falando em um interlúdio, como um locutor de rádio. Dolly surge antes do cover que a ex-Destiny’s Child fez para seu hit “Jolene” (1973), com uma atualização na letra: enquanto a original pedia “não roube meu homem”, na nova, Queen B imprime seu estilo: “Estou te avisando, não mexa com meu homem”. “Blackbiird”, dos Beatles, foi outra faixa que ganhou uma versão de Bey, com ela abrindo espaço para artistas negros da nova cena da música country. Participam Tanner Adell, Brittney Spencer, Tiera Kennedy e Reyna Roberts. No mesmo contexto, Willie Jones aparece em “Just for fun”.

 

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Já Linda Martell é lembrada em um interlúdio e em “Spaghettii”. A canção traz um sample do funk brasileiro “Aquecimento das danadas”, do DJ O Mandrake, e participação do cantor Shaboozey, com Bey rimando e uma aproximação maior com o rap. Rumi, filha da cantora, abre “Protector” pedindo a ela para ouvir uma canção de ninar. Pedido prontamente atendido, com a mãe cantando que irá guiá-la pela estrada se ela se perder. Como a própria cantora havia avisado em seu perfil no Instagram, “este não é um álbum country. Este é um álbum da Beyoncé”.

 

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Beyoncé roqueira vem aí?

Especula-se que Cowboy Carter será seguido por um álbum de rock, que encerrará a trilogia iniciada com Renaissance. Se respeitar o mesmo intervalo entre o primeiro e o segundo ato, o terceiro viria (também a cavalo?) em 2026.

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