Documentário sobre redenção de John Galliano é exibido na Mostra de SP

"High & low", dirigido por Kevin Macdonald, investiga a ascensão e a queda do designer e propõe uma discussão sobre o perdão.


Cena de "High & low - John Galliano" Foto: Divulgação



A ascensão e a queda de John Galliano, um dos maiores estilistas das últimas décadas, são o assunto de High & low, dirigido por Kevin Macdonald (de O último rei da Escócia, de 2006, e Whitney, de 2018). 

O documentário tem sua primeira exibição na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nesta quarta-feira (25.10) e chega ao Brasil depois de ser exibido nos festivais de Telluride e Londres neste ano (o filme será lançado no país pela Mubi, ainda sem data definida).

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John Galliano, em 2001, em suas famosas aparições ao fim do desfile da Dior Foto: Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images)

Em entrevista à revista Variety, Macdonald disse que seu objetivo é que o público chegue às suas próprias conclusões sobre Galliano e, principalmente, sobre os acontecimentos que motivaram sua queda, os comentários antissemitas e racistas gravados em vídeo. “Quero apresentar os indícios e permitir que as pessoas os questionem e discutam.” Segundo o diretor, o estilista sabe que não tem como escapar do que fez. “Ele me disse: ‘Eu não estou fazendo o filme porque quero ser perdoado. Estou fazendo para ser um pouco mais bem compreendido’.”

“Ele (Galliano) me disse: ‘Eu não estou fazendo o filme porque quero ser perdoado. Estou fazendo para ser um pouco mais bem compreendido’”

Além deste episódio, High & low mostra a genialidade criativa do designer desde seu desfile de formatura na Central Saint Martins, inspirado na Revolução Francesa, até sua passagem pela Givenchy, a partir de 1995, e Dior, onde ficou de 1996 a 2011 e criou importantes coleções, algumas delas inspiradas em suas viagens pelo mundo. Galliano era um rockstar, autoconfiante e cheio de personalidade. 

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O diretor Kevin MacDonald Foto: Divulgação/Jemal Countess/Getty Images

Em sua temporada na Dior, o estilista workaholic precisava criar dezenas de coleções por ano, chegando a 32 em seu auge. Ao final de cada uma, ele se sentia esgotado. Nessa época, seus demais vícios, em bebida e outras substâncias, começaram a ficar fora de controle. Piorou quando seu amigo e braço-direito, Steven Robinson, morreu em 2007 de uma overdose.

Três anos depois, Galliano foi gravado insultando um grupo de mulheres com expressões antissemitas. Em fevereiro do ano seguinte, pouco antes da Semana de Moda de Paris, este vídeo e outros com falas racistas e antissemitas do estilista apareceram, o que levou à sua demissão da Dior. Como na França fazer comentários antissemitas é crime, ele também enfrentou um processo, no qual foi considerado culpado.

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Na interpretação de Macdonald, havia uma boa dose de autodestruição em Galliano. “Talvez ele tenha sentido que essa era a coisa mais terrível que ele podia dizer para sair daquela roda-viva em que estava”, disse o cineasta à Variety. “Nunca achei nenhuma evidência de antissemitismo. Não é que ele estivesse lendo Minha luta (livro de Adolf Hitler). Mas isso provoca outras questões de por que o antissemitismo seria algo a que alguém recorreria nessa situação.” 

High & low mostra como o designer demorou para se redimir por seus comentários. Segundo Sidney Toledano, judeu e então o CEO da Dior, Galliano levou sete anos para se desculpar com ele. Philippe Virgitti, que foi alvo de um dos ataques do designer, afirma que o estilista nunca se desculpou. Galliano diz que sim.

O designer foi cancelado quando ainda não havia esse termo. Macdonald acha que essa é uma questão a ser discutida, especialmente depois de conversar com um rabino, que lhe disse: “Acho uma boa ideia discutir o perdão e, como judeu, se eu não posso perdoar alguém, qual o sentido da minha religião? Preciso acreditar que alguém que cometeu um erro possa se desculpar ou remediar o que fez”.

Mas o filme tem embutido um debate sobre os limites desse perdão e da possibilidade de redenção. Galliano tem muitos defensores, de Naomi Campbell a psiquiatras e acadêmicos. Ele voltou à moda em 2014, três anos depois dos vídeos com seus insultos vazarem, assumindo a direção criativa da Maison Margiela. Mas o documentário não defende que o estilista realmente se arrepende do seu comportamento. High & low tenta apenas contextualizar o momento do designer na época e propor a discussão do que fazer com os gênios que se comportam mal, deixando cada espectador ter sua opinião sobre o caso.

High & low: 25.10, às 21h45, no Espaço Itaú de Cinema Bourbon Pompeia, com reprises no domingo (29.10), às 14h, no Kinoplex Itaim Sala 2, na terça (31.10), às 15h, no Espaço Itaú de Cinema Augusta Sala 1, e na quarta (1.11), às 13h30, no Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca 2

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