Duda Brack sobe a temperatura em novo álbum 

Em "Proibido não gostar" Duda Brack celebra o desejo feminino com estética fervida e referências latinas. 


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Duda Brack Foto: Juliana Rocha



Em seu terceiro álbum de estúdio, Proibido não gostar, Duda Brack dá um giro de 180 graus no que trabalhou nos últimos dez anos de carreira. Em nove faixas, a cantora e atriz deixa de lado a intensidade melancólica e se abre às novas experiências em um universo dançante, quente e iluminado. 

Entre as parcerias musicais do projeto, estão colaborações com Gaby Amarantos, Francisco Gil e Felipe Cordeiro. A produção musical é de Ariel Donato, ao lado de Duda, que também compõe todas as canções. A presença constante é essencial para garantir o controle sobre o que quer expressar: uma obra sobre desejo feminino, em que ela reflete questões de afetividade, sexualidade e autoconhecimento.

Capa do terceiro album da cantora Duda Brack.

Foto: Juliana Rocha

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A mistura de ritmos brasileiros com de outros países latinos cria um mexidão de funk, piseiro, cumbia e bachata. “‘De conchinha com a diaba’ é uma música safada, de piranha. ‘Lais de guia’ fala de amor próprio e ‘Neném’ de amor bandido. ‘Dois por engano’, por sua vez, é uma música de quando se está apaixonado, mas ainda não consumou”, fala Duda. Confira o papo completo abaixo. 

Proibido Não Gostar é uma fase mais apaixonada? O que esse álbum representa para você?

O álbum é fruto de um caminho que venho trilhando nesses anos. Foi através da música que entendi quem eu queria ser. A música me ajudou a quebrar paradigmas e transformar a minha realidade, de dentro para fora e de fora para dentro. Mudei de cidade, ciclo social e estilo de vida. No meu primeiro álbum (É, 2005), existia um incômodo de estar no mundo, uma urgência de achar um lugar onde me sentisse confortável. Hoje, quase 10 anos depois, eu encontrei esse lugar. Vivo um momento de plenitude, autoconfiança e amor próprio. Claro, com as minhas sombras, mas uma maior estabilidade emocional e artística. Agora, consigo falar de amor e paixão como uma força que ilumina a vida. Ainda não tinha mostrado isso. Quero que as pessoas escutem e se sintam com vontade de viver, coragem para amar. Isso é o que sinto quando escuto Djavan e Gilberto Gil. Também quero que as mulheres se sintam grandes gostosas, o que eu sinto quando ouço Anitta. É um álbum para ouvir para cozinhar, faxinar, dançar, dirigir e namorar. 

Como seu público recebeu a nova fase?

A resposta tem sido foda. Eu sou artista de palco. Existem artistas que surgem na internet, em home studio, e quando chega no palco não dá conta do babado. Eu comecei na rua, em bar, em boteco. Tenho vivência offline, sei segurar uma plateia. Apesar do álbum ser mais suave e gostoso de ouvir, ao vivo, ele fica mais rock and roll, porque tem bateria, guitarra e toda a banda tocando. Tem a coisa cênica e o repertório retoma canções dos dois primeiros álbuns com arranjos novos, além de momentos de Gal (Costa), Cazuza, Kali Uchis e Beyoncé. 

De Djavan a Anitta, de Gal Costa a Kali Uchis. O que você já ouviu ao longo da sua vida que ecoou nesse álbum agora?

Sou uma pessoa que escuta Timbalada e Paco de Lucía no mesmo dia. Gosto de piseiro e de Björk. Esse novo álbum tem muito de Bandido (1976), do Ney (Matogrosso), um dos primeiros solo, depois dos Secos & Molhados. O primeiro foi Água do Céu – Pássaro (1975), na verdade, que é um álbum bem conceitual e experimental. Eu já troquei essa ideia com ele. Ele falou que esse primeiro álbum flopou. E isso é inspirador para mim. Existem artistas que são do momento, da modinha e daqui a pouco entram em baixa e ninguém lembra mais. Mas existem artistas de catálogo, construindo 50, 60, 70 anos de carreira e é isso o que espero viver. O caminho se constrói andando, não é? 

A cantora Duda Brack com uma rosa na mão.

Foto: Juliana Rocha

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Você considera esse álbum pop? 

Não quero matar a diversidade da minha carreira artística e passar o resto da minha vida fazendo música para uma bolha. Quero explorar. Não quer dizer que eu nunca mais farei um álbum de rock. Proibido Não Gostar é um álbum de hits latinos que dialoga com o pop contemporâneo. Mas não acho que seja um disco pop. Não acho que está na mesma prateleira da Anitta e da Luisa Sonza, por exemplo. Talvez o público das duas goste das minhas canções, mas eu vejo mais como uma MPB pop de pegada latina. Tem uma coisa que é primordial para mim que é a minha autenticidade. Busco não fazer uma coisa igual ao que todo mundo está fazendo. 

E como essa autenticidade aparece? 

Está em tudo. Do jeito que componho a música a maneira como eu canto ela e minhas escolhas estéticas. Eu também uso bastante drive na voz. Em um mercado que trabalha com algoritmo, isso dá mais trabalho. Seria mais fácil entender como o negócio funciona e macetar isso. Mas não é genuíno para mim. Isso se reflete até nas pessoas que puxo para perto do meu trabalho. 

Como foi o processo de colaboração com a Gaby Amarantos?

Fiz uma novela (Além da Ilusão) com a Gaby em 2022 e a gente se conheceu ali. Quer dizer, eu já era fã, mas ali a gente se conheceu como pessoa e formamos um grupo com a Marisa Orth e a Bárbara Paz. O grupo ganhou o nome de Adoráveis Pecadoras. Ela me mostrou músicas inéditas e eu comecei a falar do meu álbum. Quando a gente viu, já estava compondo juntas. Fizemos duas músicas e uma delas é “Cúmbia mel”. Gaby é do norte, ligada ao carimbó que, por sua vez, é muito parecido com a cúmbia.

Como é a sua relação com a moda. E com o esse álbum aparece em termos visuais? 

Eu amo moda. É uma forma de se comunicar, expressar sentimento. Isso faz parte da construção da linguagem. Tenho essa visão muito 360 do meu trabalho, compondo e coproduzindo as faixas. Gosto de pensar no arranjo, na mixagem, na estética e na sonoridade. Faço o roteiro do show, penso no figurino, no videoclipe. Também sou atriz. É claro que conto com parceiros maravilhosos e não domino tudo, mas gosto de me traduzir em todos os elementos. A letra é tão importante quanto a roupa, que é tão importante quanto a luz. O conceito dessa nova era é piranha, latina, roqueira! 

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