O que esperar do novo figurino de “Emily in Paris”
Marylin Fitoussi, que assina o guarda-roupa da terceira temporada da série, fala à ELLE sobre as mudanças de estilo da personagem.
Com seus figurinos coloridos e chamativos, Emily em Paris rendeu muitas críticas nas suas duas primeiras temporadas, especialmente dos franceses, que achavam tudo ali pouco realista. Eles têm certa razão. Mas a série criada por Darren Star e protagonizada por Lily Collins, sobre uma estadunidense que vai passar um ano na capital francesa, nunca teve o realismo como meta.
Na terceira temporada, que chega nesta quarta-feira (21.12) à Netflix, Emily precisará tomar várias decisões. Mas uma coisa é certa: Paris, pouco a pouco, vai entrando pelos poros da estadunidense otimista e workaholic, tomando seu coração e seu senso fashion. “Emily fica um pouco mais francesa”, contou à ELLE a figurinista Marylin Fitoussi, que usa grifes como Stella McCartney, Louis Vuitton e Burberry, mas também peças vintage e de fast-fashions como Zara.
Antes de Emily em Paris, Fitoussi havia assinado o figurino de filmes como Escobar: Paraíso perdido (2014), com Benicio del Toro, e Virei um gato (2017), com Jennifer Garner e Kevin Spacey. A francesa é figurinista da série desde a primeira temporada e foi escolhida pela consultora Patricia Field justamente por terem estéticas parecidas. Na terceira temporada, Field se afastou, deixando tudo sob o comando de Fitoussi, que disse estar mais segura ainda para ousar.
Emily também aparece mais autoconfiante e entra, sem querer, em um jogo de espelhos com Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu), sua chefe, agora dona de sua própria agência. Enquanto isso, a melhor amiga da protagonista, Mindy (Ashley Park), tem uma grande chance de se apresentar em um clube de jazz, e Camille (Camille Razat) estreia como galerista de arte. Emily continua namorando Alfie (Lucien Laviscount), mas aquela possibilidade com o chef Gabriel (Lucas Bravo) permanece, mesmo que ele esteja morando com Camille. A seguir, nosso papo com Fitoussi:
Ashley Park (Mindy), Lily Collins (Emily) e Camille Razat (Camille) Stéphanie Branchu/Netflix © 2022
O que há de novo no figurino desta terceira temporada?
Eu sempre me renovo. Nesta nova temporada, você verá que a eclética, ousada e colorida Emily ainda mantém um estilo cheio de cores, mas há um jogo de espelho com Sylvie. Elas não começam a se vestir da mesma maneira, mas Sylvie vai pegar um pouco de cor de Emily, e ela vai tomar emprestado alguns itens legais e roupas de corte bonito da chefe. Então, Emily fica um pouco mais francesa, e Sylvie, um pouco mais ousada, mais colorida. Ou seja, a protagonista mantém o estilo forte, mas talvez um pouco mais parisiense.
Muita gente achou o figurino mais ousado, baseando-se nas fotos dos novos episódios.
Acho que é mais ousado porque estou cada vez mais destemida. E, como tenho toda a confiança e fé dos atores, posso ultrapassar os meus limites. Talvez seja mais ousado. É diferente também. Chato, não é.
“Talvez (o figurino da nova temporada) seja mais ousado. É diferente também. Chato, não é.”
Na primeira temporada, muita gente parecia não entender as escolhas de figurino. E mesmo em relação à série em si, houve muitas críticas, especialmente na França. Como você encarou isso?
De forma muito positiva, pois significa que minha missão foi cumprida. Nunca pretendi fazer moda. Eu não sou designer de moda. Eu sou figurinista. O que eu estava fazendo era figurino. Estava criando personagens, e não seguindo tendências. Meu trabalho era criar algo diferente, único, e consegui. É bom se as pessoas têm alguma reação, gostando ou não, porque significa que você ultrapassou os limites e ofereceu algo interessante.
Lily Collins (Emily) e Ashley Park (Mindy) Stéphanie Branchu/Netflix © 2022
E por que os franceses criticaram tanto?
Em Paris, eles adoram odiar esta série. Estou curiosa em relação à recepção da terceira temporada porque agora (os franceses) entenderam que não é moda, compreenderam que a boina é um lindo acessório que as francesas usam desde o início dos anos 30. Espero que eles se reconciliem com a sua própria cultura e continuem a apreciar a visão de Darren Star, que idealizou a cidade, sim, mas fez de uma maneira tão bonita que devemos ser extremamente gratos.
Para nós, no Brasil, é mais comum usar estampas e padronagens coloridas e ousadas. O estilo francês é diferente. Acha que eles levaram um choque de cor?
Darren tem uma maneira muito engraçada de descrever isso. Ele diz que as cores nacionais francesas são preto, cinza e azul-marinho. Algumas pessoas ficaram realmente chocadas com toda essa cor. Eu morei no México por 13 anos. Então, meu amor pela cor faz parte do meu DNA. Mas no meu dia a dia em Paris, algumas pessoas me chamam de papagaio ou de palhaça, porque sou colorida. Depois da primeira temporada, porém, algumas me escreveram e contaram como descobriram o prazer que era vestir cores. E para a francesa que sempre viveu em Paris, onde temos muito medo de nos vestirmos de maneira exagerada, de sermos muito coloridas ou de chamar muito atenção, foi uma libertação. Perceberam que tudo bem, a patrulha da moda não vai nos prender. Que dá para usar cor e ser séria. Essa é a lição desta série.
Você tem um look favorito da terceira temporada?
Adoro um look esverdeado que montei com casaco vintage branco e verde da Miu Miu porque é bem anos 60 e pop, com um toque bem moderno. Acho bem alegre, forte, fica lindo na Lily. Adoro o look de pássaro quando ela está no topo da Torre Eiffel porque me lembrou um comercial que Jean-Paul Goude fez há muito tempo para o Chanel N°5 com a cantora francesa Vanessa Paradis, em que ela parece um pássaro. Tinha isso na cabeça quando desenhei a capa para Lily, porque era um momento de poesia que também representa a morte da cor rosa na série. Agora a cor está em toda parte. Criei um monstro, talvez. Então, queria me despedir definitivamente do rosa com essa capa. Não vamos mais usá-lo em Emily em Paris.
Camille Razat (Camille) Marie Etchegoyen/Netflix © 2022
Com o tempo, o figurino de Camille foi ficando mais ousado. Era algo que você queria tentar? Tem a ver com o desenvolvimento do personagem?
Sim. Com Camille, eu experimento muitos jovens designers. Ela também sugere muito. Não tem medo de usar jovens designers e peças nada fáceis. Você pôde ver a atriz na pré-estreia da série em Paris tentando algo diferente. Ela é a mais confiante em relação à moda. E nós estamos buscando um outro rumo também porque agora ela está trabalhando com arte, tem outras referências.
Você pode comentar um pouco mais sobre os figurinos de cada uma das principais personagens femininas?
A Camille vai ficar muito vanguardista. Então, nós fomos para uma silhueta mais masculina e um pouco mais drástica porque ela “segura”. A personagem usa muito preto e branco com alguns toques de cor muito fortes.
Sylvie permanecerá no chique francês. Mas, em determinado momento, você verá que temos um efeito de espelho entre ela e Emily. Philippine é uma mulher tão elegante e não tem medo de superar limites. Estamos dispostas a experimentar mais coisas.
Mindy é brilhante, então tem glitter durante o dia e à noite. Ela tem aquelas pernas. Eu amo o corpo dela. E ela não tem limites, podemos brincar com as cores, com purpurina e penas também.
Nunca falamos dos homens, mas eu desenho muitas jaquetas para Julien (personagem de Samuel Arnold). É engraçado porque no começo Samuel era um pouco tímido. Ele é muito parisiense, sempre vestido de preto e preto. E agora ele está sempre me pedindo para colocar mais cor. Ele veste um terno amarelo nesta temporada.
E restringimos a paleta de cores de Emily. Mas ela continua eclética e muito colorida. Em vez de salto finos, eu brinquei com grossos. E muita bota longa. Usamos pela primeira vez calças de cintura alta com pernas amplas. Antes, ela só tinha um par de jeans. No início, ela não queria abraçar tão facilmente a cultura francesa. Mas agora ela está confiante o suficiente para poder misturar um pouco seu estilo, ainda forte e ousado, e o que aprendeu sobre a elegância francesa.
A Patricia Field foi consultora nas duas primeiras temporadas, mas nesta você trabalha sozinha. Como está sendo a experiência?
Ela me escolheu porque sabia que minha estética e a dela eram parecidas. Aprendi muito, ela me deu bons conselhos. A dica mais preciosa foi ter cuidado para não usar peças sazonais. Por isso, você assiste a Sex in the city anos depois e ainda é legal, criativo, divertido. Então, tenho o cuidado de misturar tudo de uma forma que não seja a moda de 2022.
Ashley Park (Mindy) Courtesy of Netflix © 2022
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