“Já fui uma jovem atriz e me lembro de como era assustador”
Kate Winslet protagoniza "Avatar – O caminho da água" e fala à ELLE sobre os desafios do filme, voltar a trabalhar com James Cameron desde "Titanic" e apoiar atores iniciantes.
Kate Winslet era uma jovem atriz de 22 anos quando fez Rose, a garota rica apaixonada por um rapaz pobre, Jack (Leonardo DiCaprio), pouco antes do naufrágio mais famoso do mundo, em Titanic (1997), que ganhou onze Oscars e pela qual ela concorreu ao prêmio pela segunda vez – a primeira tinha sido por Razão e sensibilidade (1995), de Ang Lee. Com Rose, veio o estrelato mundial e uma carreira sólida que lhe rendeu outras cinco indicações e uma estatueta, por O leitor (2008), dirigido por Stephen Daldry.
Agora, exatos 25 anos após a estreia de Titanic, ela lança outra produção dirigida por James Cameron. Avatar – O caminho da água, que chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira (15.12), é uma continuação do revolucionário longa-metragem de 2009, que, como Titanic, foi um sucesso de bilheteria, rendendo US$ 2,9 bilhões de dólares. O caminho da água espera chegar próximo daquele feito e ajudar a levar mais pessoas às salas de cinema, que vêm sofrendo desde a pandemia.
O papel de Kate, Ronal, não poderia ser mais diferente. Sai a adolescente apaixonada, entra a mulher grávida do terceiro filho e mãe de dois adolescentes, Tsireya (Bailey Bass) e Aonung (Filip Geljo). Ela é a líder espiritual e a guerreira que divide com o marido Tonowari (Cliff Curtis) a governança do clã Metkayina, um povo do mar no planeta Pandora, que, como no filme anterior, volta a ser ameaçado por nós, humanos, em busca de suas riquezas.
Não é uma decisão fácil quando os Metkayina decidem abrigar Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana), os protagonistas do primeiro longa, do clã das florestas, os Omaticaya. Eles precisam se refugiar com seus filhos, os adolescentes Neteyam (Jamie Flatters), Lo’ak (Britain Dalton) e a pequena Tuk (Trinity Jo-Li Bliss), além dos adotivos Spider (Jack Champion), um humano deixado para trás, e Kiri (Sigourney Weaver). A atriz vive a filha da cientista que interpretou no primeiro filme. A convivência entre as duas famílias não vai ser tranquila.
Como Avatar, O caminho da água emprega tecnologia de ponta para fazer com que o espectador mergulhe naquele mundo estranho, cheio de criaturas perigosas e magníficas. Tudo criado por computadores, inclusive os povos Na’vi, que têm três metros de altura e pele azul (no caso dos Omaticaya) e turquesa (no caso dos Metkayina). Por conta disso, os atores precisam usar macacões marcados com pontos, que também são colocados em seus rostos para capturar cada expressão facial e movimento. A atriz precisou atuar embaixo da água e orgulha-se do recorde de ficar mais de sete minutos sem respirar. Para Kate, de 47 anos, mãe de três, foi uma experiência e tanto, como ela conta na entrevista à ELLE:
Faz mais de 25 anos que você trabalhou com James Cameron em Titanic. Como compararia as duas experiências?
Na verdade, são quase 27 anos porque eu fiz meu 21º aniversário quando estávamos filmando Titanic e agora tenho 47. Portanto, faz muito tempo, mais da metade da minha vida. As duas experiências foram completamente diferentes, porque Titanic era um filme convencional, embora não parecesse para a época, por causa da grandeza, dos efeitos especiais, do uso de plataformas hidráulicas e de todas essas coisas, sem mencionar a água. Mas Avatar é a ideia de um visionário absolutamente extraordinário. E acho que o próprio Jim (James Cameron) diria que, mesmo ele, desde o primeiro Avatar, aprendeu mais sobre a ciência, a tecnologia, sobre como tornar essas experiências visuais realmente abrangentes. E foi uma experiência totalmente incrível.
Não é difícil atuar com aqueles pontos no rosto, com uma câmera presa ao capacete?
Eu acho que as pessoas podem não perceber que, quando um ator está filmando Avatar, é na verdade uma experiência de atuação muito pura, porque você meio que interpreta tudo em uma sala enorme, com luzes e câmeras ao redor. Algumas vezes nem dá para ver as câmeras. E você usa seu traje de captura de movimento e um capacete, com uma câmera acoplada que captura cada movimento nos músculos do seu rosto. Na verdade, não há onde se esconder como ator. Cada coisa que você faz é capturada e usada na criação do filme. Foi realmente fascinante. Por isso, é quase impossível comparar Titanic com Avatar.
Mas a ausência de figurinos não faz falta?
Não. Que alegria ter um traje de captura de movimento, que é como um collant enorme que você simplesmente fecha com um zíper. Ah, era o paraíso. Em Titanic usava espartilhos e trajes muito detalhados, miçangas, zíperes e botões. Foi muito bom estar um pouco mais livre e ágil.
Zoe Saldana e Sam Worthington (à frente), Kate Winslet e Cliff Curtis (atrás) no set do filme. Mark Fellman. © 2022 20th Century Studios
Você parece procurar algo nas mulheres que interpreta. Aqui, o que queria explorar com Ronal?
Sempre acho que deve haver um elemento de verdade, coração e integridade nos personagens que interpreto. Se eu estivesse meio que inventando, ou imaginando tudo… Tem muita coisa que você tem que imaginar. E tem muita coisa para inventar. Mas sempre tem que vir de um lugar de verdade, mesmo que não seja a sua própria verdade, apenas algo que você sinta fortemente ou acredite. E isso é muito importante para mim.
No caso de Avatar, o que era essa verdade?
Avatar é uma história muito detalhada, apaixonada e importante sobre família – há aquela em que nascemos, e a aquela que escolhemos ter – e sobre a importância da comunidade, especialmente no mundo em que vivemos agora. Fala do impacto da humanidade e do poder que estamos usando de forma errada sobre o meio ambiente. Era importante para mim honrar a personagem que Jim havia criado, essa mulher chamada Ronal, que é uma espécie de deusa, líder guerreira da Tribo da Água, os Metkayina. E ela é muito parecida com Neytiri, mas muitas vezes elas têm objetivos diferentes e há um pouco de tensão entre as duas. Quando você vê duas mães brigando pelas mesmas coisas, há algo muito poderoso e comovente nisso. E eu acho uma mensagem importante.
Você é conhecida por cuidar de seus colegas e da equipe, atrás das câmeras. Já ouvi muitas histórias, por exemplo, de você organizando um passeio para um colega que estava precisando desestressar.
Ah, que bom. Fico feliz.
Ronal (Kate Winslet) e Tonowari (Cliff Curtis) Divulgação
Fiquei curiosa se você fez o mesmo aqui, especialmente porque há tantos atores jovens. Sentiu vontade de protegê-los ou tentar cuidar deles?
Sim. Eu mesma já fui uma jovem atriz e me lembro de como isso era assustador, de sentir que não havia lugar para minha voz. Realmente acredito em jovens atores, em sua energia e no que eles têm a dizer. Muitas vezes eles veem o mundo de maneiras que nós, como adultos, não enxergamos. Eles veem o mundo através de lentes muito mais poderosas e novas. A vulnerabilidade deles era algo que Jim realmente queria capturar na tela, assim como sua força. Ele foi realmente incrível. Jim não apenas me encorajou, mas me deixou ajudá-los às vezes. E eu amei. Porque não apenas ajudou a nos unir como família, mas também significou que esses jovens atores se sentiram apoiados e, espero, aprenderam algumas coisas que eu ou Sigourney Weaver descobrimos ao longo do caminho e agora podemos compartilhar. Que essas coisas possam ficar com eles e serem úteis em suas vidas como atores mais tarde.
James Cameron me disse que aprendeu muito nos últimos anos por causa de seus filhos. Quanto você acha que aprendeu com seus filhos?
Em primeiro lugar, aprendo todos os dias com meus filhos. Sinto que ter filhos mantém você jovem, mantém você alerta. E ter filhos acrescenta à minha vida todos os dias de maneiras que nem consigo começar a descrever.
Sua filha, Mia Threapleton, é atriz, e vocês recentemente trabalharam juntas no drama I am Ruth (2022). Como você acha que esta geração de mulheres é diferente da sua geração?
Essa geração de mulheres jovens tem voz e realmente sabe como usá-la. E sabem como se defender. As jovens atrizes também sabem que nós as estamos protegendo muito melhor do que minha geração fez. Acho que isso conta muito. E também me dá uma enorme esperança de que elas vão liderar o caminho, vão realmente mudar a cultura, serão as pioneiras, ao passo que, na minha época, éramos apenas eu e poucas outras tentando agitar a bandeira pelos direitos femininos e por uma relação saudável com o corpo. Hoje elas estão fazendo isso automaticamente.
Acha que teve um papel nisso?
Para mim, é incrivelmente gratificante, me faz sentir bem, ver que talvez algumas das coisas que eu digo há quase 30 anos possam ter passado para elas e estejam causando um pouco de impacto, o que é o mais importante. É um momento muito emocionante para os jovens atores. E, mais do que nunca, há conteúdo realmente interessante por aí. Antigamente, havia tão pouco trabalho se você era uma atriz em começo de carreira e agora há montes.
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