Maria Fernanda Cândido estreia “Animais Fantásticos” e “O traidor”

Atriz, que mora entre o Brasil e a França, faz participação especial no longa do universo Harry Potter, protagonizado por Jude Law e Eddie Redmayne, e está no filme do italiano Marco Bellocchio, exibido em Cannes.


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Maria Fernanda Cândido foi capa da ELLE de novembro de 1999. Ela estava estourando na novela Terra nostra, mas era uma cara nova. “Eu me lembro! Foi uma capa linda, linda, linda”, diz a atriz em entrevista à mesma repórter, mais de 20 anos depois.

Muita coisa mudou desde aquela capa, uma das primeiras de sua carreira como atriz. Aos 47, ela estreia duas produções internacionais nesta quinta-feira (14.04): Animais fantásticos: Os segredos de Dumbledore, que faz parte do universo Harry Potter, e O traidor, do italiano Marco Bellocchio, um dos grandes diretores do cinema autoral.

Em Os segredos de Dumbledore, terceira parte da franquia dirigida por David Yates, ela interpreta Vicência Santos, que participa da eleição para Chefe Supremo da Confederação Internacional dos Bruxos. O vilão Gerardo Grindelwald, fortalecido, quer dominar o mundo mágico (o personagem é agora interpretado por Mads Mikkelsen, depois de Johnny Depp ser retirado do papel após pressão dos fãs por causa das acusações de abuso de sua ex-mulher, Amber Heard). Para combatê-lo, Alvo Dumbledore (Jude Law) pede a ajuda de vários bruxos e bruxas, incluindo Newt Scamander (Eddie Redmayne).


Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore – Trailer final.

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Já em O traidor, que estreou na competição do Festival de Cannes de 2019, a atriz interpreta Maria Cristina de Almeida Guimarães, a brasileira que se casou com o Tommaso Buscetta, refugiado no Brasil depois de colaborar com a justiça italiana e delatar companheiros da Cosa Nostra, a máfia siciliana. O longa tem coprodução da brasileira Gullane.

A atriz, que mora entre o Brasil e a França com o marido Petrit Spahira e os dois filhos adolescentes, tem outros projetos para estrear, incluindo o longa francês La chambre des merveilles, de Lisa Azuelos, e a série El presidente, rodada no Uruguai. Ela conversou com a ELLE:

Filmes como Animais fantásticos são cercados de segredos. Como foi sua experiência para entrar no filme?
A minha agente europeia me telefonou dizendo que uma produtora tinha pedido um teste. Falou que não sabia o que era, não tinha acesso ao projeto, que era confidencial. Mas que era um teste importante. Até para fazer foi um acontecimento, porque o computador precisava ter uns três programas para eu poder acessar aquilo. Claro que não tinha indicação do que era, porque eles trocam os nomes. Mas dava para perceber que era uma coisa do universo fantástico. Meus filhos e meu marido me ajudaram a fazer a contracena, a segurar o celular. Entreguei na segunda-feira e na terça veio a resposta de que a personagem era minha. Fiquei felicíssima, mas ainda não sabia para o que era. Só depois de assinar termos de confidencialidade me contaram. Fiquei superfeliz, mas confesso que meus filhos ficaram ainda mais. Eles ficaram radiantes.

Você tem dois adolescentes. Imagino que cresceram nesse universo.
Sim, eles ficaram felicíssimos com essa notícia. Eu fiquei muito grata por eles terem me ajudado. Era o auge da pandemia, a gente não podia sair do apartamento (na França). Tinha de ser feito ali, com celular, com a luz que entrava pela janela. Eles me ajudaram a fazer e depois, a manter o segredo. Por serem adolescentes, eles poderiam ter comentado com os amigos. Mas não falaram para ninguém. Guardaram o segredo por mais de um ano e meio.

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A atriz, na pré-estreia do filme em Londres.Foto: © 2022 Warner Bros. Ent. All Rights Reserved. Wizarding World™ Publishing Rights © J.K. Rowling WIZARDING WORLD and all related characters and elements are trademarks of and © Warner Bros. Entertainment Inc.


Quando você descobriu quem era sua personagem, a Vicência, o que achou de bacana nela?
É uma participação especial. Porém, é uma participação importante. Para mim, a importância está no fato de essa líder, que é uma mulher, estar alinhada com uma maneira mais democrática de governar. Porque o filme é centralizado em uma questão: a suposta superioridade do mundo dos bruxos em relação à suposta inferioridade do mundo dos trouxas. Você tem um governante propondo um jeito totalitário de governar, ao lado de um outro grupo que tem um pensamento mais democrático. E a minha personagem está certamente mais alinhada com essa maneira democrática. Isso para mim foi motivo de grande alegria. Que bacana fazer essa personagem que vai, sim, ter essa participação importante, luminosa, mas principalmente porque ela está alinhada a esse tipo de pensamento.

É uma discussão atual, não?
Acho que terá muita ressonância com nosso mundo contemporâneo.

Como foi a experiência de filmar?
É um dia a dia de muito trabalho. Vinham me pegar às 5 da manhã e retornava por volta de 19h. Além de toda a questão da pandemia, muitos protocolos de segurança, muitas restrições em relação a tudo. Isso influenciava todo o nosso cotidiano. Fazer um lanche dentro do estúdio, não podia. Comer juntos no refeitório, não. Qualquer refeição era dentro do trailer, sozinha. Tinha de preencher um questionário todos os dias. Não é só máscara e álcool gel. Foi muito mais desafiador do que já é normalmente.

Como ficou a relação com seus colegas de elenco?
A gente ficou muito limitado. Todos nós sentimos muito, inclusive comentamos isso em Londres, na semana passada (onde aconteceu a pré-estreia), quanto fomos corajosos e quanto a gente sentia um gosto de vitória por ter conseguido fazer esse filme no auge da pandemia. Mas, apesar disso, a gente conseguiu ser muito feliz no set. Existia um clima de amizade. Eu me senti muito acolhida por um elenco que eu acompanho e admiro imensamente. Foi bem especial.


O traidor – Trailer oficial

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Como foi trabalhar com Jude Law?
Foi ótimo. Tem uma cena bem emocionante no final do filme. A gente gostou muito de fazer. O Eddie Redmayne, também. Eu adoro o trabalho dele, e o Eddie me recebeu da melhor maneira possível. Foi sempre muito parceiro, atencioso, carinhoso. Com o Mads (Mikkelsen), uma figura que adoro e admiro, tive essa surpresa de encontrar um companheiro de cena brincalhão. Demos boas risadas.

Figurino, cabelo, maquiagem, objetos de cenas são muito importantes nesses filmes. Como foi quando se viu paramentada para as cenas?
Foi muito gratificante perceber o resultado de um trabalho intenso, de uma equipe fantástica, chefiada pela Colleen Atwood (figurinista vencedora de quatro Oscars), que é genial. Ela foi a grande responsável pela construção da Vicência Santos. Ela não só assinou o figurino como opinou no cabelo e na maquiagem. Discutimos muito sobre o sapato. No fim, optamos por uma bota de salto quadrado.

Qual a sensação de segurar a varinha?
É muito gostosa. Eu não imaginava que esse objeto era tão ritualizado. Não me passou pela cabeça, mas faz todo o sentido. Essas varinhas ficam guardadas em caixas de madeira com plaquinhas de metal com o nome de cada bruxo. Essa caixa é aberta ali, e a varinha é entregue de forma bastante ritualizada. Não é algo banal. Achei especial. E, ao pegar a varinha, ela passa a ser um objeto mágico.

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Maria Fernanda Cândido em “O traidor”Foto: Divulgação


Seu outro filme que é lançado nesta semana também é uma produção internacional, O traidor.
Eu considero uma experiência fundamental na minha história. Ter tido a oportunidade de trabalhar com o Bellocchio foi um grande presente da vida. Aprendi muito. Eu tinha a consciência de que estava vivendo coisas únicas e especiais para mim. Foi por causa desse filme que outras portas se abriram para mim na Europa. E apesar de toda essa genialidade, de ser um dos maiores cineastas em atividade no mundo, é um homem absolutamente atento. Bellocchio tem uma escuta atenta para o mundo e para o outro. Para mim foi inesquecível.

Essa carreira internacional foi uma procura sua?
Em 2017, fui para Paris por conta do trabalho do meu marido. Ele tinha ficado no Brasil por 12 ou 13 anos direto e aí chegou um momento em que ele me pediu para ir para lá. Achei justo, pois ele estava aqui havia muitos anos. E a gente foi. Pensei que ia ficar muito quietinha por lá, dando atenção a meus filhos. Não tinha muita ideia. Não foi algo procurado. Não saí daqui para fazer isso. Aliás, nem poderia imaginar. Mas, graças ao filme do Bellocchio, essas portas se abriram. Vou fazer teatro em Paris no semestre que vem, um monólogo em parceria com a pianista Sonia Rubinsky.

Você está de volta ao Brasil?
Acho que vou seguir me dividindo. Não dá para parar em um lugar. Estou fazendo uma participação especial em uma série sobre os 200 anos da República brasileira para a TV Cultura, que vai contar da perspectiva dos povos originários e da população africana. É um ponto de vista diferente. É um projeto lindo dirigido por Luiz Fernando Carvalho.

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