Natalie Portman fala sobre heroínas, Time’s Up e equidade

Conversamos com a atriz, que foi de cientista a super-heroína em Thor: amor e trovão, que chega aos cinemas.


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Mesmo com seu 1,60 metro de altura e físico franzino, Natalie Portman faz parte do Universo Cinematográfico Marvel desde 2011, com o primeiro Thor. Mas sua personagem, a astrofísica Jane Foster, por mais inteligente que fosse, era pouco mais que a namorada do deus do trovão nos dois primeiros filmes solo encabeçados por ele.

Depois de ficar de fora do terceiro episódio, Thor: Ragnarok (2017), a produção dirigida por Taika Waititi que deu uma sacudida na série, ela retorna muito mais poderosa em Thor: amor e trovão, que estreia nesta quinta-feira (07/07). Na verdade, ela faz literalmente a Poderosa Thor, uma versão vitaminada de Jane Foster, alimentada pelo martelo mágico Mjolnir. Jane reencontra o ex e entra, com ele e Valquíria (Tessa Thompson), em uma batalha contra o vilão Gorr, que deseja matar todos os deuses.

Natalie teve de fazer muito treinamento, uma dieta específica para ganhar músculos que não incluísse carne, já que é vegana, e uma ajudinha de efeitos visuais e rampas no set para ganhar mais músculos e altura. Mas ela curtiu esse novo lado da personagem, que tem mais destaque na trama.


Thor: Amor e Trovão | Marvel Studios | Trailer Oficial Legendado | Versão Closed Caption

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Mãe de um menino e uma menina de seu casamento com o coreógrafo e bailarino francês Benjamin Millepied, ela sempre foi discreta sobre sua vida pessoal. Mas disse que ganhou uns pontinhos com os filhos virando super-heroína.

A atriz de 41 anos, que também é diretora e produtora, sabe da relevância da representatividade feminina. Ela se envolveu desde o princípio no movimento Time’s Up, que revolucionou sua maneira de ver o mundo e sua profissão. Além de mudar a forma como escolhe seus projetos e com quem vai trabalhar, esse ativismo fez com que decidisse fundar um time de futebol feminino, o Angel City FC, em Los Angeles, em parceria com Kara Nortman, sócia de um fundo de investimento, e a executiva e empresária Julie Uhrman, tendo Alexis Ohanian, marido de Serena Williams, como principal investidor.

Qual a importância de transformar Jane, a cientista competente e inteligente, em super-heroína?
Foi tão incrível ter essa oportunidade. Quando comecei a fazer esses filmes (da Marvel), fiquei super empolgada de interpretar uma astrofísica em produções desse tamanho. Achei que era uma representação incrível para jovens. Poder transformá-la em uma super-heroína foi ainda mais legal.

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Natalie Portman e Chris Hemsworth (ao fundo)


Todo o mundo está comentando como você aparece bem mais musculosa no filme, o que é um visual diferente para você, mas também em relação às outras super-heroínas atuais, como a Mulher-Maravilha e a Capitã Marvel. Acha essencial mostrar diferentes tipos de corpos na tela?
Com certeza! É uma sorte estar vivendo esse momento no mundo e no universo do entretenimento em que temos uma variedade tão grande de super-heroínas. Assim, as crianças podem escolher com quem se identificam de acordo com as personalidades ou os poderes das personagens, não necessariamente por ser a única mulher presente. É empolgante ter essa variedade de possibilidades.

Neste filme você tem a chance de dividir a tela com outra mulher, a Tessa Thompson, que interpreta Valquíria.
Foi uma sorte poder trabalhar novamente com Tessa Thompson, que é uma atriz e uma super-heroína incrível. Sua Valquíria é uma das minhas personagens favoritas do Universo Cinematográfico Marvel, se não for a favorita. Eu a amo, é minha amiga, e foi muito divertido trabalharmos juntas. Temos também a Jamie Alexander (intérprete da personagem Sif), que é igualmente incrível. Então tínhamos várias mulheres em nossas lutas.

Deve ter sido divertido para seus filhos verem a mãe nesse papel também, não?
Foi empolgante fazer parte de algo pelo qual meus filmes estavam tão animados também. Ter sido uma super-heroína me deu muito crédito com eles (risos).

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Tessa Thompson e Natalie Portman


Você é uma atriz, produtora e diretora e esteve envolvida com o Time’s Up desde o início do movimento. As discussões provocadas por ele têm nos ensinado bastante. O que acredita que aprendeu nas trocas que teve com outras mulheres?
Tem sido incrível a experiência de trabalharmos juntas e de fazer parte de uma comunidade. Acho que sempre evoluímos como seres humanos tendo grupos fortes, especialmente aqueles formados com mulheres. Muitas de nós perdemos isso ou nos distanciamos de nossas comunidades conforme as sociedades foram mudando. Não necessariamente vivemos onde nossas famílias estão. Não necessariamente nos reunimos da mesma maneira ou temos outras mulheres por perto para nos ajudar, como antigamente. É bonito encontrar isso novamente e descobrir esse propósito, essa sororidade e essa amizade. Não há sentimento melhor do que essa conexão, esse objetivo único e compartilhado de estar em um grupo de irmãs.

A reflexão sobre equidade e representatividade afetaram a maneira como seleciona seus projetos como atriz, diretora e produtora, incluindo com quem escolhe trabalhar?
Com certeza. Isso me tornou muito mais consciente do processo, de quem você contrata para quais papeis, com quem escolhe trabalhar, que tipo de histórias quer contar, qual tipo de representação é importante para você. Mudou completamente minha visão sobre meu trabalho. Mesmo em um projeto como este, as coisas que você quer sua personagem diga, faça ou em que acredite, tudo isso certamente foi influenciado pelo Time’s Up.

“Devemos ser mais sérios e ponderados sobre o impacto das histórias que produzimos”

Lembra de algum exemplo específico em Thor: amor e trovão?
Sim, mas explicar o que foi exatamente seria um spoiler. Sou muito grata a Taika, ao time da Marvel e a nossos produtores por terem me incluído no processo e me ouvido, incorporado certos elementos, discutido certas coisas. Foram grandes parceiros e aliados na criação de uma personagem complicada, que luta por si mesma e se defende.

Você já disse que O profissional (1994), seu primeiro filme, em que faz uma garota com um quê de Lolita, talvez não fosse realizado hoje por causa de seus temas. E como foi sexualizada pela mídia por causa daquele papel. Claro que temos de pensar em como vamos retratar meninas, mulheres e outras pessoas, mas acha que a saída é não fazer mais filmes assim?
Acho que toda a conscientização que está acontecendo é maravilhosa. As conversas que estão ocorrendo são incríveis. Devemos ser mais sérios e ponderados sobre o impacto das histórias que produzimos e como a criação de histórias afeta a percepção das pessoas, o comportamento. Fico feliz pelas discussões e reflexões que o filme provoca.

Você ajudou a fundar um time de futebol feminino, o que foi surpreendente para muitos, que não sabiam do seu amor pelo esporte. Por que resolveu fazer isso?
Futebol (ela usa a palavra “football”, como os ingleses, com uma pronúncia aproximada do espanhol “fútbol”, em vez de “soccer”, como os americanos usam) é um amor internacional. Não existe nada mais popular no mundo. Me pareceu uma forma bonita e alegre de apoiar as mulheres e amplificar aquelas que são incrivelmente bem-sucedidas e populares, mas que não estão sendo valorizadas como merecem. Tem sido uma parte muito empolgante da minha vida poder ver de perto a sua grandeza.

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