Os podcasts favoritos dos podcasters

Os apresentadores de Praia dos ossos, Mamilos, Vidas negras, Um milkshake chamado wanda e do nosso Pivô contam quais são os programas que não deixaram de escutar em 2020.


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Arte: Gustavo Balducci



Parceiros valiosos em tempos de distanciamento social, os podcasts não são exatamente uma novidade, mas alcançaram um público ainda maior em 2020. Neste ano de pandemia, vimos, ao lado das lives, o crescimento rápido desse tipo de programa – em altura e largura: além da variedade de temas e assuntos, houve uma inovação nos formatos.

O tradicional mesacast, que reúne apresentadores e convidados debatendo livremente, seguiu em alta, mas formatos narrativos, como o storycast, e até os ficcionais vêm ganhando espaço.

Para selecionar o que vale a pena ouvir entre tantas opções, pedimos recomendações a cinco podcasters que fizeram sucesso em 2020:

BRANCA VIANNA, PRAIA DOS OSSOS

Sentada em um banco, Branca Vianna sorri para a c\u00e2mera

Branca Vianna, criadora e apresentadora de Praia dos OssosFoto: Divulgação

Fundadora da produtora Rádio Novelo, Branca também é criadora de um dos podcasts que mais fez barulho em 2020: Praia dos ossos, série de oito episódios que narra o assassinato da socialite Ângela Diniz, em 1976, pelo seu namorado Doca Street, que morreu em dezembro. Mais do que focar no crime, o podcast traça, com base em uma extensa pesquisa, o perfil dos envolvidos e os detalhes sutis do evento e de toda uma época para entender como Doca virou vítima e Ângela, vilã. Foram essas, inclusive, as motivações de Branca para criar o podcast, já que crime mesmo ela detesta. “Tenho medo de histórias reais de crimes e, um dia, contei para a Paula [Scarpin] e a Flora [Thomson-Deveaux], minhas parceiras na Rádio e no podcast, sobre um assassinato que me impressionou muito na adolescência, que foi o da Ângela Diniz. Elas, que não conheciam o caso, acharam que essa história precisava ser contada”, diz. Daí, surgiram juntos, o Praia dos ossos – que teve seus direitos adquiridos pela Conspiração e será adaptado como série de ficção – e a Rádio Novelo, que hoje produz outros podcasts de temas diversos. A seguir, Branca conta o que mais anda ouvindo por aí.

37 graus podcast: série “Epidemia
“O 37 graus é um podcast de ciência muito bom, feito pela Sarah Azoubel e pela Bia Guimarães. E tem essa série chamada ‘Epidemia’ que, apesar de ter sido lançada bem em março, não é sobre coronavírus, mas sobre o zika vírus – elas já estavam pesquisando o tema há muito tempo. A série é muito, muito boa. Traz diversas informações importantes sobre a epidemia de zika, como o vírus foi descoberto, estudado, quais foram as decisões tomadas em políticas públicas, o que os cientistas fizeram etc. E, claro, mais para o fim da série elas incluem muita coisa sobre o coronavírus e epidemias, de modo geral.”

Vida de jornalista: minissérie Memórias
“O Rodrigo Alves fez, em 2019, uma minissérie dentro do Vida de jornalista, chamada Memórias. São oito episódios sobre grandes coberturas da imprensa: começa com a história do césio-137, aí vêm o sequestro do ônibus 174, o caso Eloá, o assassinato da irmã Dorothy, entre outras coberturas históricas. E ele conversa com pessoas que estiveram de alguma forma envolvidas nesses eventos. Adorei essa série, é muito bem feita.”

Believed
“Esse podcast conta a história de um escândalo enorme que aconteceu nos Estados Unidos, quando descobriram que Larry Nassar, ex-médico da seleção americana de ginástica, abusou de centenas de atletas – eram meninas de 6 a 16 anos. É um assunto muito difícil de falar com sensibilidade, respeitando as vítimas e, ao mesmo tempo, contando a história com toda a complexidade que a envolve. E a NPR faz isso nesse podcast. Achei muito impressionante como eles conseguiram tratar do tema com delicadeza, respeito e rigor jornalístico. Não é sensacionalista, explica muito bem a história, traz várias entrevistas. É jornalismo investigativo de primeira.”

CRIS BARTIS e JULIANA WALLAUER, MAMILOS

Usando fones, Juliana Wallauer e Cris Bartis, do podcast Mamilos, olham para a c\u00e2mera

Juliana Wallauer e Cris Bartis, do MamilosFoto: Divulgação/Agê Barros

O podcast, que está entre os maiores do país, é apresentado pelas jornalistas Cris Bartis e Juliana Wallauer e se propõe a trazer à luz assuntos urgentes – que, à primeira vista, parecem ser direcionados às mulheres, mas são para todo mundo –, como cultura de estupro, relações abusivas, feminismo negro, depressão, eleições e sanidade em tempos de pandemia. Em cada episódio, a dupla recebe convidados para debater o tema da vez. Tudo com a proposta de fazer, como elas dizem, “um jornalismo de peito aberto, mais interessado em construir pontes do que em provar pontos.” Juliana e Cris recomendam podcasts que, segundo elas, foram ainda mais necessários em 2020.

Finitude
“É um podcast necessário sempre. Ele parte da premissa de que ‘Tudo tem fim. Mas o único fim que é certo é o da vida’ para vencer o tabu e falar sobre morte. Falar sobre luto. Falar sobre como a consciência da mortalidade afeta as decisões que guiam a nossa vida. Falar sobre a boa morte, com todas as complexidades e nuances. Ju Dantas é uma jornalista sensível que propõe reflexões profundas e delicadas em cada episódio, costurando pesquisa, vivência e a experiência de especialistas. É uma ótima companhia para caminhadas.” (Juliana Wallauer)

Autoconsciente
“Sempre foi um podcast muito bom, feito com qualidade e afeto, mas em 2020 ele se tornou indispensável. Não à toa o show explodiu em audiência. Ouvir sobre perdas, culpa, medo, equilíbrio, mudança de hábitos e isolamento, tratados com tanto carinho e cuidado, faz cada episódio ser um pequeno abraço, uma pequena sessão de terapia. Pra inspirar e expirar profundamente.” (Cris Bartis)

TIAGO ROGERO, VIDAS NEGRAS
O podcast se debruça sobre a história do Brasil sob a perspectiva de pessoas negras. “A gente parte de um sentimento de falta de conteúdo e de historiografia sobre as origens do Brasil de uma forma mais completa e não só pelo olhar do branco, que é como nossa história foi contada”, diz Tiago. “O Brasil é um país construído por pessoas negras, que trabalharam por mais de 300 anos de forma não remunerada e seguiram trabalhando por um salário muito inferior. E não estamos falando só de trabalho braçal, mas de uma contribuição intelectual muito grande.” Tiago, que celebra o aumento de produções do gênero criadas por pessoas negras, indica alguns dos podcasts que mais gostou de ouvir em 2020:

Cirandeiras
“É um podcast brasileiro feito por mulheres jornalistas, a Joana Suarez e a Raquel Baster. Elas entrevistam só mulheres e cada episódio traz uma temática diferente. Escutei bastante em 2020.”

Sofia
“É um [podcast] original do Spotify que foi lançado nos Estados Unidos como Sandra e aqui chegou como Sofia. Achei muito interessante porque, além de ser muito bem produzido, é em formato de ficção, pouco explorado no Brasil.”

UmbandaCast
“É um podcast menos conhecido, acho, mas sua qualidade me surpreendeu. É excelente. Feito pelo Matheus Salustiano, um estudante de jornalismo, traz estudos e informações ricas sobre a umbanda. Mesmo para quem não é religioso é muito interessante.”

História preta
“Outro podcast que escutei muito este ano e sempre recomendo porque é muito bem feito. O Thiago André é muito bom no que faz. É uma temática que me agrada e que eu também abordo no Vidas negras.”

An oral history of The Office
“Fiquei viciado nesse podcast. É sobre [a série] The Office e com o Brian Baumgartner, que interpretava o Kevin Malone. É narrativo e traz entrevistas com todo mundo da série. Um podcastaço!”

Wind of change
“Esse podcast é uma investigação de uma teoria da conspiração que diz que a CIA, a agência de inteligência americana, teria escrito a música ‘Wind of Change’, da banda Scorpions. É super interessante a proposta desse podcast narrativo.”

MARIA SANTA HELENA, UM MILKSHAKE CHAMADO WANDA

Marina Santa Helena, de camisa branca, olha para o lado

Marina Santa Helena, apresentadora de Um milkshake chamado Wanda, ao lado de Phelipe Cruz e Samir DuarteFoto: Divulgação

Ao lado de Phelipe Cruz e Samir Duarte, a apresentadora e stylist Marina Santa Helena conduz o podcast semanal Um milkshake chamado Wanda. Às quintas, o trio e seus convidados, que vão de Pabllo Vittar a Gaby Amarantos, discutem com leveza e bom humor as últimas novidades do universo do entretenimento e da cultura pop. Marina, que também toca o semanal Estilo possível, sobre moda, tendências e comportamento, recomenda um dos podcasts da “família Wanda”, como ela chama:

Além do meme
“Esse foi um dos podcasts mais legais que ouvi neste ano. Foi criado e é apresentado pelo Chico Felitti, jornalista investigativo que tem o dom de transformar a pessoa mais simples no personagem mais fascinante. No podcast, ele analisa e entrevista protagonistas de alguns dos memes brasileiros mais marcantes dos últimos anos.”

PATRICIA OYAMA E GABRIEL MONTEIRO, PIVÔ
O podcast da ELLE analisa semanalmente o que é notícia na moda. Do significado das máscaras trazidas pela Covid ao futuro dos desfiles, da venda bilionária da Supreme à estreia de Raf Simons na Prada, do filme de Beyoncé ao visual de Kamala Harris, tudo aquilo que foi relevante na moda em 2020 foi passado a limpo pela dupla Patricia Oyama e Gabriel Monteiro, redatora-chefe e repórter de moda da ELLE. Vale, aliás, ouvir o episódio que traz a retrospectiva do ano. Patricia conta o que não deixou de ouvir em 2020:

Praia dos ossos
“Cheguei atrasada para ouvir esse podcast sobre a vida e a morte de Ângela Diniz. Já estava todo mundo falando dele, e não era à toa. Foi um supertrabalho de pesquisa e reconstituição, com doses certas de história, feminismo, curiosidade e emoção. E a Branca Vianna é uma narradora incrível. Quando vi, já estava tentando falar que nem ela no nosso podcast, hahaha!”

Heavyweight
“A premissa desse podcast já é muito boa: o apresentador Jonathan Goldstein investiga um momento crucial na vida de alguém, aquele ponto em que tudo mudou. Um dos episódios mais legais é sobre um músico que emprestou uns CDs para o Moby, que visivelmente, ou melhor, audivelmente tiveram influência no trabalho dele. Só que a carreira do Moby decolou e desse amigo, não. E ele queria muito os CDs de volta.”

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