Revisitando Joan Didion

No embalo do lançamento da edição brasileira de Rastejando até Belém (1968), primeira coletânea da autora, relembramos fatos marcantes de Didion.


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Mais de 50 anos após seu lançamento,
Rastejando até Belém (no original, Slouching Towards Bethlehem), de Joan Didion, ganha no próximo dia 14 sua primeira edição brasileira pela editora Todavia. O livro, lançado em 1968, é uma referência do ensaísmo estadunidense e reúne 20 textos de Didion, que traçam um retrato daquela década de tantas transformações. O ensaio que dá nome à publicação gira em torno da ida da autora californiana a São Francisco (EUA), no auge da contracultura. “Adolescentes vagavam sem rumo de uma cidade destroçada para outra, tentando se livrar tanto do passado quanto do futuro, como cobras que trocam de pele”, escreve a autora, ícone do jornalismo literário.

Além de ensaios sobre temas que iam da situação política em El Salvador no início da década de 1980 à ex-primeira-dama Nancy Reagan, passando por relatos pessoais, Didion, 86 anos, escreveu ficções, reportagens e roteiros de filmes. “Hoje, após décadas de carreira, ela
(Didion) continua sendo uma das nossas mais agudas e respeitadas observadoras da política e da cultura americanas”, disse Barack Obama, quando a condecorou em 2013. No embalo do lançamento de Rastejando até Belém, lembramos fatos marcantes na vida da autora:

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Foto: Divulgação /Todavia

  • Didion dividiu a vida e a escrita com o marido John Gregory Dunne (1932-2003), com quem se casou em 1964. Os dois nunca entregavam um artigo sem a edição final do outro. Juntos, dividiram uma coluna no Saturday Evening Post e escreveram roteiros de filmes. “Eu não poderia ter vivido com alguém que não fosse escritor, simplesmente porque tal pessoa não teria paciência comigo”, disse Didion no documentário da Netflix The center will not hold (2017), dirigido por seu sobrinho, Griffin Dunne. A parceria não impediu que ela escrevesse sobre a crise do próprio casamento, durante uma viagem ao Havaí, em 1969: “Na ausência de um desastre natural, nos confrontamos novamente com nossos próprios desconfortos”.
  • A residência do casal em Malibu (Califórnia) era frequentada por nomes como Martin Scorsese, Steven Spielberg e Warren Beatty, que tinha uma queda por Didion — Dunne achava graça, como lembra o mesmo documentário. Harrison Ford foi carpinteiro em uma reforma na residência e se tornou amigo do casal.
  • Didion entrevistou Linda Kasabian, ex-integrante da Família Manson, que testemunhou contra o grupo no julgamento pelo assassinato da atriz Sharon Tate, em 1969. A autora encontrou Kasabian na prisão. O relato é parte do livro O Álbum Branco, em que Didion une memórias e eventos da década de 60 e 70 na Califórnia, como reuniões dos Panteras Negras e sessões de gravação do The Doors.
  • Quando Didion se sente empacada em algo que está escrevendo, ela coloca o texto (literalmente) no congelador, protegido por um plástico, conta sua editora Shelley Wanger, em The center will not hold.

Didion em campanha de 2015 da C\u00e9line, clicada por Juergen Teller
Didion em campanha de 2015 da Céline, clicada por Juergen Teller Foto: Repodução

  • Didion foi uma das primeiras escritoras a questionar a condenação dos Cinco do Central Park, como ficaram conhecidos os adolescentes negros acusados injustamente em 1990 pelo estupro de uma mulher branca no parque nova-iorquino. Um ano após o julgamento, em 1991, a autora escreveu um artigo para a New York Review of Books apontando falhas da promotoria, questionando a narrativa, o maniqueísmo e chamando atenção para a questão racial. Os cinco acusados foram inocentados em 2002.
  • Em menos de dois anos, Didion perdeu o marido e a filha. No fim de 2003, enquanto sua filha Quintana Roo estava internada em uma UTI, Dunne sofreu um ataque cardíaco fatal. Didion adiou os preparativos para o funeral por três meses, até que Quintana pudesse participar. Visitando Los Angeles após a cerimônia no ano seguinte, Quintana caiu no aeroporto, bateu com a cabeça, sofreu um hematoma e faleceu em 2005. Didion escreveu sobre a morte do marido e seu luto em O ano do pensamento mágico (2005), premiado com o National Book Award, e sobre a despedida de Quintana em Noites azuis (2011).

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