Talento da música britânica, Sampha fala à ELLE sobre seu novo disco

Com participações em faixas de Solange a Kendrick Lamar, cantor lança seu segundo álbum, "Lahai", seis anos depois de elogiada estreia.


sampha ellebrasil
Fotos: Jesse Crankson



Talvez você não reconheça o nome de Sampha de imediato, mas já deve ter escutado uma das muitas colaborações desse cantor inglês com uma longa lista de artistas que incluem Solange, Beyoncé, Jessie Ware, Drake, Kanye West, Frank Ocean e mais recentemente Kendrick Lamar. “Procuro trabalhar com artistas dos quais gosto da música, essa é a primeira coisa. E tento servir o máximo que posso à visão do outro, o que é diferente de quando estou fazendo minha própria música”, conta à ELLE. “Não tenho uma fórmula, sempre me parece novo. Às vezes, não sei por que as pessoas querem trabalhar comigo (risos). Isso pode me surpreender.” 

Sampha Press Jesse Crankson 12

Compositor, cantor, pianista, produtor e um dos talentos da música britânica, Sampha Sisay, 35 anos, transita entre o R&B, o soul e a música eletrônica. Entre 2010 e 2012, teve uma parceria marcante com SBTRKT, projeto do produtor inglês Aaron Jerome. “Sempre vou amar música eletrônica. Faz parte da música que crio. Acho que é um gênero em que as pessoas sempre tentam fazer algo novo.”

Depois dessa incursão em palcos eletrônicos, de dois EPs (Sundanza, de 2010, e Dual, de 2013) e das colaborações de peso com outros artistas, Sampha lançou em 2017 seu elogiado álbum de estreia, Process. Gravado em meio ao luto de sua mãe, vítima de um câncer dois anos antes, o álbum venceu o Mercury Prize (importante premiação da música inglesa), em que o cantor concorreu com os trabalhos de estrelas do pop como Ed Sheeran e o trio The xx, para o qual abriu shows em turnê pelos EUA no mesmo ano.  

Sampha Press 4 Jesse Crankston

Seis anos depois de Process, Sampha lançou em outubro passado Lahai, álbum batizado com o nome do seu avô – o inglês é filho de imigrantes de Serra Leoa. “Demorou um pouco para eu fazer música novamente, após lançar meu primeiro álbum. Quando estava começando a criar o novo disco, veio a pandemia. E tive a minha filha alguns meses depois. Tudo isso desacelerou bastante as coisas para mim”, conta. “Assim como muitas pessoas, tive que reconfigurar como eu queria fazer música e como fazer as coisas remotamente. Fiquei muito mais em Londres, trabalhei muito com músicos da cidade. O processo do disco foi diferente em comparação a Process.”

“Assim como muitas pessoas, tive que reconfigurar como eu queria fazer música e como fazer as coisas remotamente. Fiquei muito mais em Londres, trabalhei muito com músicos da cidade.”

Gestado desde 2019, o álbum traz letras sobre paternidade, amor e fé, acompanhado por uma sonoridade sofisticada e complexa, que une instrumentos analógicos com sintetizadores, com participações da dupla dupla de cantoras Ibeyi e do músico de jazz Yussef Dayes, entre outros. “Acho que queria expressar parcialmente meu hibridismo, os diversos gêneros musicais que eu gosto, meus diferentes interesses, através da minha própria perspectiva”, diz ele que andou ouvindo recentemente Feminina (1980), disco de Joyce Moreno, além de percussão brasileira. “Não sei se foi consciente, mas queria fazer algo que parecesse complexo, mas também palatável. Mesmo que haja muita coisa acontecendo (na música), tudo está no seu lugar e tem seu espaço”, conta. “Queria experimentar novas técnicas de produção. E foi um processo orgânico, não foi premeditado.”



Lahai conquistou uma posição na lista dos melhores álbuns do ano de publicações como Guardian e Rolling Stone. “Tenho fases em que não leio resenhas (dos seus discos). Depois vejo uma e tenho que buscar outras. É difícil, porque eu não quero me apegar muito ao que as pessoas dizem. Mas respeito a opinião delas. Gosto de tocar ao vivo porque é uma conexão muito pura da música com as pessoas e que ainda não deram uma nota para como minha música as fazem sentir. É como se fosse a vida real, a conexão no nível emocional. Você não precisa escrever nada sobre isso.”

“Tenho fases em que não leio resenhas (dos seus discos). Depois vejo uma e tenho que buscar outras. (…) Gosto de tocar ao vivo porque é uma conexão muito pura da música com as pessoas”

Com o lançamento do disco, Sampha saiu em turnê pelo Canadá, Estados Unidos e Europa, traduzindo o som do álbum para os palcos e se apresentando em um círculo com seus músicos. “Há um elemento de dificuldade. É um disco de nuances, de muitos detalhes. Eu reinterpreto as músicas para fazê-las o melhor possível ao vivo.” E o show acaba se transformando ao longo da turnê. “Às vezes, quando você está muito perto, não consegue perceber o quanto o seu filho está crescendo, até que alguém de fora diz ‘ah, ele cresceu muito’.”

Além dos palcos, o cantor não quis deixar de ver de perto o crescimento da filha, levando ela e sua parceira para os shows pelos EUA. “É muito tempo para não vê-las.” Sampha, que segue em turnê pela Nova Zelândia, Austrália, México, Canadá e Estados Unidos nos próximos meses, conta que fica muito mais saudável nas viagens. “Vou à academia todos os dias, como de forma saudável. Preciso trazer um pouco da minha rotina em turnê para a minha vida cotidiana.”

LEIA MAIS: RÓISÍN MURPHY FALA À ELLE SOBRE SEU NOVO ÁLBUM, MODA E MOLOKO

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes