Yoko Ono ganha a maior retrospectiva de sua obra em Londres
Exposição do trabalho da artista na Tate Modern atravessa sete décadas de produção e evidencia seu ativismo pela paz para além da arte conceitual.
Em 1966, durante uma apresentação em Londres, Yoko Ono quebrou um vaso de cerâmica e pediu para que cada um dos presentes pegasse uma das peças e a levasse para casa, com a promessa de que, depois de dez anos, se encontrariam para colar os estilhaços e remendar o objeto.
A proposição, que ganhou o nome de Promise piece, funcionava para a artista como uma semente, uma ideia que, depois de plantada, seria capaz de ativar a imaginação das pessoas. E estava longe de ser a única idealizada por Yoko. Em seu livro Grapefruit (1964), ela reuniu instruções aparentemente simples, como escutar as batidas de um coração, com outras tarefas impossíveis de serem realizadas. É o caso da Kite piece I, em que se deve pedir a Mona Lisa emprestada ao museu, fazer uma pipa e empiná-la alto o suficiente a ponto de seu sorriso desaparecer no céu.
Yoko Ono na performance 'Cut piece' (1964), apresentada pela artista em 'New works by Yoko Ono', no Carnegie Recital Hall, em Nova York, em 1965 Foto: Minoru 1
A concretização de peças como essas, no entanto, está justamente no uso da imaginação, algo que a artista japonesa, de 90 anos, explorou como ninguém ao ampliar as possibilidades de realização da sua arte para além dos limites da realidade. Não à toa, a maior exposição sobre sua obra já realizada no Reino Unido, com 200 trabalhos, que atravessam sete décadas de produção, chega à Tate Modern, em Londres, nesta quinta-feira (15.02), com o título Music of the mind (Música da mente).
O nome é o mesmo utilizado pela artista para uma série de eventos que realizou na capital inglesa e na cidade de Liverpool nos anos de 1966 e 1977, onde apresentou peças como Bag e Fog machine, nas quais se escondia dentro de um saco e, envolta por uma neblina, era coberta por gaze com a ajuda do público. Em um texto publicado à época, ela explicava o conceito das apresentações: “O único som que existe para mim é o da mente. Meus trabalhos servem apenas para induzir a música na cabeça das pessoas”.
“O único som que existe para mim é o da mente. Meus trabalhos servem apenas para induzir a música na cabeça das pessoas” Yoko Ono
A participação do público sempre foi uma premissa na obra de Yoko. Mesmo em instalações não interativas, como Half-a-room (1967), presente na mostra da Tate e na qual expôs vários objetos cotidianos, como cadeira, mesa e bule de chá, a artista via um convite à colaboração. Cortadas ao meio e organizadas em um único cômodo, as peças foram pintadas de branco para deixar que os espectadores imaginassem suas cores livremente e questionassem a capacidade da visão e do tato em relação à memória e à imaginação para preencher lacunas.
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