Do Pará para o Rock in Rio, Zaynara é estrela pop em ascensão

Às vésperas de se apresentar pela primeira vez no festival, a cantora fala sobre seu beat melody, Joelma e Pabllo Vittar.


Zaynara posando para a câmera
Foto: Anthony Araújo



“No meu sangue tem tacacá”, canta Zaynara em “Sou do Norte”, uma espécie de música-manifesto lançada em abril deste ano. A letra deixa evidente a forte conexão que a cantora de 23 anos tem com o lugar onde nasceu. Natural de Cametá, cidade no nordeste do Pará, ela é uma voz promissora da região, que já revelou Gaby Amarantos e Jaloo, entre tantos outros, e uma das precursoras do beat melody.

“Eu e meu trabalho estamos diretamente conectados ao Pará, o lugar de onde vim, com muito orgulho. Levo isso com honra e amor no coração para todos os lugares que vou – no som, no ritmo, na forma de falar. A minha arte como um todo sempre resgata esse lugar de origem. No final, vira tudo um rio só”, conta Zaynara à ELLE.

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Criada em uma família de músicos (seu pai é o baterista de sua banda), ela canta profissionalmente desde 2019, tem Joelma como sua madrinha e acabou de assinar contrato com a Sony Music. Depois de viralizar nas redes sociais com uma performance no Festival do Psica, em Belém, no ano passado, seu nome chegou a Pabllo Vittar. A drag queen imediatamente virou fã da paraense e topou participar da gravação de “Quem manda em mim”, música de Zaynara que já atingiu quase 2 milhões de execuções no Spotify.

Enquanto prepara seu segundo disco, sucessor de É beat melody (2022), a paraense sobe no palco do Rock in Rio pela primeira vez no próximo domingo (22.09). Em um ano agitado, ela reflete sobre a fama repentina, sua relação com a moda e seus próximos passos. Confira:

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O beat melody

“O beat melody é uma grande fusão de tudo que eu cresci ouvindo e que me moldou como artista. Ele reúne música paraense e de Cametá, mas com uma sonoridade própria, pois temos grandes referências, como o mestre Cupijó, que influenciam diretamente o meu trabalho. Além disso, há elementos de música eletrônica, pop, nacional e internacional. Gosto de chamar o beat melody de meu, porque ele me dá a liberdade de brincar e experimentar como quiser nas músicas.”

A estreia no Rock in Rio

“Para falar de Rock in Rio tenho que dar uma respirada mais forte. Porque fico em êxtase de pensar que eu e minha equipe vamos estar em cima do palco. Será a minha primeira vez no festival e já chego em cima do palco. Ainda é bizarro para mim. Imagina só, eu, aqui do outro lado do país (no Pará), qual era a possibilidade de algum dia ir assistir ao Rock in Rio? Estou muito feliz! Então, podem esperar muita entrega. A gente está fazendo tudo com muito carinho, com muito amor, com muita paixão, com muita verdade. Estamos indo com garra para entregar um show lindo.”

“Sempre fui fã de Joelma. Quem me conhece desde criança sabe o quanto sou alucinada pela artista incrível que ela é”

Joelma como madrinha

“Sempre fui fã de Joelma. Quem me conhece desde criança sabe o quanto sou alucinada pela artista incrível que ela é. Pensar que hoje trabalho com ela e tenho a possibilidade de encontrá-la facilmente me deixa louca. Nos aproximamos por causa da música, tive a oportunidade de cantar com ela no palco e depois começamos a trabalhar juntas. Tudo isso é único para mim.”

A parceria com Pabllo Vittar

“Pabllo é maravilhosa. Sempre que nos encontramos, nos divertimos muito. Ela é engraçada e tem as melhores histórias, além de dar ótimos conselhos. Ser notada por ela na internet foi mágico, porque sempre a admirei. E o Batidão tropical, ainda no volume 1, movimentou tanto a nossa música no Norte (o disco flerta com os ritmos da região e do Nordeste), foi algo tão bom para nós. Me inspirou muito no beat melody que veio depois. Poder contar tudo isso para Pabllo foi maravilhoso, e me sinto feliz por ter lançado uma música com ela. Regravar ‘Quem manda em mim’ e ver que ela gostou e abraçou o projeto foi, e ainda é, incrível. Eu amo a Pabllo.”

Zaynara no clipe de Sou do Norte com credito Guilherme Takshy 5

Foto: Guilherme Takshy

Família de músicos

“Crescer em uma família de músicos foi divertido e me proporcionou um contato natural com a música. O som feito no interior do Pará é algo que não dá para explicar, só vivendo para entender. Pude ver como funcionavam os bastidores e não ficar apenas com a ilusão de subir no palco um dia e me divertir – claro que essa é a parte mais legal. O palco é, literalmente, o meu lugar. Na infância, eu pude conhecer vários lados da música: como funcionavam os ensaios, como era o convívio com os integrantes de uma banda, viajar 12 horas de barco para fazer um show, ver os perrengues, meu pai (Nildo Assunção) negociando cachê… Tudo foi um grande aprendizado para mim. Isso me deu força para seguir quando entendi que a música e a arte eram o meu caminho, algo que amo tanto fazer. Tenho muita sorte de trabalhar com isso, mas o verdadeiro privilégio foi ter vivido tudo isso de perto na minha infância.”

O pai sempre por perto

“Amo meu pai e amo viver o meu sonho junto com ele. Sempre admirei o músico que ele é. Tê-lo comigo nas viagens me dá uma segurança maior. Antes de ser meu baterista, ele é meu pai. Então, se acontecer qualquer coisa, sei que tenho para onde correr. Tenho ali comigo o abraço de alguém que me ama. E isso é muita sorte. Mas a gente também consegue separar bem as coisas. Sabemos dividir o trabalho e a relação familiar, porque somos muito perfeccionistas, muito exigentes com o que fazemos. Gostamos de tudo muito certinho, bem feito, e cobramos isso um do outro. Mas isso nunca interfere na nossa relação. A gente se ajeita, se acerta e, no fim, é muito bom ter ele comigo.”

Zaynara no clipe de Sou do Norte com credito Guilherme Takshy

Foto: Guilherme Takshy

Inspirações

“Existem vários artistas brasileiros que eu adoraria colaborar. Eu sou muito fã da Ivete, IZA e Marisa Monte. E existem vários artistas que moldaram a minha personalidade artística e me influenciam. Lá fora tem a Beyoncé, Jessie J, Demi Lovato, Aretha Franklin, Bruno Mars, Michael Jackson, Tina Turner e muitos outros.”

O próximo disco

“Estou bastante animada para compor minhas próprias músicas (no primeiro disco, ela gravou canções de outros autores). Sempre gostei de escrever e sempre fiz muito texto, poesia, o que vinha na minha cabeça. Mas expor isso nas músicas é completamente diferente. Então, estou deixando o processo fluir. Tô curtindo e adorando encontrar com a galera que gosta de escrever também e que faz isso há mais tempo. Aprendo muito com eles. Tudo pode ser inspiração para a música. Pode sair uma composição desta nossa conversa, de algum texto que escrevi em algum momento, de uma conversa de WhatsApp, de algo que ouvi na rua.”

“Ser uma mulher jovem, do Norte, do interior, é ainda mais babado. Mas não uso isso para me vitimizar”

Ser mulher na indústria da música

“Acho que qualquer coisa para uma mulher é sempre um pouco mais difícil. A gente é cobrada e exigida duplamente. E ser uma mulher jovem, do Norte, do interior, é ainda mais babado. Mas não uso isso para me vitimizar. Na verdade, acho que isso me dá ainda mais força para entender onde acredito que devemos chegar e ocupar os espaços que também nos pertencem.”

A fama repentina

“Sendo honesta, tenho lidado de forma tranquila. Tem o bônus e o ônus, como em qualquer outra coisa na vida. Mas o carinho das pessoas comigo e com o que eu faço supera qualquer ponto negativo que venha com essa exposição maior. O carinho das crianças, principalmente, é o que me dá mais combustível. Eu acho tão bonitinho, porque criança é muito sincera. O abraço e o amor de fã, principalmente na infância, é muito especial. Tudo está sendo incrível para mim.”

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