Zezé Motta, 78 anos e muitos projetos

Atriz e cantora, que acaba de reviver disco "Quarteto Negro" em show inédito, segue em turnê com repertório de Caetano Veloso, se prepara para estrear série baseada em livro de Fernanda Torres, entre filmes inéditos.


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Foto: Jardiel Carvalho



Uma série e “dois ou três filmes” para estrear. Shows em turnê pelo Brasil. Durante a semana, sessões de estúdio para terminar de gravar em audiobook Torto arado (2019), hit literário de Itamar Vieira Junior. E, em meio a essa rotina, ensaios para reviver o Quarteto Negro. O projeto, que 35 anos atrás rendeu um disco, ganhou três shows inéditos no Brasil, dentro da programação do festival Sesc Jazz (SP), neste mês.

É cheia a agenda de Zezé Motta. E, entre o teatro, a TV e a música, sempre foi assim. Dos 78 anos de idade da cantora e atriz, já são 54 desde a estreia, em 1968, no musical Roda Viva, de Chico Buarque. “Minha mãe se foi com 95 anos, no início da pandemia, mas estava muito bem, ativa. Quando perguntavam ‘a senhora não vai ficar velha, dona Maria?’, ela dizia ‘não tenho tempo!’, e eu também não tenho tempo”, disse, entre gargalhadas, à ELLE.

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Foto: Gabriel Carvalho

Entre ensaios para as apresentações do Quarteto Negro no festival Sesc Jazz em São Paulo e Piracicaba, entre 13 e 15.10, com ingressos esgotados, Zezé falou sobre reviver o projeto, lançado originalmente em 1987. Até então, apenas o Olympia, em Paris, havia visto no ano seguinte o show em sua formação original, com Zezé na voz, Paulo Moura (sax e clarinete), Djalma Corrêa (percussão) e Jorge Degas (baixo elétrico) apresentando uma mistura sofisticada de samba com ritmos afro e jazz. No Brasil, Ivan Sacerdote substituiu Moura, falecido em 2010.

A emoção que marcou o início do projeto, 35 anos atrás, também veio à tona nesta retomada. “Naquela época foi uma coisa incrível, eu estava emocionada de estar trabalhando com meus ídolos. E agora também. O Jorge Degas mora na Dinamarca e veio para fazer esse show. Estou muito impressionada com o Ivan Sacerdote, que é jovem, mas muito bom, estudioso, ele se considera aluno de Paulo Moura. O Paulo, onde estiver, deve estar feliz de saber que o disco vai ser ressuscitado e um monte de gente vai ouvir.”

Enquanto não há novas apresentações confirmadas, quem tem o vinil do projeto sabe que guarda um tesouro (é possível ouvir o álbum em plataformas de streaming). “Esse disco é disputadíssimo a tapa, quando tem algum exemplar à venda custa uma nota. No ensaio, falei que tenho o LP e o Ivan Sacerdote contou que nem levou o dele para o ensaio porque tem medo de arranhar.”

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Nascido em comemoração do centenário da abolição da escravatura, em 1888, o disco ganhou essa nova celebração em 2022, em um outro momento emblemático para o país, em meio às eleições presidenciais. E o racismo, infelizmente, ainda como pano de fundo. Em suas redes sociais, a cantora foi vítima de ataques nas últimas semanas após declarar voto em Lula. “É como a questão da Ditadura. A gente passou por tudo aquilo, e um dia acabou. E aí, de repente, tem gente indo para a rua pedir a volta da Ditadura, ameaçando instalar uma novamente. É uma sensação horrorosa, de mil passos pra trás. Parece que foi em vão toda aquela luta, é muito triste”, diz.

“A gente já brigava naquela época contra o racismo. E estamos vendo aí escancaradas violências de racistas, nos campos de futebol, nas redes sociais.” Mas Zezé não se deixa paralisar e, claro, leva também para a arte seu ativismo. Ver a história da escritora Carolina Maria de Jesus em filme é um desejo antigo. “Desde que entrei em contato com essa figura incrível que foi Carolina, acho que todo mundo deveria conhecer a história dela. Ela é um exemplo de vida, de resistência, de luta, de força.”

Por ora, terminada a minitemporada de Quarteto Negro em São Paulo, Zezé está no ar na série Arcanjo renegado (Globoplay), aguarda o lançamento da série Fim (Globoplay), inspirada no livro homônimo de Fernanda Torres, de que participa, e o especial Zezé Motta – Mulher negra, que o canal E! prepara para 2023 em sua homenagem. No cinema, além de três longas em produção e do recém-estreado Fio do afeto, ela está no elenco de Fim de semana no paraíso selvagem, previsto para ser exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo neste domingo (23.10).

À frente dos microfones também não faltam projetos. Em novembro, ela sobe ao palco para apresentações dos espetáculos Negritude (disco seu lançado originalmente em 1979, em que canta sambas) e Atendendo a pedidos, com homenagens a ídolos da MPB. E volta a viajar com o show Coração vagabundo, em que canta músicas de Caetano Veloso. “Já tinha feito esse show 30 anos atrás só no Rio. Agora, estou viajando pelo Brasil. O público ama porque conhece todas as músicas e canta junto. Fico emocionada de ver gente muito jovem que conhece todas as músicas. Caetano é hit!.”

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