Paris Fashion Week: Comme des Garçons, inverno 2025
Reativa à megalomania que domina o mundo – e a moda –, Rei Kawakubo vai além dos entendimentos e possibilidades comum das roupas na coleção de inverno 2025 de sua Comme des Garçons.

“E as pequenas coisas que acontecem por todos os continentes, em todos os lugares? Elas não são globais? Não são grandes? O pequeno pode ser poderoso.” Foram essas poucas frases que Rei Kawakubo, fundadora e diretora da Comme des Garçons, disse a um grupo de jornalistas ansiosos, amontoados em torno da estilista e de Adrian Joffe, CEO e marido.
Kawakubo não fala inglês (diz que), então toda a comunicação é feita por meio de traduções do executivo. Ele explicou que ela está um pouco cansada de tudo grande: grandes negócios, grandes culturas, grandes sistemas globais. Em uma entrevista semanas antes do desfile do último sábado (08.03), Adrian contou que Rei sempre foi reativa a acontecimentos sociopolíticos – só que isso tem se tornado cada vez mais frequente e intenso.
Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images

Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Não é preciso ser um grande estudioso acadêmico para entender o porquê. Para bom entendedor, meia palavra basta, né? O mundo está um caos (para não dizer um horror). Faz tempo que o macro oprime o micro e que o imperialismo segue na operação neocolonial. E desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, jogando anos de acordos e boas maneiras diplomáticas no lixo, em prol de um nacionalismo de ultradireita.
O desfile começa ao som do canto de mulheres e crianças búlgaras. As músicas, segundo Adrian, são comuns em comunidades do interior durante a plantação e colheita de produtos agrícolas para subsistência. É difícil encontrar metáfora melhor para a cultura independente e coletiva desta empresa de origem japonesa.
Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images

Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images

Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images
Os primeiros looks são inspirados em peças de alfaiataria: um terno risca de giz com tiras verticais onduladas, como que em processo de liquefação. Um vestido com saia, que parece feita de vários paletós dobrados, com os ombros perpendiculares à circunferência do quadril. Aos poucos, chegam as cores: brancos, vermelhos, vinhos, roxos, rosa. Entram também os florais, os xadrezes, os tecidos acetinados, as transparências e mais um tanto de formas, materiais e elementos.
O denominador comum é a vontade – já bem conhecida na Comme des Garçons – de extrapolar as barreiras do que se entende por e como roupa para tentar chegar a algo novo, ou ao menos com mais força de expressão criativa, emocional e cultural.
Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images

Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images

Comme des Garçons, inverno 2025. Foto: Getty Images
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Não por acaso, é um movimento recorrente nesta temporada da Paris Fashion Week. E não só por parte de marcas famosas por pensar fora da caixa, como Rick Owens, Issey Miyake, Junya Watanabe e a nova geração (Alaipaul, All-In, Hodakova, Zomer e cia). A experiência tem pautado coleções de etiquetas bem mainstream, vide a estreia de Sarah Burton na Givenchy, além de Schiaparelli, Alaïa e Dior.
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