Dior, Cruise 2025
Maria Grazia Chiuri leva a coleção cruise 2025 da Dior para Escócia após quase 70 anos do último desfile da marca no país. Na passarela, passado e presente se misturam em looks cheios de desejos.
Continuando a volta ao mundo dos desfiles de meia-estação, a Dior apresentou sua coleção de cruise 2025 na segunda-feira (03.06), nos jardins do castelo Drummond, em Perthshire, na Escócia. Como de costume, a locação serve não só de pano de fundo, mas de inspiração. Além de releituras de símbolos regionais, como os unicórnios, os cedros, o tartan e o argyle, elementos da estações anteriores também são reinterpretados.
O espírito jovem estudantil – influência forte do inverno 2024 – é substituído pela irreverência nonchalance do punk dos anos 1980 e pelo grunge dos anos 1990. Os trench coats, outra peça-chave da estação passada, são cortados com base em casacos do século 16, com a parte da frente mais curta e barras curvilíneas. Até a silhueta do New Look ganha licença poética com versões de kilts no lugar da saia.
Christian Dior e modelo no desfile da marca na Escócia, em 1955. Foto: Getty Images
Convidados atrasados assistem, do lado de fora do salão, ao desfile da Dior na Escócia, em 1955. Foto: Getty Images
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Já faz um tempo que a diretora de criação Maria Grazia Chiuri pensa em fazer um desfile no país do Reino Unido. De um lado, tem a relação do próprio Christian Dior com a região. Em uma de suas primeiras coleções, a de inverno 1947, ele deu nome de Écosse a um dos vestidos. Em 1951, fez uma apresentação de verão em Perthshire, feito que se repetiu em 1955, em um baile beneficente no The Gleneagles Hotel. Para a ocasião, o francês levou oito modelos, seis profissionais da sua equipe e 172 vestidos de Paris para Edimburgo. Algumas fotos do evento foram estampadas ou bordadas em peças da coleção cruise 2025.
Do outro, tem toda uma questão econômica e comercial. A Escócia é conhecida pela produção de tweed, cashmere e outras tramas de altíssima qualidade. Muitas delas, usadas pela marca. A tour de Monsieur por lá tinha o objetivo de visitar, apoiar e conversar com fornecedores para melhor atender as necessidades de ambas as partes. Maria Grazia fez algo similar ao visitar e colaborar com produtores e artistas locais. Os tweeds e cashmeres são da Johnstons of Elgin, algumas malhas também de cashmere foram feitas pela Esk Cashmere, os chapéus cerimoniais são de Robert Mackie, e tem ainda um tweed superresistente da Harris Tweed.
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Fora isso, tem o consumo local. Pesquisas apontam um crescimento considerável do mercado de luxo no Reino Unido. As três principais indústrias responsáveis pelo aumento nas vendas e receitas são as automobilística, alimentícia e de moda. E adivinha? O tipo de produto de maior sucesso são justamente os que se conectam com algum tipo de herança ou tradição.
Outra explicação para a viagem à Escócia é a historiadora e artista Clare Hunter. Maria Grazia começou a colaborar com ela em 2020, depois de ler seu livro Threads of Life: A History of the World Through the Eye of a Needle (Fios da Vida: Uma História do Mundo Através do Buraco de uma Agulha). Lançada em 2022, sua publicação mais recente, Embroidering her Truth: Mary, Queen of Scots and the Language of Power (Bordando sua verdade: Maria, Rainha da Escócia e a Linguagem do Poder), foi uma das principais inspirações da estilista para o cruise 2025 da Dior.
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
No livro, Clare narra a biografia da rainha Maria Stuart ou Maria I (1542 – 1587) fazendo um paralelo entre suas vestimentas e suas habilidades como bordadeira para falar do silenciamento das mulheres no decorrer da história. É que a vida da herdeira do trono escocês foi cheia de traições, assassinatos, perseguições e disputas de poder. E foi por meio de tecidos e bordados que ela expressou sua agenda política, linhagem real e força feminina.
Vêm daí as referências aos trajes da Renascença, às armaduras, aos brasões, às rendas. Formas, cores, composições e símbolos são uma homenagem direta à resiliência da monarca. Outra referência, são os bordados com comentários sobre equidade de gênero do presente e passado. Inspirados nas cerâmicas dos séculos 16 e 17, eles são fruto de uma parceria com a artista Pollyanna Johnson.
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
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Presentes nas listas de tendências há algumas temporadas, os crosets têm posição de destaque no cruise 2025 da Dior e são mais uma referência ao passado monástico da Escócia. Alguns vêm com frases e insígnias bordadas, outros ganham zíperes em leitura esportiva, ou aparência punk romântica.
Maria Grazia Chiuri adora um conto de fadas e referências de séculos passados. Tudo isso aparece entre os 89 looks da coleção, mas são as interpretações de estilos urbanos – alguns bem característicos das culturas de rua de Edimburgo – as responsáveis por trazer um leve frescor às propostas da estilista.
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Dior, cruise 2025. Foto: Divulgação
Pessoa essencial a essa imagem fresca, atual e reverencial ao mesmo tempo, é a designer escocesa Samantha McCoach. Dez anos atrás, ela e sua avó italiana fundaram a Le Kilt, marca dedicada à produção de kilts tradicionais, suéteres de cashmere e boinas. São dela os modelos da “saia” com aparência mais rústica do que de costume (elas são feitas a partir de uma trama especial de cashmere, não de tartan). Apresentada à diretora de criação por sua filha, Rachele Regini, McCoach serviu ainda como uma espécie de consultora sobre a cultura e costumes de seu país de origem.
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