Dior: a história, a importância e os ícones da marca

Saiba como a Dior revolucionou a moda desde a sua criação, nos anos 1940, e conheça seus ícones de estilo – das it-bags às cores emblemáticas.


O estilista Christian Dior faz ajustes na roupa de uma modelo, em 1949.
Christian Dior Foto: Getty Images



“This is a new look!”. Foi por essa expressão, cunhada pela editora de moda estadunidense Carmel Snow, em 1947, que a primeira coleção de Christian Dior, batizada originalmente como Linha Corola, ficou conhecida – e revolucionou a moda no pós-guerra.

O novo visual criado por Dior e exaltado por Carmel era de fato inédito, impensável até para o período em que foi desfilado: consistia em roupas extremamente femininas, costuradas a partir de metros e metros de tecidos, numa época em que as pessoas (e as marcas) saíam do racionamento de matérias-primas imposto pelos conflitos na Europa. Em uma única palavra, luxo.

Nascido em 1905, em Granville, no interior da França, curiosamente, o próprio Dior chegou a ser convocado para a Segunda Guerra Mundial, mas nem isso fez com que perdesse o entusiasmo pela beleza, um ideal que pautou a sua vida desde a infância até 1957, ano de sua prematura morte.

Apaixonado por estética, fez sua primeira incursão no mundo das belas artes em 1927 – abriu uma galeria de arte, onde chegou a expor trabalhos de Christian Bérard e Jean Cocteau. Alguns anos depois, em 1935, passou para o outro lado do balcão e começou a desenhar croquis para a seção de alta-costura do jornal parisiense Figaro Illustre. 

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Christian Dior. Foto: Getty Images

Era o início de uma carreira meteórica, pautada pelos pilares que até hoje sustentam o estilo Dior: simplicidade, sofisticação e cuidado.

“Escolha roupas que sejam simples na silhueta e preste muita atenção no caimento. E acima de tudo, cuide das suas roupas”, escreveu Christian Dior em The little dictionary of fashion, um pequeno livro, publicado em 1954, com grandes conselhos do couturier.


Como a Dior ficou famosa?

 

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Artesãs da Dior, em 1957. Foto: Getty Images

Dos primeiros desenhos de Christian Dior às roupas que o eternizaram na história da moda, a verdade é que se passaram apenas três anos. Em 1938, Dior começou a trabalhar como assistente do estilista Robert Piquet e, em 41, entrou para a equipe de Lucien Lelong, até criar sua marca própria, em 1946, com a ajuda do empresário Marcel Boussac. 

Em 12 de fevereiro do ano seguinte, boom: apresentou sua primeira coleção, com o “new look” do tailleur Bar, conjunto de jaqueta e saia, sendo divulgado com entusiasmo pela impressa e, posteriormente, usado pelas maiores celebridades da época –  pense em Brigitte Bardot, Marlene Dietrich, Edith Piaf, Lee Radziwill e a princesa Grace de Mônaco, entre outras mulheres.

O luxo sem fru-fru e a feminilidade extrema, quase mulher-flor, propostos por Dior, arrebataram a plateia. Nunca até então um estilo de roupa chegou tão rápido às ruas, se transformando em padrão de estilo, e dividindo a moda em antes e depois. 


Qual é o estilo da marca Dior?

 

Dior: desfile de inverno 2023

Desfile do inverno 2023. Foto: Getty Images

Embora o tailleur Bar, que tem esse nome em homenagem ao bar do hotel Plaza Athénée, em Paris, seja de fato a roupa mais famosa da Dior, reinterpretada até hoje por Maria Grazia Chiuri, a atual diretora da casa e primeira mulher a assumir o posto, o estilista francês deixou um legado imenso à moda, incluindo sua visão de business.

Em 1949, por exemplo, a Dior já tinha uma casa de prêt-à-porter de luxo do outro lado do oceano, em Nova York, e um perfume pronto para licenciamento. Em 54, abriu um espaço em Londres, e até 1957, ano da morte de seu fundador, eram inacreditáveis 28 ateliês e 1200 funcionários. 

Dentre as criações memoráveis do designer, destacam-se vestidos coquetel, quase sempre com silhueta em A (Linha A), bem ladylike, longos coluna, prontos para festas, e jaquetas: “A jaqueta Box é quase tão importante quanto um terno. Ela camufla quase tudo e é sempre elegante. Eu amo jaquetas box”, continua Dior em seu Pequeno dicionário.

 

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Caracas, vestido da coleção de verão 1956. Foto: Getty Images

Mais: estampas florais – ele era um apaixonado por jardins –, laços e padronagem de leopardo são elementos-chave do estilo Dior, que sobreviveu ao seu fundador e tem passado de geração a geração praticamente intacto.

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Pre-fall 2021. Foto: Divulgação

Do terno masculino usado por mulheres, novidade apresentada na coleção de 1951, aos acessórios, passando, claro, pelo tailleur Bar, a Dior, parte do Grupo LVMH desde 1984, é uma das maiores marcas da moda de luxo em todo o mundo e uma lançadora de tendências, que apresenta coleções de prêt-à-porter, alta-costura, masculino e feminino.    


A Dior hoje

 

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Maria Grazia Chiuri. Foto: Getty Images

Desde julho de 2016, a italiana Maria Grazia Chiuri (ex-Valentino) é a diretora criativa da casa. 

Sob o comando dela, a Dior vem incorporando um discurso mais feminista – da camiseta We should all be feminists (todos nós devemos ser feministas) às homenagens a artistas mulheres, como a ucraniana Olesia Trofymenk (inverno 2023) e a portuguesa Joana Vasconcelos, responsável pela cenografia do inverno 2024. 

E, sem dúvida, ela é uma das que mais souberam honrar o legado de monsieur Dior, resgatando shapes, estampas e cartela de cores. É herança que fala?

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Chiara Ferragni com a camiseta Dior. Foto: Getty Images


Como aderir ao estilo Dior?

 

Seja com a ajuda de um bom acessório ou adaptando dicas deixadas pelo próprio estilista, é possível conquistar um look Dior, com direito a perfume – item importantíssimo, segundo Christian Dior. Confira: 

Masculino x feminino

 

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Inverno 2024. Foto: Getty Images

Embora seja o rei da feminilidade, Christian Dior ensina que a elegância mora no equilíbrio. Tanto nas coleções assinadas por ele, quanto nas atuais, os vestidos (muitos com bolsos!) dividem espaço com uma alfaiataria perfeita. Ou seja: a ideia é ter um guarda-roupa que contemple festas e trabalho, mais atual do que nunca, não é mesmo? 


Cinza e rosa: suas cores favoritas

 

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Alta-costura verão 2023. Foto: Getty Images

Assim como outros estilistas famosos, Christian Dior também tinha suas cores favoritas, que você pode facilmente incorporar. Se para Valentino, é o vermelho, e para Yves Saint-Laurent era o marinho, Dior elegeu o rosa e o cinza – que tingiam desde o seu ateliê, na Avenue Montaigne, até os seus tecidos. 

Predileção justificada: criado na Normandia, a mansão de sua família era cor-de-rosa e vivia em contraste com o céu nublado do Canal da Mancha. Além disso, Maria Antonieta, rainha francesa que era uma referência de estilo para Dior, tinha devoção ao cinza, “a mais conveniente, usável e elegante cor neutra”, segundo o estilista.

 

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Desfile masculino do verão 2023. Foto: Getty Images

John Galliano, que comandou a casa entre 1996 e 2011, valorizou a cartela deixada pelo fundador no desfile de alta-costura de 2005, e Maria Grazia Chiuri aplicou o cinza até mesmo na coleção resort 2024 e na alta-costura do inverno 2023, incluindo suas variações metalizadas.


A Lady Dior

 

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A princesa Diana, em 1995. Foto: Getty Images

E o que falar dos acessórios Dior? Ainda que não tenha sido desenhada por Christian Dior, a Lady Dior é claramente uma homenagem ao fundador da marca. Criada nos anos 1990, ela tem pespontos característicos que remetem à palha trançada das cadeiras em estilo Napoleão III que Christian Dior escolheu para decorar seu ateliê. 

Lançada com o nome Chouchou, foi rebatizada em 1995, quando a princesa Diana desceu de um avião com a bolsa na mão. O acessório virou uma das peças favoritas de Lady Di e até hoje ganha reinterpretações nas mais variadas cores e até em versões artísticas – a cada estação, o projeto Dior Lady Art dá a pintores, escultores e designers carta branca para transformar este ícone em uma obra de arte exclusiva. 


A revolução da bolsa Saddle

 

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Cha Eun-woo com uma das versões da Saddle. Foto: Getty Images

Outro xodó das mulheres elegantes ou fashionistas que hoje usam a marca é a bolsa Saddle. Invenção de John Galliano para a temporada de primavera 2000 da Dior, a Saddle virou a favorita da geração Y2K, fazendo parte, inclusive, da série mais fashion de todos os tempos, Sex and the city. E sendo carregada até por Beyoncé! 

Reintroduzida na passarela do inverno 2018 por Maria Grazia, a Saddle voltou recentemente ao patamar de it-bag, com direito a resgate da estampa de leopardo, tão querida por Christian Dior, e técnicas artesanais. Se a Saddle de Galliano era mais pop, em versões denim e estampa de camuflagem, a de Chiuri tem acabamentos preciosos, como patchwork e bordados, e alças mais alongadas e removíveis.

Resultado: sucesso de público, esteve entre os itens mais vendidos do ano, segundo o site Lyst, e passou a ser usada das mais diversas maneiras: de jeans e regata básica a festas, passando pelo aerolook. Acessórios, vale lembrar, são sempre portas de entradas para grifes e hoje podem ser adquiridos também em locais especializados em second hand. 


O sucesso dos perfumes Dior

 

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Miss Dior, 1963. Foto: Getty Images

“Eu acredito que ter um perfume lindo é tão importante para as mulheres quanto ter uma roupa linda. E não pense que você tem que ter um perfume só para você, sua casa inteira pode ter o cheiro dele, especialmente seu quarto”, aconselha Christian Dior.

Ainda em 1947, junto com a primeira coleção de alta-costura, o estilista convidou o perfumista Paul Vacher para desenvolver uma fragrância sofisticada e atual, que representasse mulheres livres e independentes (no zeitgeist do pós-guerra). Resultado: um chipre verde, que equilibrava frutas cítricas, flores e patchouli. 

Miss Dior, uma referência à irmã favorita do costureiro, Catherine, se tornou um ícone, best-seller da perfumaria, e ganhou uma nova versão em 2021, em que a grande estrela é a “sweet love”, uma rosa aveludada. 

Outro que entrou na lista de perfumes mais famosos do mundo – e que pode ser sua assinatura olfativa – é J’Adore da Dior. Criado em 1999, na virada do século, ele tem notas florais e frutadas, essência de rosa Damascena da Turquia e um frasco que ecoa a silhueta 8 característica da primeira coleção de Christian Dior – sim, a do tailleur Bar.


A paixão pelas flores

 

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Coleção La Rose. Foto: Reprodução

Dos perfumes aos bordados e joias, flores são um bom caminho para aderir ao estilo Dior. Nas mãos de Victoire de Castellane, diretora do ateliê de joias da Dior,  por exemplo, rosas e até seus espinhos ganham destaque. Na alta-costura, por sua vez, elas aparecem bordadas em efeito 3D delicadíssimo, fazendo jus aos jardins da casa da infância do estilista – dizem que ele tinha pelo menos 20 espécies diferentes de rosas. 

Atemporais, rosas ganharam um revival com a personagem de Sarah Jessica Parker em Just like that e têm invadido também o guarda-roupa masculino, vide as últimas semanas de moda.


Clássicos nunca morrem

 

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Alta-costura inverno 2022. Foto: Getty Images

Por fim, e de volta às lições do mestre, na dúvida, escolha o certeiro. Assim como flores e leopardo, xadrez, tweed e tartan estão entre as padronagens “very Dior”, e elegância não tem a ver com dinheiro.

“Essa é uma palavra que precisaria de um livro inteiro para defini-la. Eu apenas direi agora que elegância deve ser a combinação certa entre distinção, naturalidade, cuidado e simplicidade. Fora isso, eu acredito que não existe elegância, apenas pretensão.”   


Bônus: como saber se uma bolsa Dior é original?

 

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Além do design e da qualidade da matéria-prima, preste atenção nos itens que comprovam a autenticidade de uma peça. O primeiro é o cartão de autenticidade, que vem junto com a bolsa. Cheque também o número de série na etiqueta interna e fique atento à grafia da logomarca – muitas cópias não têm acesso às mesmas fontes usadas pelas grandes maisons e o resultado fica aquém do esperado. Saiba mais aqui. 

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