NYFW: Alaïa, verão 2025
Com o primeiro desfile de moda no Museu Guggenheim, a Alaïa relembra sua conexão com os EUA e o sportswear americano.
Pouco depois de lançar sua linha de prêt-à-porter, Azzedine Alaïa foi convidado pela loja de departamentos Bergdorf Goodman para realizar um desfile em Nova York. Era setembro de 1982, e a apresentação foi um sucesso. Na verdade, ela foi essencial para garantir a expansão da marca.
Avançando para 2024, mais precisamente para a noite de sexta-feira, 6 de setembro. Sob a direção criativa de Pieter Mulier e administração do grupo Richemont, a Alaïa retornou a Nova York – e em uma locação especialíssima: a marca foi a primeira a desfilar no Museu Guggenheim em seus 85 anos de fundação.
A coleção de verão 2025 é basicamente uma interpretação do sportswear americano. Ou seja, peças simples, fáceis, práticas e leves, mas construídas de forma sensual, com atenção especial ao corpo feminino em movimento.
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
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Há minissaias de cintura baixa com tops de faixa, chemises com saia plissada, calças volumosas de tecido transparente ou jeans, macacões com capuz, vestidos-camiseta, casacos felpudos e looks esculturais de chiffon plissado.
Azzedine Alaïa ficou conhecido por roupas ajustadas, sem muitas costuras, fechos ou complicações. Isso, de certa forma, está alinhado com a praticidade da moda criada por estilistas estadunidenses, principalmente a partir da metade do século 20. Alaïa era um grande admirador da moda dos EUA e colecionava uma variedade de peças de estilistas locais.
Boa parte das roupas da coleção de verão 2025 da Alaïa não possui zíperes ou botões. Tudo é ajustado ao corpo com elásticos ou pela própria construção da peça. Os tops com recortes no meio, por exemplo, são presos ao torso quase como se coloca uma pulseira no pulso.
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Isso não é pouca coisa. Requer muito – mas MUITO – estudo, conhecimento, técnica e habilidade. A excelência e a excepcionalidade de Azzedine estavam justamente aí. Suas roupas respeitavam e enalteciam o corpo feminino, com uma equação de poder, segurança, conforto e sensualidade que era complexa na execução, mas simples na aparência. Em outras palavras, elas não exigiam, nem aparentavam, esforço algum. Podiam estar – e estavam – tanto em um tapete vermelho quanto em qualquer outro evento social. Elas existiam independentemente da circunstância e da usuária.
Foi um vestido espiralado da coleção de inverno 2024, aquele usado por Zendaya em fevereiro, na estreia de “Duna: Parte 2”, em Paris, que garantiu a locação do Museu Guggenheim. Feito de lã merino com impressão 3D, ele lembra a construção do museu em Nova York. A própria instituição entrou em contato com Pieter para elogiar a criação. E como os EUA são o principal mercado consumidor da marca – eles abriram uma loja em Nova York no ano passado –, surgiu a ideia de retomar a conexão com o país. E aí bastou um telefonema.
As formas do prédio projetado pelo arquiteto Frank Lloyd Wright aparecem novamente em alguns looks da coleção: na costura de um casaco jeans, na silhueta de um vestido plissado com saia assimétrica e nas jaquetas felpudas.
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
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Mas isso é apenas um detalhe. O ponto é que aquele vestido, o La Robe Spirale, praticamente não existe fora de tapetes vermelhos ou eventos do tipo. Os vestidos plissados que “flutuam” sobre o corpo devem ter o mesmo destino. Sem dúvidas, roubam a cena, porém são bem menos interessantes do que as versões mais práticas propostas por Pieter.
Comparações entre antecessores e sucessores são complicadas e quase sempre injustas. Neste caso, mais ainda. Azzedine Alaïa era uma exceção. Sempre resistiu às imposições do sistema, fazia o que queria, no seu tempo, do seu jeito, e não se importava com a comunicação.
O estilista tunisiano radicado em Paris faleceu em novembro de 2017. A marca já pertencia ao grupo Richemont, mas foi só em 2021 que Pieter Mulier foi nomeado diretor criativo. Desde então, ele tenta atualizar a filosofia e o estilo do fundador para um contexto em que a imagem e a narrativa valem mais do que a roupa em si.
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
Alaïa, verão 2025. Foto: Divulgação
É triste? Talvez. Depende do ponto de vista. Porém, analisando friamente, o modus operandi de Azzedine Alaïa não se encaixa – ou não está se encaixando – no mundo atual. A simples reprodução do que já foi seria um erro.
Apesar das pressões e comparações (eu é que não gostaria de estar nesse lugar), as estratégias de marketing e comercial de Pieter Mulier e da CEO Myriam Serrano faz sentido. Se não fizesse, não estariam abrindo mais três lojas nos EUA, em Beverly Hills, Las Vegas e Miami. E o mais importante, são propostas com identidade – hoje isso é uma raridade.
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